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18 de mar. de 2014

Saudades...

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30 de jan. de 2013

Afetividade e humor

Afetividade e Humor
Conceição Trucom *
É incontestável que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação; e conseqüentemente, perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas, na minha opinião, não é suficiente - Jean Piaget.
afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, as emoções e os sentimentos e reflete sempre a capacidade de experimentar e aprender com todas as suas tonalidades. O humor é uma tonalidade afetiva que acompanha os processos psíquicos, dando colorido à cognição, às percepções, aos conceitos, etc.
O estado psíquico global como a pessoa se apresenta e vive reflete a suaafetividade. Tal estado interfere na realidade percebida por cada um, mais precisamente, na representação que cada pessoa tem do mundo, e de si mesma.
afetividade é quem desencadeia os impulsos motivadores ou inibidores, percebe os fatos por uma ótica otimista ou pessimista, com entusiasmo ou indiferente e sob carga emocional que pode oscilar entre dois pólos, onde os extremos são a depressão e a euforia.
afetividade é quem sustenta (nutre) a forma da pessoa se relacionar com a vida e, será através da tonalidade de afeto (ânimo ou humor) que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente a afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e toda a conduta do indivíduo.
Se o que vivenciamos a cada momento está sendo agradável ou não, prazeroso ou não, etc., todos emoções ou sentimentos “significados” pela afetividade.
Será através da nossa capacidade de afeto que o mundo, no qual vivemos, chega até nossa consciência com o significado emocional que tem para nós.
Enquanto o oxigênio, a água e o alimento sutentam a vida, será a afetividade (ânimo ou humor) quem dará sentido à vida.
afetividade pode ser comparada com as lentes dos óculos, através das quais enxergamos emocionalmente nossa realidade. Através dessas lentes podemos perceber a realidade com mais clareza ou não, com mais dor ou não e assim por diante.
Existem estados afetivos onde a pessoa “enxerga” sua realidade via óculos escuros, ou seja, tudo é percebido como cinza, escuro e nublado. E, existem estados onde a realidade é percebida como se a pessoa estivesse usando óculos cor-de-rosa, onde tudo é mais colorido, exuberante e brilhante. Alguns vêem o mundo por uma lente de aumento, onde as questões tomam dimensões desmesuradamente ampliadas. E para outros, nada os atinge.
Tendo em vista o fato da afetividade (lentes dos óculos) ser diferente para cada pessoa, algumas sofrerão mais que outras diante de um mesmo desafio. Devido a essa subjetividade afetiva, cada pessoa reage à “realidade” de maneira muito pessoal e distinta.
Podemos pensar na afetividade como o tônus energético capaz de impulsionar o indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento do ser com sua vida e o humor necessário para conferir uma determinada valoração às suas experiências. A afetividade colore com matizes variáveis (humores) todo relacionamento do sujeito com o objeto, faz com que os fatos sejam percebidos desta ou daquela maneira e que despertem este ou aquele sentimento.
O que é normal?
Em condições normais, a cada situação da vida, sempre estamos vivendo um “estadoafetivo momentâneo” (um estado de humor ou ânimo). Cada pessoa coloca valores às suas vivências, seja a tristeza diante de uma perda ou a alegria por uma linda conquista. Este estado afetivo momentâneo é variável a cada momento da vida de uma mesma pessoa: pela manhã o humor dele estava elevado, e à tarde despencou. Dependendo do dia e da hora, um mesmo fato pode nos provocar diferentes humores(ânimos), reatividades.
Ou seja, é normal, enquanto em processo evolutivo, que o humor oscile entre oafeto deprimido, normal (neutro) ou elevado (eufórico). E a esta oscilação, desde que dentro de limites normais, é chamada afetividade momentânea.
Entretanto, quando estas mudanças de humor são extremas, inesperadas, destrutivas e doentias, como é o caso da depressão prolongada, do mau humor crônico ou do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB - que oscila do profundamente deprimido ao exageradamente eufórico), deixa de ser normal para ser uma patologia ou doença.
Deve ficar claro que a afetividade não pode ser simplesmente submetida à influência da razão ou da vontade, porque ninguém deseja voluntariamente ter um afetodepressivo, como também, dificilmente alguém conseguirá melhorar seu estadoafetivo simplesmente porque um amigo lhe deu bons conselhos e palavras de otimismo. 
O que é ideal?
