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6 de dez. de 2012

UNIPOLAR ,,, e mais transtornos


http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/fronteiras.htm

http://www.adeb.pt/saude_mental/unipolar/unipolar.htm

http://bloggerbipolar.blogspot.com.br/2011/01/ciclotimia-x-bipolaridadesintomas.html

http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/21008/2/Depresso%20Unipolar%20e%20Depresso%20Bipolar.pdf

http://www.slideshare.net/EduardoGuagliardi/depresso-unipolar-ou-bipolar

http://www.marisapsicologa.com.br/diferencas-entre-depressao-distimia-transtorno-bipolar.html

http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=3733

http://portal.rac.com.br/especiais/saude/noticias.php?ano=2012&mes=/08&dia=/16&id=/141241

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-29702000000100013&script=sci_arttext

http://www.ehow.com.br/sindrome-asperger-disturbio-bipolar-sobre_8143/

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http://ossintomas.com/



O que é transtorno 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade

27 de jul. de 2012

Pânico - Ansiedade e transtorno...psicólogo Artur Scarpato


http://www.psicoterapia.psc.br/scarpato/panico.html


ILUSTRANDO: COMO É A SÍNDROME DO PÂNICO

Você pode imaginar o que é sentir isto ?
"De repente os olhos embaçaram, eu fiquei tonto, não conseguia respirar, me sentia fora da realidade, comecei a ficar com pavor daquele estado, eu não sabia aonde ia parar, nem o que estava acontecendo..."

" ...era uma coisa que parecia sem fim, as pernas tremiam, eu não conseguia engolir, o coração batendo forte, eu estava ficando cada vez mais ansiosa, o corpo estava incontrolável, eu comecei a transpirar, foi horrível..."

"Depois da primeira vez eu comecei a temer que acontecesse de novo, cada coisa diferente que eu sentia e eu já esperava... ficava com medo, não conseguia mais me concentrar em nada... deixei de sair de casa, eu não conseguia nem ir trabalhar."

"Quando começa eu já espero o pior, "aquilo" é muito maior do que eu, o caos toma conta de mim, é como uma tempestade que passa e deixa vários estragos... principalmente eu me sinto arrasada. Eu sempre fico com muito medo de que aquilo ocorra de novo... minha vida virou um inferno."

Por estes relatos, que poderiam ser de diferentes pessoas que sofrem de Síndrome do Pânico, é possível identificar o grau de sofrimento e impotência que estas pessoas sentem ao passar pelas crises.

A pessoa sente como se estivesse algo muito errado em seu corpo, que se comporta de modo muito "estranho", "louco". Porém os exames clínicos não detectam nada de anormal com seu organismo.

Como entender?

No Pânico o corpo reage como se estivesse frente a um perigo, porém não há nada visível que possa justificar esta reação.

A pessoa reage com ansiedade frente às sensações de seu próprio corpo, há um estranhamento e um grande susto em relação ao que é sentido dentro da pele. No Pânico o perigo vem de dentro.

É comum a pessoa passar a restringir a sua vida a um mínimo, limitando toda forma de estimulação para tentar evitar que "aquilo volte". Assim a pessoa pode evitar sair de casa, ir a lugares específicos, evitar algumas atividades, privando-se de muitas experiências, o que começa a comprometer a sua vida pessoal e profissional.

Vamos compreender o que acontece com a pessoa e como ela pode sair desta armadilha.



O QUE É SÍNDROME DO PÂNICO OU TRANSTORNO DO PÂNICO ?
A Síndrome do Pânico é um transtorno psicológico caracterizada pela ocorrência de inesperadas crises de pânico e por uma expectativa ansiosa de ter novas crises.

As crises de pânico - ou ataques de pânico - consistem em períodos de intensa ansiedade, geralmente com início súbito e acompanhados por uma sensação de catástrofe iminente. A freqüência das crises varia de pessoa para pessoa e sua duração é variável, geralmente durando alguns minutos.

No geral, as crises de pânico apresentam pelo menos quatro dos sintomas abaixo:

Taquicardia, falta de ar, dor ou desconforto no peito, formigamento, tontura, tremores, náusea ou desconforto abdominal, embaçamento da visão, boca seca, dificuldade de engolir, sudorese, ondas de calor ou frio, sensação de irrealidade, despersonalização, sensação de iminência da morte.

Há crises de pânico mais completas e outras menores, com poucos sintomas.

Geralmente as crises de pânico se iniciam com o disparo de uma reação inicial de ansiedade, que logo ativa um medo em relação às reações que começam a ocorrer no corpo. Durante a crise surgem na mente da pessoa uma série de interpretações negativas sobre o que está ocorrendo, sendo muito comuns quatro tipos de pensamentos catastróficos: de que a pessoa está perdendo o controle, que vai desmaiar, que está enlouquecendo ou que vai morrer.

No intervalo entre as crises a pessoa costuma viver na expectativa de ter uma nova crise. Este processo, denominado ansiedade antecipatória, leva muitas pessoas a evitarem certas situações e a restringirem suas vidas.
A Classificação Diagnóstica

O Transtorno do Pânico é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) constando da Classificação Internacional de Doenças (CID 10), na classe dos Transtornos Mentais. E aparece no DSM IV-R (Diagnostic and Statistical of Mental Disorders, 4rd Edition Revised) da Associação Americana de Psiquiatria.

O Pânico faz parte dos denominados transtornos de ansiedade juntamente com as fobias (fobia simples e fobia social), o estresse pós-traumático, o transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de ansiedade generalizada.

Enquanto nas Fobias Simples a pessoa teme uma situação ou um objeto específico fora dela, como fobia de altura, por exemplo; no Pânico a pessoa teme o que ocorre no seu próprio corpo; é para essas reações que se volta a atenção, como se estas fossem perigosas.

Há uma classificação da Síndrome do Pânico com agorafobia e sem agorafobia. A agorafobia é um estado de ansiedade relacionado a estar em locais ou situações onde escapar ou obter ajuda poderia ser difícil, caso a pessoa tivesse um ataque de pânico. Pode incluir situações como estar sozinho, estar no meio de multidão, estar preso no trânsito, dentro do metrô, num shopping, etc.

As pessoas que desenvolvem Pânico com agorafobia, geralmente se sentem mais seguras com a companhia de alguém de sua confiança e acabam elegendo alguém como companhia preferencial. Este acompanhante funciona como um "regulador externo", ajudando a pessoa a se sentir menos vulnerável a uma crise de pânico.



QUESTÕES ESSENCIAIS

O Início das Crises de Pânico

A ansiedade é uma reação emocional natural que ocorre quando nos sentimos vulneráveis e na expectativa de um perigo. Quando a resposta emocional de ansiedade é muito intensa e repentina temos uma crise de pânico, que na verdade é um ataque agudo de ansiedade. Numa crise de pânico sofremos muito, achando que algo catastrófico pode nos acontecer a qualquer momento.

Todos estamos sujeitos a ter uma eventual crise de pânico quando expostos a um estresse muito alto, quando inundados por emoções ou em situações que nos levam a um estado extremo de vulnerabilidade e desamparo. Esta é uma reação que faz parte do espectro normal de reações emocionais, apesar de pouco freqüente e muito desconfortável.

Pesquisas mostram que eventos que ocorreram nos últimos dois anos da vida da pessoa podem contribuir para uma pessoa chegar ao estado de vulnerabilidade que vai desencadear uma crise de pânico. Os eventos podem ser de vários tipos como separação, doença, morte de alguém próximo, vivências traumáticas, crises existenciais, crises profissionais, mudanças importantes na vida etc.

Estes fatores aumentam significativamente o nível de estresse e podem levar a pessoa a um grau de vulnerabilidade que vai disparar uma crise de pânico em algum momento.

O que caracteriza a Síndrome do Pânico é que estas crises passam a se repetir. A partir de uma crise inicial a pessoa começa a apresentar crises repetidas, sentindo-se insegura, esperando ansiosamente por uma nova crise que pode ocorrer a qualquer momento.

Há alguns fatores que levam uma pessoa a desenvolver este padrão repetitivo de crises que caracteriza a Síndrome do Pânico.