Bem, este é o desafio da nossa presença aqui na terra: o equilíbrio, mais que isso, a neutralidade. Diante de uma perda importante, podemos ficar tristes, porém em paz, jamais deprimidos. Diante de uma superação (como a cura de uma doença ou a conquista de um cargo), podemos ficar felizes, mas em paz, jamais eufóricos.
Esse estado ideal é fruto de uma busca espiritual, cuja meta é o despertar ou expansão da consciência. Segundo o budismo é o desapego pelos desejos. É quando reconhecemos que nossa vida é apenas um script para chegar no estado de Ser, de paz, de amor.
Nesse estado é possível, com uma mente relaxada (porém extremamente lúcida), viver a experiência da entrega. Ele será mais frequente e intenso quanto mais buscarmos o estado de alerta, de viver o aqui-e-agora, de meditação.
É óbvio que quando o ponto de partida são as pessoas "normais", tal conquista é bastante difícil, pois exige muita determinação, comprometimento e coragem. Muita meditação e abstração. Mas, nosso senso de coerência sabe que é POSSÍVEL.
Quando o humor está mais alterado (polarizado) por uma perda significativa ou grande desafio, considero este "o grande momento" de exercitar ações pró-vida, pró-saúde global.
Entretanto, quando existe um quadro patológico, a distância até o "ideal" é maior e torna-se fundamental o uso de muitas ferramentas, ou seja, o tratamento precisa ser multidisciplinar.
Primeiramente, o objetivo é que a pessoa passe a se conhecer melhor e reconheça as dinâmicas dirtorcidas das suas emoções, que levam à depressão e outras doenças dohumor. Através desse auto conhecimento o objetivo é que a pessoa passe a se relacionar melhor com a "realidade" e consigo mesma. Neste caso, a afetividadepode ser melhorada e tratada mediante os seguintes procedimentos:
  • - através de práticas psicoterápicas e psicopedagógicas de aperfeiçoamento da personalidade, - alimentação adequada para dar suporte à expansão da afetividade e da consciência,
  • - atividades corporais que estimulem a respiração, a meditação, o relaxamento e os exercícios do riso com estímulos cerebrais. Aqui não é indicado provocar o riso, mas realizar somente os exercícios preparatórios,
    - em caso de patologias de longa duração (ou mesmo genéticas), com a utilização de medicamentos que atuam nos neurotransmissores e nos neuroreceptores cerebrais.
Patologias do Humor
Nos transtornos de afetividade e humor, a alteração psicopatológica encontrada se caracteriza pelo fato de que a pessoa tende, de maneira constante, a se colocar de forma radical e intensa entre dois pólos afetivos.
Pólo expansivo: ocorre uma superficialização dos afetos, o indivíduo está otimista, apresenta ressonância ao prazer, há onipotência, com vivências de vitalidade, sucesso, ganho, etc.
Pólo depressivo: os afetos são profundos, há tendência ao pessimismo, a ressonância afetiva é com o desprazer. Há sentimentos de impotência, insuficiência, menos-valia, as vivências ligam-se aos temas de morte, perda, culpa, insucesso, etc. Os indivíduos se queixam de que viver é um "pesadelo difícil, arrastado e que as horas não passam".
Estados afetivos doentios
Depressivo (hipotimia): os pacientes se queixam de que tudo está mais difícil e pesado que antes. Diminuição da intensidade dos afetos, do ânimo e, de regra, associada ao retardamento da excitabilidade afetiva, que pode levar a uma incapacidade de sentir prazer (anedonia). Há persistente aumento da duração de certos sentimentos de tonalidade sombria e desagradável. Ocorre nas síndromes depressivas: nos transtornos do humor, nos transtornos mentais orgânicos com sintomas depressivos (hipotireoidismo, tumor de cabeça e de pâncreas), etc.
Eufórico (hipertimia): os pacientes referem que "tudo está mais colorido, leve, fácil e rápido. Têm o ânimo elevado. Apresentam aumento da ressonância ao prazer, otimismo imotivado e se envolvem em atividades de risco. Podem ocorrer irritação , onipotência, delírios de grandeza, etc. Aumento da intensidade e duração dos afetos, apresenta-se associada à aceleração da excitabilidade afetiva, espontânea ou aos estímulos. Ocorre nas síndromes maníacas: no transtorno bipolar, hipertireoidismo, no início de intoxicações exógenas (álcool, anfetaminas, cocaína), etc.
Ansioso: temeridade imotivada, apreensão. Provocado por transtornos de ansiedade, hipertireoidismo, cafeinismo, etc.
Delirante: os pacientes relatam "que há algo de estranho no ar". Há uma modificação e um aumento do sentimento de significado das coisas. Pode ocorrer no início da esquizofrenia.
Conceição Trucom é química, cientista, palestrante e escritora sobre temas voltados para a alimentação natural, bem-estar e qualidade de vida.
Reprodução permitida desde que mantida a integridade das informações e citada a autora e fonte: www.docelimao.com.br

http://www.docelimao.com.br/site/sindromes-do-feminino/141-afetividade-e-humor

1 de nov. de 2011

Eutimia - humor normal

http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=252
Eutimia é o equilíbrio do humor, quando a consciência se acompanha de sentimentos equilibrados, nem exaltados e nem deprimidos.


A palavra grega Eutimia significa equilíbrio do humor (eu=normal; timo=humor). A partir da última CID (Classificação Internacional das Doenças) aparece o termo Distimia (dis=alteração) classificado como um dos tipos de Transtorno Persistente do Humor, onde a principal característica é a tendência constitucional do paciente em viver sob uma tonalidade afetiva tendendo à depressão, durante a maior parte do tempo. Por isso está incluída nos transtornos ditos Persistentes.

Saber exatamente quando o termo Eutimia aparece na história dos sintomas humanos é difícil mas, na obra do filósofo romano Sêneca (4aC-65dC) podemos ter uma idéia da importância do equilíbrio do humor na vida das pessoas.

Em A Tranqüilidade da Alma, Sereno pede à Sêneca uma orientação sobre importante questão existencial, uma espécie de inconstância da alma que o incomodava. Sêneca responde que "o objeto de tuas aspirações é, aliás, uma grande e nobre coisa, e bem próxima de ser divina, pois que é a ausência da inquietação.

Os gregos chamam este equilíbrio da alma de "euthymia" e existe sobre este assunto uma muito bela obra de Demócrito. Eu o chamo "tranqüilidade" pois é inútil pedir palavras emprestadas para nosso vocabulário e imitar a forma destas mesmas: é a idéia que se deve exprimir, por meio de um termo que tenha a significação da palavra grega, sem no entanto reproduzir a forma."

Portanto, pode ter sido esta uma das primeiras vezes que a psiquiatria conheceu a palavra Eutimia, para a qual Sêneca encontra como correspondente latino a idéia de tranqüilidade ou a ausência de inquietação.

Em seguida, Sêneca diz o que entende por tranqüilidade "Vamos, pois, procurar como é possível à alma caminhar numa conduta sempre igual e firme, sorrindo para si mesma e comprazendo-se com seu próprio espetáculo e prolongando indefinidamente esta agradável sensação, sem se afastar jamais de sua calma, sem se exaltar, nem se deprimir. Isto será tranqüilidade".

Nesta afirmativa, definitivamente Sêneca considera a Eutimia (ou sua tranqüilidade) como um estado de espírito equilibrado, entre sem se exaltar, sem se deprimir e sem se afastar da calma. Essa idéia de equilíbrio sensato deve ter sido baseado na definição de Aristóteles sobre a virtude, que para ele era a eqüidistância entre dois vícios, um por excesso e outro por falta.

Sêneca descreve pessoas vitimadas pela inconstância do humor, portanto, pessoas que se afastam da Eutimia, como se fosse um discurso atual, mostrando que os estados emocionais que angustiam atualmente o homem moderno não são, definitivamente, monopólio de nosso tempo.