Uma das razões é que geralmente as primeiras crises acabam sendo vividas como uma experiência traumática. Quando dizemos que uma experiência foi traumática, significa que ela fica registrada num circuito específico de "memória emocional" que passa a disparar a mesma reação emocional automaticamente, sem a participação da consciência. Sempre que aparecem algumas reações parecidas no corpo inicia-se uma nova crise de pânico.

Outros fatores anteriores podem tornar uma pessoa vulnerável a desenvolver um Transtorno de Pânico, como ter um temperamento mais ansioso, ter vivido ansiedade de separação na infância, ter sido criado por pais ansiosos, etc. Um fator importante que contribui para o desenvolvimento do Pânico é que estas pessoas geralmente têm falhas no processo de auto-regulação emocional, ficando ansiosas e não sabendo como se acalmar. Todos estes fatores, combinados ou não, contribuem para que uma pessoa venha a desenvolver Síndrome do Pânico.


O Medo das Reações do Corpo

Na Síndrome do Pânico, várias sensações do corpo acabam se associando às crises e passam a ser interpretados como um sinal de perigo iminente, do início de uma possível crise. Sinais tão diversos como a tensão decorrente de uma resposta de raiva, o enjôo de algo que não caiu bem no estômago, o cansaço de uma noite mal dormida, a tristeza de alguma perda, enfim todo o espectro das sensações e sentimentos pode ser equivocadamente interpretado como indício de uma crise de pânico, levando a pessoa a se assustar e assim, com medo do medo, iniciar uma crise.

A pessoa faz constantes interpretações equivocadas e catastróficas de suas reações e sensações corporais, achando que vai ter um ataque cardíaco, que está doente, que vai desmaiar, que vai morrer, etc. É comum a pessoa viver ansiosamente o que poderia ser vivido como sentimentos diferenciados. Numa situação que poderia despertar alegria, a pessoa se sente ansiosa; numa situação que provocaria raiva ela também se sente ansiosa. Qualquer reação interna ou sentimento mais intenso pode disparar reações de ansiedade.

Esta perda de discriminação da paisagem interna compromete seriamente a vida da pessoa, pois esta se sente ameaçada constantemente por suas próprias sensações corporais. O corpo passa a ser a maior fonte de ameaça. Perder a confiança no próprio corpo leva a uma experiência de extrema fragilidade.

Geralmente algumas das reações corporais que estavam presentes na primeira crise ficam associadas a perigo e passam, a partir daí, a funcionar como disparadores de novas crises. Sempre que estas reações aparecem dispara-se uma resposta automática de ansiedade, o que inicia uma crise de pânico.

As crises de pânico se iniciam geralmente a partir de um susto - consciente ou não - em relação a algumas reações do corpo. As reações disparadoras podem ser variadas, desde uma alteração nos batimentos cardíacos, uma sensação de tontura, falta de ar, enjôo, palpitação, tremor, etc.

Numa crise de pânico a pessoa reage frente aquilo que seu cérebro interpreta como um perigo. Não há um perigo real, apenas uma hiperativação do circuito do medo que dispara um alarme na presença de algumas reações corporais. A presença destes gatilhos corporais pode disparar ansiedade mesmo quando a pessoa não tem consciência deles. Pesquisas apontam, por exemplo, que numa crise de pânico noturna, reações corporais que ficaram associadas a perigo surgem com a pessoa ainda dormindo, e disparam uma reação de ansiedade que acorda a pessoa, muitas vezes já tendo uma crise. Enfraquecer esta associação reações do corpo-perigo, que dispara uma crise de pânico é um dos focos do tratamento.



O Curto-circuito Corpo-Emoção-Pensamento

Podemos identificar a emoção de medo/ansiedade ocorrendo em três níveis: como reações fisiológicas (alterações na pressão sanguínea, nos batimentos cardíacos, piloereção, suor, hiperventilação etc), como reações afetivas (sentimentos de apreensão, desamparo, ansiedade, desespero etc) e como reações cognitivas (preocupação, pensamentos catastróficos, ruminações etc)

A ansiedade produz reações fisiológicas que são naturais desta emoção, como taquicardia e respiração curta. A pessoa com Pânico tende a interpretar estas reações como se fossem perigosas - sinal de doença, de catástrofe iminente, etc. Estas interpretações, na forma de pensamentos catastróficos, acabam por produzir mais ansiedade, o que por sua vez aumenta ainda mais as reações fisiológicas .... reforçando assim os pensamentos catastróficos.

Cria-se assim um circuito infindável onde as reações fisiológicas naturais da emoção de medo/ansiedade são interpretadas equivocadamente como perigosas em si, o que acaba por produzir mais ansiedade, que por sua vez alimenta os pensamentos catastróficos, num processo sem fim. Enquanto a pessoa não interromper este curto-circuito ela não consegue se livrar das crises de pânico.




Expectativa Constante de Perigo

O estado de ansiedade leva a automatismos no processo de atenção e pensamento. A atenção passa a se deslocar descontroladamente, monitorando o corpo em busca de algo que possa representar perigo. O enfraquecimento da capacidade de controle voluntário da atenção está relacionado à dificuldade de concentração frequentemente relatada pelas pessoas ansiosas.

Sob ansiedade a consciência é tomada por um fluxo de preocupações, pensamentos e ruminações e a pessoa sente que tem pouco domínio de sua mente. Surgem interpretações equivocadas das reações corporais, pensamentos automáticos catastróficos, onde a pessoa passa a esperar sempre pelo pior.

A ansiedade é a emoção típica da expectativa de perigo, ela ocorre quando a pessoa se projeta numa situação futura sentida como ameaçadora: "e se... eu vou... vai acontecer... vou passar mal...".

A pessoa vive a maior parte do tempo tomada por graus variados de ansiedade e tem dificuldade de se sentir presente e inteira no momento atual, vivendo como "prisioneira do futuro". Criar presença e fortalecer a atenção são focos importantes no tratamento.



Os Dois Processos de Regulação Emocional
O ser humano dispõe de dois processos básicos de regulação emocional: auto-regulação e regulação pelo vínculo.

Através do processo de auto-regulação emocional podemos regular o nosso próprio estado interno, nos acalmando, nos contendo, nos motivando etc.

Através do processo de regulação pelos vínculos, podemos influenciar reciprocamente a fisiologia e os afetos um do outro e assim podemos nos acalmar e nos regular nos relacionamentos com pessoas de nossa confiança. Os dois processos são normais, necessários e importantes ao longo da vida.

Nas pessoas que desenvolvem Síndrome do Pânico encontramos problemas nestes dois processos, tanto uma precária capacidade de auto-regulação como um enfraquecimento nos processos de regulação pelos vínculos, muitas vezes decorrentes de traumas de relacionamentos e ansiedades infantis que se reatualizam.

Tomada pela ansiedade nas crises, mas também num grau menor no período entre as crises, a pessoa com pânico não sabe como apagar o fogo que arde dentro de si. Daí a importância de desenvolver bem os processos de auto-regulação e de regulação pelo vínculo.



Processos de Auto-Regulação
A qualidade da relação com a própria excitação interna começa a se moldar nas experiências precoces de vida. Inicialmente a mãe ajuda a regular o corpo da criança até que o corpo um pouco mais maduro possa se auto-regular. Observa-se que nas pessoas com Síndrome do Pânico esta função não está bem desenvolvida e a pessoa sente-se facilmente ansiosa e vulnerável frente as reações que dominam o seu corpo.

É comum, por exemplo, as pessoas que desenvolvem algum transtorno de ansiedade terem tido mães ansiosas, emocionalmente hiper-reativas, que ao invés de acalmarem a criança, a deixavam mais assustadas a cada pequeno incidente, como um tropeção ou um simples resfriado.

Experiências de vida desde a infância precoce podem atrapalhar o desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, tornando uma pessoa com baixa tolerância à excitação interna. Isto aumenta a vulnerabilidade da pessoa aos transtornos ansiosos como a Síndrome do Pânico.

Muitas pessoas com Pânico costumam solicitar a presença constante de alguém para que se sintam mais seguras. Buscam compensar a sua dificuldade de auto-regulação através de uma regulação pelo vínculo.



Dois Níveis do Vínculo: Contato e Conexão
Quando duas pessoas estão conversando, elas estão em contato, mas não necessariamente em conexão. Contato é uma interação de presença, que pode ser superficial, enquanto conexão é uma ligação profunda que ocorre mesmo quando as pessoas estão distantes. Duas pessoas podem estar em contato, conversando, mas com baixíssima conexão, como numa situação social formal. Por outro lado, duas pessoas podem estar fisicamente distantes, e portanto sem contato, mas se sentirem conectadas.

Esta distinção entre contato e conexão é muito importante para compreender o que ocorre na situação que produz as crises de pânico.

Muitas pessoas relatam não ter crises de Pânico enquanto estão acompanhadas de alguém confiável. Porém, isto é verdadeiro enquanto elas se sentem conectadas com esta pessoa. Quando a outra pessoa está ao lado - portanto em contato - mas sem conexão emocional, a crise de Pânico pode se instalar com mais probabilidade. Algumas pessoas chegam a relatar a sensação de perda a conexão com o outro antes de uma crise de pânico eclodir.

A pessoa com pânico geralmente conhece a sensação de "estar ausente", desconectada, se sentindo distante mesmo de quem está ao seu lado.

A conexão com o outro parece prevenir crises de ansiedade por oferecer uma proteção através do vínculo, uma garantia que protege da sensação de desamparo e vulnerabilidade. Nesta situação, o corpo da pessoa confiável funciona como um "assegurador do funcionamento normal do corpo" da pessoa com pânico. Na ausência da conexão com o outro, o corpo poderia se desregular e a sensação de pânico aparecer.



Regulação pelo Vínculo

A regulação pelo vínculo ocorre, por exemplo, quando a mãe acalma a criança assustada, pegando-a no colo, dirigindo-lhe palavras num tom de voz sereno, ajudando deste modo a diminuir a ansiedade e a agitação da criança. Este processo envolve o estabelecimento de um vínculo com uma comunicação profunda de estados emocionais, com conexão e não apenas contato.

É comum as pessoas que desenvolvem Pânico terem tido experiências vinculares traumáticas, que podem envolver perdas, rompimentos, abandono, etc. Estes traumas prejudicaram a capacidade da pessoa estabelecer e manter conexões emocionais profundas, fator essencial para a regulação emocional pelo vínculo.

Assim a pessoa pode algumas vezes se sentir protegida com a presença de alguém de sua confiança, mas acaba voltando ao estado de vulnerabilidade tão logo esta pessoa se afaste ou ela perca a conexão. Há uma precariedade na conexão vincular que se torna inconstante e frágil.





O Desamparo

Há uma relação significativa entre o Pânico e as crises de ansiedade disparadas pelas situações de separação na infância. Uma boa parte das pessoas que desenvolvem Transtorno do Pânico não conseguiu construir uma referência interna do outro (inicialmente a mãe) que lhe propiciasse segurança e estabilidade emocional. Esta falta de confiança pode trazer, em momentos críticos, vivências profundas de desconexão e desamparo, disparando crises de pânico.

A experiência do Pânico é muito próxima do desespero atávico de uma criança pequena que se sente sozinha, uma experiência limite de sofrimento intenso, de sentir-se exposta ao devir, frágil, desp rotegida, sob o risco do aniquilamento e da morte.

As pessoas com Pânico sofrem com uma falta de conexão básica, falta de conexão e confiança nos vínculos e falta de conexão e confiança no corpo, o que leva a uma vivência de insegurança, com sentimentos de fragilidade, vulnerabilidade e desamparo.




O TRATAMENTO

Objetivos Principais
Há algumas diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome do Pânico:

1 - Etapa Educativa: compreender o que é o Pânico, assumindo a atitude certa para lidar com a ansiedade e as crises.

Os sintomas do pânico são intoleráveis enquanto não compreendidos. A crise de pânico é um estado de intensa ansiedade, na qual o corpo da pessoa reage como se estivesse sob uma forte ameaça. Compreender este processo é fundamental para a sua superação. Nesta etapa vamos aprender o que é a ansiedade, o que ocorre numa crise de pânico, o papel do curto-circuito emoção-corpo-pensamento na manutenção do pânico, os processos de auto-regulação, de regulação pelo vínculo, etc.

A compreensão do Transtorno Pânico e dos Princípios do Tratamento favorece uma atitude construtiva e participativa, assim como o estabelecimento de uma aliança terapêutica para se desenvolver um bom trabalho.

2 - Auto-gerenciamento: desenvolvendo a capacidade de regulação emocional.

A pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor capacidade de regulação emocional, aprendendo a influenciar seu estado emocional, regulando o nível de ansiedade, diminuindo assim o sentimento de vulnerabilidade e a incidência de novas crises.

Este processo é possível pelo aprendizado de técnicas de auto-gerenciamento. Utilizamos um amplo repertório de técnicas de auto-gerenciamento que incluem trabalhos respiratórios, técnicas de direcionamento da atenção, fortalecimento da capacidade de concentração, técnicas visuais variadas (convergência binocular focal, percepção de campo etc), reorganização da forma somática através do Método dos Cinco Passos, técnicas de relaxamento etc.


Estas técnicas de auto-gerenciamento ensinam à pessoa como influir sobre os seus estados internos, desenvolvendo a capacidade de auto-regulação.
Através do manejo voluntário dos padrões somático-emocionais que mantém o estado de pânico pré-organizado - a arquitetura da ansiedade - podemos reorganizar e transformar estes padrões que mantém o gatilho do pânico armado, pronto para disparar novas crises.

Estas técnicas têm uma forte eficácia ao influenciar, por ação reversa, os centros cerebrais que desencadeiam as respostas de pânico, diminuindo o nível de ansiedade e a intensidade das crises.

3 - Aumentar a tolerância à excitação interna.

A pessoa com pânico tende a interpretar as reações de seu corpo, que fazem parte do estado ansioso, como se fossem sinais catastróficos, indicadores de um possível perigo, como um desmaio, um ataque cardíaco iminente, sinal de perda de controle, etc. É necessário enfraquecer esta associação automática onde a presença de algumas sensações corporais disparam uma reação automática de ansiedade, a se inicia o processo que leva ao pânico.

Para ajudar no enfraquecimento desta associação corpo-perigo e aumentar a tolerância ao que é sentido, utilizamos dois caminhos básicos.

(1) Técnicas de desensibilização, onde utilizamos exercícios de exposição gradual às sensações corporais temidas, processo denominado "exposição interoceptiva".

(2) Técnicas de auto-observação, com atenção dirigida às reações da ansiedade e criação de um diálogo com as mensagens emocionais não ouvidas que o corpo está expressando.

Estes recursos ajudam a aumentar a tolerância à excitação interna e na familiarização com as reações do corpo, as emoções e sentimentos. É importante a pessoa ensinar ao seu cérebro como as sensações corporais não são perigosas, e como a ansiedade é apenas uma emoção que expressa uma expectativa de perigo, mas não é perigosa em si.

4 - Desenvolver um "eu observador", permitindo diferenciar-se dos pensamentos ansiosos.

Sob estado de ansiedade a pessoa é inundada de distorções cognitivas, com pensamentos que se projetam no futuro esperando pelo pior e interpretando as sensações em seu corpo como sinais de perigo iminente.

É importante trabalhar no desenvolvimento da capacidade de auto-observação identificando e diferenciando-se dos pensamentos catastróficos que derivam da ansiedade e contribuem para se criar mais ansiedade.

Neste processo a pessoa aprende a observar e reconhecer seus padrões de pensamentos e suas expectativas catastróficas sem ser dominada por eles. Aprende a ancorar o ego no “eu que observa” e não no tumultuoso “eu que pensa”.

É importante também desenvolver a capacidade focalizar a atenção como estratégia para se diminuir a ansiedade. Quando a pessoa consegue criar presença e focar sua atenção, a ansiedade diminui significativamente. Para atingir estes objetivos, utilizamos várias técnicas de auto-observação e fortalecimento da capacidade de direcionamento da atenção.