"Para todos os doentes o caso é o mesmo: tanto tratando-se daqueles que se atormentam por uma inconstância de humor, seus desgostos, sua perpétua versatilidade e sempre amam somente aquilo que abandonaram, como aqueles que só sabem suspirar e bocejar. Acrescenta-lhes aqueles que se viram e reviram como as pessoas que não conseguem dormir, e experimentam sucessivamente todas as posições até que a fadiga as faça encontrar o repouso: depois de ter modificado cem vezes o plano de sua existência, eles acabam por ficar na posição onde os surpreende não a impaciência da variação mas a velhice, cuja indolência rejeita as inovações. Ajunta, ainda, aqueles que não mudam nunca, não por obstinação, mas por preguiça, e que vivem não como desejam, mas como sempre viveram."

Vemos claramente neste texto os atuais tipos psicológicos dos depressivos clássicos, que amam aquilo que abandonaram, os deprimidos ansiosos, que se viram e reviram, os distímicos mal adaptados que rejeitam inovações e não suportam o amadurecimento e os depressivos introvertidos, apáticos por natureza. Não há espaço para transcrever tanto de Sêneca, mas apenas mais um trecho, onde diz:

"Há, enfim, inúmeras variedades do mal, mas todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento de si mesmo. Mal-estar que tem por origem uma falta de equilíbrio da alma e das aspirações tímidas ou infelizes, que não se atrevem a tanto quanto desejam, ou que se tenta em vão realizar e pelas quais nos cansamos de esperar. É uma inconstância, uma agitação perpétua, inevitável, que nasce dos caracteres irresolutos..."

De fato, falando dA Tranqüilidade da Alma, Sêneca fala do perfil afetivo da personalidade e das alterações humorais que afligem os portadores de transtornos afetivos. Se o sentido atribuído por Sêneca à tranqüilidade está claro, que sentido ele atribuía à Alma?

Vinte séculos depois de Sêneca, Karl Jaspers também entendia a Alma humana como sendo o atributo mental responsável pela consciência existencial do ser e da realidade. É a parte sublime e sensível de nosso ser, a parte que transcende o objeto, a parte que abstrai e vai além do significado simples das coisas, diz respeito mais ao significante e ao subjetivo que ao significado e objetivo. Na realidade, percebemos a vida pelos órgão dos sentidos (senso-percepção) mas, de fato, sentimos a vida através da Alma.

Em termos qualitativos poderíamos avaliar a Alma da mesma forma como avaliamos a qualidade da consciência e, entre tantas variáveis que influem na qualidade da consciência, teríamos de destacar também as disposições individuais que caracterizam a maneira das pessoas representam o mundo e a si próprias. Dependendo da maneira como nossa consciência representa a existência, nossa e do mundo, reagiríamos emocionalmente vivendo dessa ou daquela maneira. Mesmo sobre predisposições Sêneca alertava para a necessidade de "examinar se nossas disposições naturais nos tornam mais aptos para a ação ou aos trabalhos sedentários e à contemplação pura".

No âmago da questão vivencial, vamos concluir que nossa existência é sentida mais pelas representações que temos de nosso mundo e pelos sentimentos desencadeados por essas representações, do que da vida e do mundo em si mesmos. Assim sendo, a responsabilidade por nossos sentimentos não pode recair exclusivamente sobre o teor dos fatos, objetos e acontecimentos. Esses sentimentos dependem fortemente da Alma do sujeito que vivencia tais acontecimentos, dependem daquilo que esses acontecimentos representam exatamente ao sujeito.

Uma flor pode representar algo diferente para diferentes pessoas, representações que ultrapassam o significado do simples objeto flor; pode representar um mimo comemorativo, uma paixão, uma mercadoria comercial, um objeto de estudo científico...

De modo geral podemos dizer que o valor representativo dos objetos (o significante das coisas), nasce e flui do sujeito em direção ao objeto e não ao contrário, como somos levados a crer. Os acontecimentos podem estimular sentimentos diferentes em diferentes pessoas; um selo perdido, por exemplo, pode estimular sentimentos diferentes entre um filatelista e um botânico, assim como a morte de uma árvore terá representações diferentemente entre os dois. Quando temos consciência de que estamos tomando algum medicamento, seu efeito pode não depender apenas do real valor terapêutico do mesmo, dependerá também daquilo que o medicamento representa para o sujeito.

Sendo a Eutimia o equilíbrio do humor (ou equilíbrio afetivo), podemos considerar que, neste estado, a consciência da realidade vivida se acompanharia de sentimentos equilibrados, nem exaltados e nem deprimidos, portanto, como queria Sêneca, com tranqüilidade. Dessa forma, Tranqüilidade da Alma será um estado ou uma certa disposição de nosso espírito (ou consciência) para com a vida, de forma a atribuirmos para as coisas e para os fatos da vida valores compatíveis com nosso bem estar.