5 - Desenvolver a capacidade de regulação emocional através dos vínculos.

Além da capacidade de auto-regulação é importante fortalecer a capacidade de se regular pelos vínculos, o que envolve desenvolver a capacidade de estabelecer e sustentar conexões profundas e vínculos de confiança. Este processo vai permitir que a pessoa supere o desamparo que a mantém vulnerável às crises de Pânico.

Neste processo revemos a história de vida de relacionamentos, incluindo os traumas emocionais que possam ter comprometido a confiança e potência vincular. Buscamos ajudar na reorganização dos padrões vinculares em direção a relações mais estáveis que possam permitir criar uma rede de vínculos e conexões mais previsíveis, essenciais para a proteção das crises de Pânico.

6 - Elaborar outros processos psicológicos atuantes

É importante mapear os fatores que estavam presentes quando a Síndrome do Pânico começou e que podem ter contribuído para a eclosão das crises.

Neste contexto podem estar presentes ambientes e eventos estressantes, assim como crises existenciais, crises em relacionamentos, crises profissionais e transições, como mudanças de fases da vida, por exemplo. A desestabilização emocional trazida por estes eventos poderia produzir estados internos de fragilidade e vulnerabilidade, responsáveis pela eclosão das primeiras crises de pânico.

Num nível mais profundo buscamos investigar e trabalhar as memórias de experiências de vulnerabilidade e traumas que poderiam estar se reeditando nas experiências atuais de pânico. Do mesmo modo é importante rever os padrões de relacionamento com mãe/pai na infância, pois padrões ansiosos e ambivalentes de vínculo podem ter uma forte influência sobre o aparecimento e manutenção de transtornos de ansiedade na vida adulta.

Os melhores resultados são obtidos por um tratamento que contemple todos estes objetivos: a compreensão do processo do pânico, o desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, o aumento da tolerância à excitação interna, o desenvolvimento do eu que observa, o desenvolvimento da capacidade de regulação pelo vínculo e a elaboração dos processos de vida que levaram ao Pânico.

Uma combinação destes objetivos é a melhor solução para um tratamento eficaz da Síndrome do Pânico.



Sobre a Medicação
Os remédios podem ser recursos auxiliares importantes para o controle das crises de pânico, trabalhando conjuntamente com a psicoterapia para ajudar na superação da Síndrome do Pânico.

Porém, há algumas ponderações sobre a sua utilização . Primeiro, é necessário ter claro que os remédios não ensinam. Eles não ensinam à pessoa como ela própria pode influenciar seus estados internos e assim a superar o sentimento de impotência que o pânico traz. Não ensinam a pessoa a compreender os sentimentos e experiências que desencadeiam as crises de pânico. E não ajudam a pessoa a perder o medo das reações de seu corpo e a ganhar uma compreensão mais profunda de seus sentimentos. Os remédios - quando utilizados - devem ser vistos como auxiliares do tratamento psicológico.

Algumas pessoas optam por um tratamento conjugado de medicação e psicoterapia enquanto outras optam por tratar o pânico somente com uma psicoterapia especializada. Na psicoterapia especializada utilizamos técnicas de auto-gerenciamento – para manejar os níveis de ansiedade e controlar as crises – e ao mesmo tempo trabalhamos as questões psicológicas envolvidas. A opção mais precária seria tratar o pânico somente com medicação, visto que o índice de recaídas é maior quando há somente tratamento medicamentoso do que quando há também um tratamento psicológico. Os remédios mal administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao invés de ajudar a pessoa a superá-lo.

Atualmente é possível tratar a pessoa com Síndrome de Pânico sem a utilização de medicação e temos obtido bons resultados tanto com pessoas que estão paralelamente tomando medicação como com aquelas que preferem não tomar remédios.

Melhora: Um Horizonte Possível
Para uma pessoa ficar boa do Pânico não basta controlar as crises, é necessário integrar as sensações e sentimentos que estavam disparando as crises e assim superar o estado interno de fragilidade e desamparo.

A melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta, podendo lidar com os sentimentos internos, se reconectando com os fatores internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um modo mais satisfatório.

Superar a experiência da Transtorno de Pânico pode ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal, de uma retomada vital e contemporânea do processo psicológico de vida de cada um.




COORDENAÇÃO




Artur Scarpato : Psicólogo Clínico (PUC SP). Mestre em Psicologia Clínica pela PUC SP. Especialização em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da U.S.P. e em Cinesiologia Psicológica pelo Instituto Sedes Sapientiae. Desenvolve desde 1995 um tratamento especializado para pessoas com Transtorno do Pânico.


http://www.psicoterapia.psc.br/blog/


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http://animaconsultorio.site.med.br/index.asp?PageName=Doen-E7as-20Psiqui-E1tricas



http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=148


http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ListaNoticiaBusca&palavra=afetivo&tipo=1&idCategoriaNoticia=0&pagina=



1http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=44

11 de jan. de 2012

Transtorno Afetivo Bipolar




ou Transtorno Bipolar do Humor: oscilação entre depressão e euforia é muito mais comum do que se pensa. 
Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é também conhecido comoTranstorno Bipolar do Humor (TBH) ou, antigamente, como Psicose Maníaco Depressiva (PMD). Trata-se de uma doença relacionada ao humor ou afeto e classificada no mesmo capítulo da Depressão e da Distimia. O TAB se caracteriza por alterações do humor, com episódios depressivos e maníacos ao longo da vida. É uma doença crônica, grave e de distribuição universal, acometendo cerca de 1,5% das pessoas em todo o mundo.
Transtorno Afetivo Bipolar é considerado uma doença psiquiátrica muito bem definida e, embora tenha um quadro clínico variado é um dos transtornos com sintomatologia mais consistente da psiquiatria. Sua forma típica (euforia-depressão) é bem caracterizada e reconhecível, permitindo o diagnóstico precoce e confiável. 
Normalmente sentimos uma grande variedade de sentimentos com maior ou menor intensidade, tais como alegria, tristeza, medo, ousadia, energia, desânimo, eloqüência, apatia, desinteresse em diversos momentos de nossa vida. Em geral é normal a pessoa ficar alegre com uma promoção no emprego, com uma conquista amorosa, nascimento de um filho e outras situações agradáveis. Também como se espera que a pessoa normal experimente tristeza e sofrimento depois de um rompimento amoroso, com doença ou morte de pessoa querida, com a perda do emprego, dificuldades financeiras, etc. Isso não tem nada a ver com oTranstorno Afetivo Bipolar.
Em situações normais o estado de humor ou de ânimo deve variar ao sabor dos acontecimentos da vida e de acordo com a tonalidade afetiva de cada um (veja Tonalidade Afetiva na página Alterações da Afetividade). Essas respostas emocionais podem ser adequadas, inadequadas, proporcionais ou desproporcionais aos estímulos externos, que são nossas vivências. Mas os episódios agudos de oscilação afetiva do Transtorno Afetivo Bipolar nem sempre necessitam de vivências para se manifestarem.
No DSM.IV são classificados 2 tipos de Transtorno Afetivo Bipolar. OTranstorno Bipolar do Humor Tipo I, onde a maioria dos episódios de alteração do humor são do tipo euforia e o Transtorno Bipolar do Humor Tipo II, ao contrário, ou seja, a maiora dos episódios são depressivos (Figura)
Transtorno Afetivo Bipolar
Pelo DSM.IV, a característica essencial do Transtorno Bipolar Tipo I é um curso clínico caracterizado pela ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com freqüência, os indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maiores. Por outro lado, a característica essencial do Transtorno Bipolar Tipo II é um curso clínico marcado pela ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhados por pelo menos um Episódio Hipomaníaco.
Hoje em dia o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar está sendo repensado e deslocado para um grupo de estados psicopatológicos afins; os Transtornos do Espectro Bipolar (Akiskal e cols.,Montgomery e Keck, 2000.
EPISÓDIO DEPRESSIVO
Depressão é caracterizada principalmente por alterações do humor, dapsicomotricidade, da cognição e das funções vegetativas. O quadro clínico do paciente deprimido é bastante complexo, cheio de sinais e sintomas. Geralmente há humor depressivo, alterações de apetite e do sono, dificuldades de concentração e pensamentos de cunho negativo, incapacidade de sentir alegria ou prazer, redução da energia, agitação psicomotora ou, ao contrário, lentificação, podendo ocorrer ideação suicida e/ou sintomas psicóticos.
Profissionais com atividades acadêmicas ou intelectuais não conseguem executar suas tarefas quando deprimidos, as crianças diminuem o rendimento escolar por causa das dificuldades de raciocínio e concentração. Essa variedade de sinais e sintomas faz pensar em uma verdadeira síndrome depressiva, cujas unidade de manifestação é oEpisódio Depressivo.
Alterações de humor e afetividadeObviamente, o paciente deprimido manifesta o humor depressivo. Os reflexos mais típicos desse tipo de humor são os sintomas de angústia, tristeza, vazio, desesperança, desânimo, enfim, a sensação popularmente conhecida como "baixo astral".
Entretanto, para surpresa do público leigo, nem sempre a tristeza clássica está presente no Episódio Depressivo. Algumas vezes, de acordo com determinados traços de personalidade, o paciente pode não manifestar sentimento de tristeza e concentrar suas queixas em somatizações, em dores e outras queixas físicas, tais como cefaléia, dor de estômago, dor no peito, tonturas, etc.
Apesar disso, a atitude da pessoa com humor depressivo, mesmo sem as queixas de tristeza, pode ser percebido indiretamente por sua expressão facial, pelo olhar triste, fixo e sem brilho, pelos ombros caídos e por uma notável tendência ao choro e hipersensibilidade sentimental (Bleuler, 1985). Antigamente falava-se em Depressão Mascarada, para se referir a esses casos de depressão sem tristeza mas com muitos outros sintomas.
humor de pacientes deprimidos pode ser irritável, por causa da tendência a sentir-se facilmente incomodado por tudo, mal-humorado, com baixo limiar de tolerância para frustração. Esse quadro de irritabilidade e explosividade no humor depressivo é uma das manifestações depressivas mais comuns em crianças e adolescentes.
Os deprimidos podem perder a capacidade de sentir prazer, o que os leva ao abandono de atividades anteriormente prazerosas e ao desinteresse por amigos e familiares. Em casos mais graves pode haver incapacidade de experimentar qualquer tipo de emoção, dando a impressão que nada mais interessa ou vale a pena. Nas alterações da afetividade chamei esse estado de “egoísmo afetivo”, colocado entre aspas para sugerir o aspecto involuntário desse egoísmo.
Cognição e percepçãoA avaliação e juízo crítico da realidade à sua volta, que é a cognição propriamente dita, pode estar seriamente prejudicada na pessoa deprimida. A consciência da realidade pode estar desde ligeiramente alterada até psicoticamente alterada com pensamentos deliróides.
A avaliação que a pessoa deprimida faz de si mesma, que nada mais é do que a autoestima, pode sugerir uma idéia muito negativa. Essas idéias auto-pejorativas orbitam em torno do fracasso, da ruína, pessimismo, inferioridade, inutilidade, culpa, auto-recriminação, pecado e mesmo uma série de ruminações que tomam conta totalmente do pensamento. Medo do presente e do futuro, sofrimento retroativo pelas mazelas do passado, ausência de planos e perspectivas (Moreno & Moreno, 1994).
Os problemas existenciais reais, que existem de fato e todos temos, assumem proporções insuportáveis na depressão, surgem medos irracionais e preocupações excessivas. As avaliações negativas de si, do mundo e do futuro, dominam o pensamento do paciente deprimido e podem alterar a sua percepção da realidade a ponto de cogitar em suicídio (que pode se manifestar em até 15% das depressões maiores ou graves sem tratamento).
O médico clínico, diante de um paciente deprimido, deve investigar e avaliar o risco de suicídio, uma vez que a morte por suicídio é tão letal quanto por infarto do miocárdio. Na Depressão Grave com Sintomas Psicóticos, classificada no CID.10 sob o código F33.2, podem aparecer delírios congruentes com o humor (veja Idéias Deliróides na seção Psicopatologia). Esses delírios secundários ao humor deprimido podem servir para maquiar um mundo temerário, ameaçador e sofrível no qual a cognição do deprimido crê. Alucinações, principalmente auditivas, podem aparecer nas depressões graves.
Karla Mathias de Almeida e Doris Moreno (2002) listam alguns critérios ou características dessas Idéias Deliróides ou Delírios Humor Congruente:
a) são de tonalidade afetiva penosa;
b) são monótonas e repetitivas;
c) são pobres, isto é, a idéia delirante não se desenvolve em construções intelectuais: são mais ricas em emoção do que em conteúdo ideativo;
d) são passivas e o paciente aceita todas suas infelicidades placidamente;
e) são divergentes e centrífugas, isto é, estendem-se progressivamente para a pessoa próxima e para o ambiente;
f) são delírios do passado (lamentações, remorsos) ou do futuro (ansiedade, temores).
São comuns queixas de dificuldades de raciocínio, concentração e tomada de decisões. De fato, a mais prejudicada talvez seja a atenção e não a memória, propriamente dita. E a dificuldade em fixar a atenção, associada à falta de interesse, pode simular severos problemas de memória.
Com a lentificação do pensamento as idéias podem ficar confusas. Ey e cols (1978) descrevem a "paralisia psíquica". Nesse estado a ideação fica lenta, as associações são difíceis, a evocação é penosa, a síntese mental é impossível, o esforço mental sustentado também é impossível e a atenção concentra-se nos temas melancólicos sem poder separar-se deles. Em idosos, as alterações das funções cognitivas na depressão podem ser confundidas com demência.
Comportamento e psicomotricidade
Alguns autores consideram o retardo psicomotor a principal alteração noTranstorno do Humor (Akiskal, 2000). O paciente com lentificação psicomotora exibe importante restrição de movimentos espontâneos, postura de abatimento, discurso lentificado, frases raras e monossilábicas, com aumento do tempo de latência de resposta, baixo tom de voz, dificuldade de raciocínio, diminuição da energia e cansaço excessivo. Não é raro alguns pacientes reclamarem de fadiga extrema ao realizar tarefas simples, tais como escovar os dentes. Há uma tendência a ficar deitado e ao isolamento. Em casos graves, a lentificação psicomotora pode evoluir para o estupor depressivo.
Funções vegetativas
Funções vegetativas são aquelas reguladas pelo Sistema Nervoso Autônomo (ou Vegetativo). No paciente deprimido estão alterados o sono, o apetite, a função sexual e o ritmo circadiano do humor. A alteração do apetite e/ou do peso é um dos indicadores confiáveis do comprometimento somático da Depressão. As alterações do sono naDepressão envolvem insônia, mais freqüentemente intermediária, quando então a pessoa desperta no meio da noite e tem dificuldade para voltar a dormir, ou acorda muito cedo (insônia terminal).
Alguns pacientes podem dormir demais, como uma espécie de fuga de uma realidade hostil para eles ou como sinal de escasseamento da “energia” necessária para a disposição geral. Dentro dessas funções vegetativas prejudicadas está a função sexual, onde ocorre invariavelmente uma expressiva diminuição da libido, tanto nos em homens e como nas mulheres. E não apenas a libido costuma estar comprometida mas, inclusive, também a função erétil.
Subtipos depressivos
A nomenclatura psiquiátrica é demasiadamente complexa, apesar de inteligível. Há vários tipos de manifestações depressivas, classificadas tanto de acordo com a origem, quanto através da apresentação clínica.  A todos esses subtipos acrescento ainda a sintomatologia depressiva da atualidade, a qual decorre mais dos sentimentos de frustração do que da depressão, propriamente dita (veja Depressão e Frustração, na seção Depressão).
Depressão Bipolar
É a Depressão que se apresenta em portadores do Transtorno Afetivo Bipolar. Aqui há uma alternância de episódios depressivos e eufóricos(maníacos), não necessariamente um depois do outro (podem surgir vários episódios depressivos e um eufórico ou vice-versa). Trata-se de um quadro de origem constitucional, ou seja, biológica. Normalmente essas crises surgem sem que se possa associar à alguma razão vivencial.
Depressão endógena
Antigamente essa denominação caracterizava a Depressão que se manifestava por episódios agudos, recorrentes e sem a existência de episódios eufóricos. Hoje se fala em Transtorno Depressivo Recorrente, graduado em Leve, Moderado e Grave pela CID.10 ou Maior, pelo DSM.IV. Entretanto, o nome endógeno deveria ser mantido como conceito com objetivo de facilitar a idéia do fator constitucional desse tipo de Depressão.
Na Depressão Endógena os sintomas são mais exuberantes, focando predominantemente o prejuízo da capacidade para sentir prazer (anedonia), na apatia significativa, nos sentimentos de culpa, piora matutina, diminuição de apetite e perda de peso.
Depressão Atípica
As Depressões Atípicas são aquelas que se manifestam, predominantemente, através de sintomas ansiosos (Pânico, Fobia ...) e somáticos. Nos quadros de Depressão Atípica encontramos os sintomas vegetativos incaracterísticos (aumento do apetite, do sono, ganho de peso), humor não totalmente rebaixado (capacidade de se alegrar diante de eventos positivos) e grande sensibilidade emocional.
Alguns deprimidos podem manifestar apenas sintomas somáticos (físicos) ao invés de sentimentos de tristeza, como por exemplo, dores vagas e imprecisas, tonturas, cólicas, falta de ar, etc. Para estes, talvez, seja mais fácil comunicar sua aflição e desespero através dos órgãos que do discurso. Também em crianças e adolescentes a depressão pode dissimular-se sob a forma de um humor irritável ou rabugento, ao invés de triste e abatido.
Depressão Psicótica ou Maior
Trata-se de Depressão Grave, na qual ocorrem sintomas psicóticos, tais como os delírios e/ou as alucinações. Geralmente esses delírios são congruentes com o humor, chamados então, Delírios Humor-Congruentes. Podemos chamá-los também de Delírios Secundários ouIdéias Deliróides. Na esquizofrenia os delírios são primários e aqui são secundários (secundários à depressão).
Quando existem delírios esses são, geralmente, de ruína, de grave prejuízo moral, de doença grave, culpa, morte, castigo. Quando existem alucinações, geralmente são auditivas.
EUFORIA (Mania)Assim como a depressão, a euforia ou mania também se caracterizada por alterações no humor, na cognição, na psicomotricidade e nas funções vegetativas, porém com características opostas àquelas alterações observadas na depressão, ou seja, o paciente apresenta elevação do humor, aceleração da psicomotricidade, aumento de energia e idéias de grandeza, as quais podem ser até delirantes.
As formas clínicas da euforia variam de acordo com a intensidade e o predomínio dos sintomas afetivos, das alterações psicomotoras e da presença de sintomas psicóticos. Em sua forma clássica a mania se caracterizada por humor exageradamente expansivo (chamado deelação), aceleração no ritmo do pensamento, agitação psicomotora e pensamentos delirantes de grandiosidade. Dependendo da gravidade doEpisódio Eufórico as idéias deliróides podem fazer confundir o quadro com um surto esquizofrênico.
Humor e AfetividadeO humor na euforia é muito expansivo, geralmente irritável, desinibido. Sentimentos de exagerada alegria, júbilo e excitação são comuns. Essa alegria percebe-se patológica e o riso é exagerado, desproporcional ou à toa, há um desmedido entusiasmo e incomum interesse sexual, profissional e social.