No ser humano a relação entre a consciência e o sentimento é tão íntima que, à cada consciência deve corresponder, obrigatoriamente, algum sentimento. A neurociência tem se esforçado em explicar o aspecto neurológico da consciência, sendo o modelo das assembléias neuronais um dos mais creditados atualmente. Segundo esse modelo, os neurônios são capazes de se associarem rapidamente, formando grupos (assembléias) funcionais para realizarem uma determinada tarefa. Uma vez que esta tarefa esteja terminada, o grupo é dissolvido e os neurônios novamente ficam aptos a se engajarem em outras assembléias para cumprirem uma nova tarefa e assim, continuamente, as consciências vão se sucedendo . Evidentemente os sentimentos vão acompanhando as consciências que temos da nossa realidade.

A dúvida (entre muitas) que os psiquiatras experimentam é acerca da valorização emocional e pessoal dessa consciência. Seria a atribuição da Alma de valorizar tudo aquilo que é vivido, simultânea ou posterior à consciência que se tem do vivido? Em termos mais neurocientíficos, os sentimentos seriam anteriores, simultâneos ou posteriores às assembléias neuronais constituídas?

Se nossos sentimentos, sejam eles de alegria, tristeza, prazer, ansiedade, angústia, medo, tédio, júbilo, etc., fossem simples respostas de nosso afeto à sucessão de fatos e acontecimentos da realidade, então seríamos levados à crer que tais sentimentos seriam simultâneos ou posteriores e proporcionais à consciência que temos da realidade. Se isso fosse verdade haveria obrigatoriedade em experimentarmos sentimentos agradáveis em resposta aos estímulos (consciências) agradáveis e, inversamente, sentimentos desagradáveis aos estímulos desagradáveis.

Mas não é isso que se observa na clínica. Há pessoas que, ao tomarem consciência do vivido, podem experimentar sentimentos depressivos, angustiosos ou ansiosos, de forma quase totalmente emancipada do valor objetivo dos fatos, objetos e eventos. Essa não-concordância dos sentimentos aos acontecimentos explica porque uma promoção profissional, por exemplo, para alguns é recebida com sentimentos de satisfação e para outros com sentimentos de medo ou de desespero. Também poderia responder porque o nascimento de um filho pode ser acompanhado de grande alegria, de angústia patológica ou depressão pós-parto, dependendo da pessoa que vive esse acontecimento.

Teriam, essas pessoas que não gozam da Eutimia, que não gozam da tranqüilidade da Alma, disposições afetivas específicas para que a consciência do vivido já se lhes apresentasse predominantemente de modo sofrível, temerário ou negativo? Assim sendo então, e parece ser, disporíamos de sentimentos prévios, ou matizes sentimentais prévias, anteriores à assembléia neuronal (consciência) e à espreita do quer que tomássemos conhecimento consciente para, independente do valor objetivo daquilo conscientizado, colorir à essa consciência com sentimentos predispostamente delineados.

Trazendo tão complexo tema para a simplicidade da cultura popular, poderíamos fazer a mesma indagação perguntando se "é a situação que faz o ladrão ou se, de fato, o ladrão já está feito e esperando o melhor momento para roubar?"


para referir:
Ballone GJ -Eutimia- in. PsiqWeb, Internet - disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008.



REFERÊNCIAS
1. Os Pensadores, Vol. V, Abril Cultural, S. Paulo, 1973, p.192

2. SÊNECA, Sobre a Brevidade da Vida, trad. William Li, Novalexandria, S.Paulo, 1993.

3. AERTSEN A, DIESMANN M, GRŸN S, ARNDT M, GEWALTIG MO.: Coupling dynamics and coincident spiking in cortical neural networks. In: Supercomputers in Brain Research: pp 213-223. Herrmann H, et al.(eds). Singapore, World Scientific Publ., 1995.

4. AERTSEN A, ERB M, PALM G.: Dynamics of functional coupling in the cerebral cortex: a model-based interpretation. Physica D 75:103-128, 1994