Cognição e PercepçãoO pensamento na euforia costuma ser repleto de idéias de grandeza, autoconfiança incomodamente elevada, otimismo exagerado, falta de juízo crítico e da inibição social normal. A impulsividade pode levar a conseqüências desastrosas.
Podem existir idéias deliróides de grandeza, de poder, riqueza e de irreal inteligência. No tipo Grave com Sintomas Psicóticos a euforia é acompanhada de alucinações, sentimentos de influência e de inspiração profética, caracterizando assim o verdadeiro Estado de Elação (Ey e cols., 1978).
A aceleração do pensamento produz um dos sintomas mais clássicos daeuforia que e a Fuga de Idéias, onde o paciente começa um assunto novo sem terminar o anterior. Há também uma hipermnésia, com lembrança fácil de eventos passados, porém, prejudicado por excesso da distraibilidade.
Comportamento e PsicomotricidadeA pessoa com euforia sente-se sempre muito bem disposto e capaz de alcançar qualquer objetivo, cheio de energia e sem necessidade de repouso ou sono. Normalmente ela  gargalha, canta, dança, se mexe, corre, faz sexo, trabalha... tudo exageradamente e incansavelmente. Desse jeito é difícil convencê-lo estar doente, já que o bem estar (patológico) é muito contundente.
Durante a fase de euforia do Transtorno Bipolar do Humor, a auto-estima, o vigor e a energia física aumentam e a pessoa passa a agir em ritmo acelerado, fica inquieta e agitada, a necessidade de sono diminui. Começa a ter sentimentos de grandeza, considera-se especial e se sente como se não tivesse limites. Os planos grandiosos e mirabolantes se multiplicam, as idéias fluem rapidamente e não consegue concluir as idéias, pulando rapidamente para outros assuntos.
Quando o paciente já é conhecido, percebe-se claramente estar entrando em euforia até pelo colorido exuberante das roupas, o volume com que ouve músicas, a profusão do discurso, eloqüência com que defende seus pontos de vista. Por outro lado, a aceleração exagerada do pensamento pode dificultar a compreensão do discurso.
Por causa da impulsividade, da desinibição, do aumento de energia e da ausência de crítica, a pessoa em mania acaba se envolvendo em atividades perigosas e insensatas, tais como dirigir em alta velocidade, praticar sexo inseguro, gastar além das possibilidades.
Funções VegetativasA diminuição da necessidade de descanso e de sono é o sintoma físico mais freqüente. O paciente necessita de poucas horas e, mesmo assim sente-se bem disposto e cheio de energia (Moreno e Moreno, 1994).
Costuma haver, na euforia, aumento do apetite, do consumo de cigarro, álcool e drogas. Como tudo está acelerado é comum o aumento do apetite sexual, associados à desinibição e à impulsividade.

Outro sintoma bastante característico da euforia é a perda da inibição social natural. Isso produz atitudes inadequadas ou extravagantes, como por exemplo, fazer compras desenfreadamente ou vestir-se de forma exuberante, agressividade, inadequação e outros comportamentos inconvenientes que, inclusive, podem ocasionar envolvimentos policiais.
De modo geral, as crises de euforia podem ser caracterizadas pelos seguintes sintomas:
1.- auto-estima inflada, grandiosidade, sensação de ser mais e melhor que os outros e, algumas vezes quando tem delírio, reconhecendo ser predestinado a alguma coisa muito importante.
2.- necessidade de sono diminuída, sentindo-se bem e repousado com apenas 3 horas de sono.
3.- mais eloqüente e loquaz do que o habitual, pressão por falar, interrompendo os outros.
4.- perda da inibição social, falta de crítica para com as situações ridículas e vexatórias
5.- fuga de idéias (mudança de assunto rápido sem conclusão do anterior) ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão correndo mais do que as palavras podem pronunciar.
6.- distratibilidade, a atenção é desviada com excessiva facilidade para estímulos externos insignificantes ou irrelevantes, dispersão da atenção.
7.- aumento da atividade dirigida a objetivos sociais, no trabalho, na escola ou sexualmente.
8.- agitação psicomotora, excesso de movimentos
9.- envolvimento excessivo em atividades prazerosas com um alto potencial para insensatez, perigo, inconseqüência, como por exemplo, envolvimento em compulsão para compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros tolos.
HIPOMANIAA hipomania é um estado semelhante à mania, em grau mais leve, que aparece em pacientes com TAB, no início dos episódios de mania ou, se não for no TAB, no Transtorno Ciclotímico da Personalidade. Observa-se mudança no humor habitual para euforia ou irritabilidade, reconhecida pelas pessoas mais íntimas do paciente. 
Há também na hipomania, hiperatividade, tagarelice, diminuição da necessidade de sono, aumento da sociabilidade, atividade física, iniciativa, atividades prazerosas, libido e sexo, e impaciência. Ahipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não precisa de internação e o prejuízo ao paciente não é tão intenso quanto no episódio de mania. 
Como dissemos, em uma sociedade que valoriza demais a extroversão e eloqüência, pacientes e familiares podem considerar a hipomania como se fosse uma atitude normal e até desejável. Assim, a hipomania pode ser confundida com estados de alegria desencadeada por eventos positivos, não percebidos pelos outros como exagerados, comparados com o padrão habitual de humor da pessoa. Já a irritabilidade dahipomania pode ser confundida, também, com reações normais aos eventos negativos, como por exemplo, uma má notícia. 
Mas a hipomania pode ou não ter fatores desencadeantes, sejam positivos ou negativos. Se esses pacientes não forem tratados, podem apresentar ausência do juízo crítico e proporcionar para si ou para seus familiares, severos prejuízos morais e materiais.Incidência 
Em nosso meio, segundo dados do Sistema Único de Saúde de São Paulo,  mais de 10 mil internações por ano são devidas ao TAB, predominantemente entre as mulheres, pois, em homens, prevalecem os diagnósticos de alcoolismo e esquizofrenia.
As estimativas acerca da prevalência de TAB na população são bastante acanhadas, devido à rigidez dos critérios de diagnóstico propostos pelas classificações atuais. Assim, a prevalência para o Transtorno Bipolar do Humor do tipo 1, que é o tipo com mais episódios de euforia do que depressão, ao longo da vida, nos EUA, alcança 1%.
Na cidade de São Paulo essa prevalência é de 1% (Andrade, 2002). Estudos que consideram critérios mais flexíveis de diagnóstico já apresentam  uma prevalência de 4% a 8% durante a vida. Apesar do interesse nestes quadros ter aumentado nos últimos anos, os portadores de TAB continua sendo tardiamente diagnosticados e, conseqüentemente, inadequadamente tratado.
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Causas do TABEm relação às causas do TAB, tem sido muito relevante a sugestão de hereditariedade. Segundo Cardno (1999), a concordância de TAB entre gêmeos idênticos (monozigóticos) varia de 60% a 80%, e o risco de desenvolver TAB em parentes de primeiro grau de um portador de TABsitua-se entre 2% e 15%. A quantidade de gêmeos monozigóticos onde não há concordância de TAB reflete a importância dos fatores ambientais. 
A genética considera a TAB como tendo de um “modo complexo” de transmissão, cuja manifestação dependeria da presença de um conjunto de genes que interagem entre si, até o momento de conhecimento pouco definido (veja abaixo). Resumindo, compreende-se que o aparecimento dessas doenças de transmissão complexa dependa da presença de um conjunto de genes de suscetibilidade, os quais, ao sofrerem influência do meio, manifestam-se precipitando as alterações necessárias para a eclosão da doença em questão.
Sobre os fatores ambientais associados ao Transtorno Bipolar do HumorLeandro Michelon e Homero Vallada (2005) citam Tsuchiya e colaboradores, que investigaram a possível associação entre TAB e fatores variados, tais como, demográficos (sexo, etnia), relacionados à complicações da gestação ou do parto, estação do ano no nascimento, nascimento em área urbana ou rural, antecedentes de lateralidade, ajustamento pré-mórbido, padrão socioeconômico, eventos estressantes de vida, disfunção familiar, perda de parente e história de epilepsia, trauma craniencefálico, esclerose múltipla. 
De relevante ocorreu, nessa revisão da literatura, uma associação entre oTAB e a condição socioeconômica desfavorável, bem como com o desemprego, baixa renda e estado civil solteiro. Também houve associação da TAB com mulheres nos três primeiros meses do pós-parto. O restante dos fatores avaliados não mostrou nenhuma associação com ocorrência de TAB
De modo geral, os estudos foram inconclusivos, exceto para a significante associação do desenvolvimento de TAB com história familiar positiva, em vários estudos. Volta aqui a questão dos fatores genéticos, porém, a despeito de todos os fatos que sugerem uma fortíssima participação genética no desenvolvimento do TAB, até o momento não foi possível identificar genes ou regiões cromossômicas envolvidos diretamente no aparecimento desta doença. Embora algumas regiões dos cromossomos se mostrem mais significativamente ligadas ao problema, ainda se aguarda a confirmação científica por meio de novas pesquisas e novas técnicas de investigação. 
Inúmeras alterações na função cerebral têm sido descritas em pacientes apresentando quadros de depressão e mania. Pesquisas utilizando modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos e de neuroimagem no TAB têm trazido importantes hipóteses teóricas e conceituais para o melhor entendimento de como certos mecanismos biológicos podem afetar a manifestação clínica da doença, seu curso e sua resposta aos tratamentos. 
As classificações mais utilizadas em psiquiatria enfatizam o quadro clássico da mania. O diagnóstico pelo DSM-IV (veja) requer humor persistente e anormalmente elevado, expansivo ou irritável durando pelo menos uma semana. 
Estudos genético-epidemio1ógicos (com famílias)
Alguns estudos apontam para um sólido componente familiar no Afetivo Bipolar. Nesses estudos de família, Angst, em 1966, na Suíça, e Perris, no mesmo ano, na Suécia, apresentaram os primeiros resultados. Ambos demonstraram concordância familiar para essas alterações do humor. A maioria dos estudos que se seguiram concorda com esses autores, tanto na agregação familiar quanto na subdivisão. O Quadro 1 apresenta alguns dos principais estudos com famílias de pacientes bipolares realizados nos últimos trinta anos.

Quadro 1 -Estudos com famílias de probandos com transtorno afetivo bipolar*
Autor/ano
Parentes com TB estudados
Rel. Bipolar/Unipolar (%)
Angst, 1966 
161
4,3/13
Perfis, 1966
627
10,2/0,5
Gershon e cols., 1975
341
3,8/8,7
Smeraldi e cols.,1977
172
5,8/7,1
Taylor e cols., 1980
601
4,8/4,2
Gershon e cols., 1982
598
8,0/14,9
Coryel e cols., 1984
389
5,4/22,7
Fieve e cols., 1984
1.309
6,6/9,0
Weissman e cols., 1984
508
9,3/14,3
Tsuang e cols., 1985
218
2,8/7,8
Andreasen e cols., 1987
569
8,1/22,8
Maier e cols., 1993
166
3,6/16,3
*Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno, Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002 

Os resultados de estudos em famílias de pacientes com Transtorno Bipolar podem ser assim sumarizados:
1) - o risco de parentes em primeiro grau de indivíduos não-afetados, representativos da população geral é de quase 1% para Transtorno Bipolar e cerca de 4% para Depressão Uni polar;
2) - quando comparados o grupo de familiares de indivíduos da população geral e o grupo de parentes em primeiro grau de portadores de transtorno bipolar, observa-se que o risco para a Depressão Unipolar é três vezes maior, enquanto o risco para Transtorno Bipolar nesses parentes está aumentado cerca de sete vezes.
Além da maior probabilidade para o Transtorno Bipolar e Depressão em familiares de pacientes bipolares, tem-se observado também um aumento do risco para o Transtorno Esquizoafetivo, Distimia e Ciclotimia (Goodwin e Jamison, 1990).
3) - A demonstração do caráter familial é necessária, mas não suficiente, para comprovar a transmissão genética, haja vista que essa agregação na família pode ser decorrência da mesma exposição ambiental. Assim, estudos com gêmeos e com adotados são necessários para identificar a fonte dessa concentração familiar (Moreno e Moreno, 2002).

Estudos com gêmeos
Uma segunda estratégia para demonstrar o componente genético doTranstorno Bipolar é o clássico estudo com gêmeos, no qual se compara a concordância para a doença entre gêmeos monozigóticos (MZ) com a concordância entre gêmeos dizigóticos (DZ). Sabendo que os MZ tem semelhança cromossômica e os DZ não, se a doença tiver componente genético tende a ter uma concordância muito maior nos MZ. Não se pode deixar de considerar que os gêmeos, tanto MZ como DZ, sofrem influência ambiental semelhante.

Nas doenças determinadas pelo ambiente a concordância entre MZ e DZ seria quase a mesma, ao passo que nas doenças genéticas, a concordância nos MZ será significativamente maior, tendendo a se aproximar de 100%.

Um dos estudos mais importantes com gêmeos no Transtorno Afetivo Bipolar é de Bertelsen e cols. (1977), que investigaram um total de 123 pares de gêmeos em que um dos irmãos já apresentava Transtorno do Humor. Esses autores observaram uma concordância de 79% de Transtorno Afetivo Bipolar para MZ e de apenas 19% para DZ.

Torgersen (1986) encontrou um taxa de concordância de 51 % para MZ e de 20% em DZ. Números semelhantes foram encontrado por McGuffin eKatz (1991), os quais observaram uma concordância entre MZ de 53% e em DZ de 28%. Em 1993 Kendler e cols. verificaram uma concordância para transtornos do humor de 75% em MZ e de 29,6% em DZ.
Quadro 2 -Estudos de concordância entre gêmeos com Transtornos do Humor*
Autor - ano
MZ
MZ (%) de concordância
DZ
DZ (%) de concordância
Gershon e cols., 1975
91
69
226
13
Berrelsen e cols., 1977
69
79
54
19
Torgersen, 1986
37
51
65
20
Mcguffin e cols., 1991
62
53
79
28
Kendler e cols., 1993
12
75
27
29
*Fonte: Ricardo Alberto Moreno e Doris Hupfeld Moreno, Transtorno Bipolar do Humor, Lemos Editorial, S.Paulo, 2002

Podemos concluir com base nos dados apresentados anteriormente que a taxa de concordância para o transtorno do humor é de duas a quatro vezes maior em gêmeos MZ do que nos DZ, reforçando a hipótese de um componente genético nessa enfermidade. Mas, deduz-se que o componente genético não é o único determinante desse transtorno. Se assim fosse a concordância entre os gêmeos MZ seria de 100%. Estima-se que o potencial hereditário para o Transtorno Bipolar seja em tomo de 75% (Baron, 1991).

Estudos com adotados
Com o propósito de separar a influência ambiental do fator genético, costuma-se pesquisar em adotados. Segundo Moreno e Moreno (2002), o primeiro estudo desse tipo foi conduzido na Bélgica por Mendlewicz eRainer (1977), que verificaram 29 adotados com a antiga doença maníaco-depressiva (hoje Transtorno Afetivo Bipolar). Esses autores observaram uma prevalência de distúrbios afetivos em 31 % dos pais biológicos dessas pessoas, comparado a uma prevalência de 12% nos pais adotivos.

Outro estudo foi de Cadoret (1978), que em uma amostra de mães com oTranstorno Afetivo (bipolar e unipolar) evidenciou uma freqüência seis vezes maior de Depressão em seus filhos biológicos adotados ao nascimento, comparados aos filhos de mães sem o transtorno, também adotados no nascimento.

Wender e cols. (1986) pesquisaram, na Dinamarca, 71 pessoas adotadas portadoras de Transtornos do Humor e relataram uma prevalência oito vezes maior em casos de Depressão Unipolar quinze vezes maior em casos de suicídio nos pais biológicos dessas pessoas quando comparadas com seus pais adotivos.
Outras Classificações
Durante muito tempo o TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) foi considerado apenas ao que se considera hoje a sua forma mais grave. A classificaçãoDSM.IV, já com mais de 10 anos, reconhece somente os tipos I II, entretanto, os pesquisadores estão ampliando os conceitos e os tipos da bipolaridade.
Já se fala em Transtornos do Espectro Bipolar e, de acordo com abordagem mais recente, existem quatro tipos de transtorno bipolar, que se caracterizam basicamente pela intensidade i em que ocorre a alteração do humor.
Tipo I: Afeta apenas 1 % da população, é a forma mais intensa, com forte alteração do humor, por apresentar fases de mania plena. Apresenta toda a amplitude de variação do humor, do pico mais alto (mania plena), que pode durar várias semanas, até depressões graves. Em geral, inicia-se entre 15 e 30 anos, mas há casos de início mais tardio. É comum apresentar sintomas psicóticos, como delírios (pensamentos fora da realidade) ou alucinações (ouvir vozes que não existem, por exemplo). Se não for tratado, em geral prejudica enormemente o curso da vida do paciente. 
Tipo II: A alteração do humor  não é tão intensa quanto no Tipo I, mas apresenta fases de hipomania (pequena mania) e depressão. Assim sendo, nesse tipo a fase maníaca é mais branda e curta, chamada de hipomania. Os sintomas são semelhantes, mas não prejudicam a pessoa de modo tão significativo. As depressões, por outro lado, podem ser profundas. Também pode iniciar na adolescência, com oscilação de humor, mas uma parte dos pacientes só expressa a fase depressiva ao redor dos 40 anos. Com freqüência, os sintomas de humor deixam de ser marcadamente de um pólo para ter características mistas, turbulentas.  
Tipo III:  O Tipo III é semelhante ao tipo II, porém o quadro de hipomania é desencadeado pelo uso de antidepressivos ou psicoestimulantes.  É uma classificação usada apenas quando a fase maníaca ou hipomaníaca é induzida por um antidepressivo ou psicoestimulante, ou seja, os pacientes fazem parte do espectro bipolar, mas o pólo positivo só é descoberto pelo uso destas drogas. Sem o antidepressivo, em geral manifestam características do temperamento hipertímico ou ciclotímico. Como regra, devem ser tratados como bipolares, mesmo que saiam do quadro maníaco com a retirada do antidepressivo.  
Tipo IV: No tipo IV a oscilação de humor é mais leve e o paciente é, geralmente, uma pessoa com temperamento mais determinado, dinâmico, empreendedor, extrovertido e expansivo, e que, esporadicamente, passa a ter o humor mais turbulento e depressivo na meia-idade. Esses pacientes nunca tiveram mania ou hipomania, mas têm uma história de humor um pouco mais vibrante, na faixa hipertímica, que freqüentemente gera vantagens. A fase depressiva pode só ocorrer em torno ou depois dos 50 anos e às vezes é de característica mista e oscilatória.
Além desses quatro tipos, há a ciclotimia, que se caracteriza por um traço de personalidade cujo humor é oscilante e desregulado, e cujas fases não chegam a ser configuradas como mania ou depressão.
Curso
Transtorno Bipolar I é um transtorno recorrente, ou seja, mais de 90% das pessoas que tiveram um Episódio Maníaco terão futuros episódios. Aproximadamente 60 a 70% dos Episódios Maníacos freqüentemente precedem ou se seguem a Episódios Depressivos mas o padrão de alternância é característico para cada pessoa.
O número de episódios durante a vida (tanto Depressivos quanto Maníacos) tende a ser superior para Transtorno Bipolar I, em comparação com Transtorno Depressivo Recorrente. Estudos do curso do Transtorno Bipolar I, antes do tratamento de manutenção com lítio, sugerem que ocorremquatro episódios em média a cada 10 anos. O intervalo entre os episódios tende a diminuir com a idade.
Aproximadamente 5 a 15% das pessoas com Transtorno Bipolar têm quatro ou mais episódios de alterações severas do humor, tais como,Episódio Depressivo Maior, Episódio Maníaco, Episódio Misto ou Episódio Hipomaníaco, que ocorrem dentro de um determinado ano. Embora a maioria das pessoas com Transtorno Bipolar retorne a um nível plenamente normal de funcionamento entre os episódios, alguns deles, entre 20 e 30%, continuam apresentando instabilidade do humor e dificuldades interpessoais ou ocupacionais.
Quando um indivíduo tem Episódios Maníacos com aspectos psicóticos, os episódios subseqüentes têm maior probabilidade de ter aspectos psicóticos. A recuperação incompleta entre os episódios é mais comum quando o episódio atual é acompanhado por aspectos psicóticos incongruentes com o humor.
Bibliografia:
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para referir:
Ballone GJ - Transtorno Afetivo Bipolar, in. PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2005.