9 de jul. de 2011
DALAI LAMA - Compaixão em Muitos anos de vida !!
"Não existe nada absoluto, tudo é relativo. Por isso devemos julgar de acordo com as circunstâncias."
[ Dalai Lama ]
Ele exemplifica tudo, em razão de tantos amá-lo por sua essência!
Felicidades ao aniversariante de Julho,amor e luz em sua jornada.
2 de ago. de 2010
Cem Recomendações para a Vida
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1 - Descubra seu maior defeito e disponha-se a corrigi-lo.
2 - Escolha até três exemplos de vida e determine-se a segui-los.
3 - Tenha força e sabedoria para resistir às tentações do mundo.
4 - Cultive a força da tolerância de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. Então, passe a cultivar a tolerância pela vida, a tolerância por todos os darmas e a tolerância pelos darmas não-surgidos de maneira a transformar o cultivo da tolerância em força e sabedoria.
5 - Aprenda a se adaptar à pressão externa e não se deixe afetar por ela.
6 - Seja ativo e destemido. Pense antes de agir.
7 - Envergonhe-se do que ignora, do que é incapaz,
do que o torna impuro e rude.
8 - Faça com freqüência algo que toque o coração das pessoas.
9 - Sinta-se bem sob qualquer circunstância, siga as condições corretas, esteja sempre livre de aflições e faça tudo com alegria no coração.
10 - Ser corajoso e virtuoso é ter a capacidade de admitir os próprios erros.
11 - Aprenda a aceitar perdas, falsas acusações,
contratempos e humilhações.
12 - Não inveje aqueles que praticam boas ações ou dizem boas palavras.
Tenha sempre na mente, bondade e beleza.
13 - Não empurre os outros para a beira do abismo; ao contrário, dê-lhes espaço para recuar — um dia eles poderão lhe ajudar.
14 - Sirva àqueles que desejam fazer o bem, compartilhe um objetivo. Favoreça os outros e respeite seus anseios.
15 - Seja amável e humilde ao relacionar-se com as outras pessoas. Expresse bondade em seu semblante e em sua fala.
16 - A capacidade de doar traz abundância verdadeira.
17 - Importe-se apenas com o que é certo ou errado;
não se fixe em perdas e ganhos.
18 - Deixe de lado pensamentos egoístas e dedique-se à justiça,
à verdade e ao bem comum.
19 - Viaje pelo mundo sob o céu estrelado. Vivencie a prática da procissão de mendicância pelo menos uma vez na vida.
20 - Abra mão de todas as suas posses ao menos
uma ou duas vezes na vida.
21 - A cada quatro ou cinco anos, empreenda uma viagem sozinho.
22 - Não se deixe cegar pelo amor. Não se traia por dinheiro.
23 - Não bata de frente com as coisas — aprenda a arte de ser sutil.
24 - Não há êxito sem persistência, diligência e determinação.
25 - Desenvolva autoconfiança, expectativas em relação
a si mesmo e metas pessoais.
26 - Procure ouvir boas palavras e jamais esqueça o que elas significam.
27 - Não desperdice o seu tempo. Faça planos e use o tempo com sabedoria.
28 - Seja sempre sensato, pois a sensatez é imparcial e igual para com todos.
29 - Lembre-se dos erros cometidos.
Tenha-os sempre em mente para não repeti-los.
30 - Seja qual for a sua função, desempenhe-a bem.
Não olhe para os lados.
31 - Faça tudo com boa intenção, verdade, sinceridade e beleza.
32 - Não se apegue ao passado. Olhe sempre adiante.
33 - Lute sempre pelos seus objetivos e vá longe.
34 - Planeje sua carreira, use seu dinheiro com sabedoria, purifique seus sentimentos e não se apegue a fama e riqueza.
35 - Desenvolva compreensão e visão corretas.
Não se deixe levar cegamente pelos outros.
36 - Renuncie a apegos insensatos e aceite a verdade com mente humilde.
37 - Não faça intrigas nem espalhe rumores. Não se deixe influenciar por eles.
38 - Aprenda a desenvolver sua mente, reformar seu caráter,
recuar e dar guinadas em na vida.
39 - Cultive méritos por meio de doações que estejam de acordo com sua capacidade, função, disposição e condição.
40 - Creia profundamente no Darma e contemple todas as virtudes.
Nunca faça o mal; pratique sempre o bem.
41 - Não culpe os céus nem os outros por sua infelicidade,
pois tudo tem sua causa e seu efeito.
42 - Pense no bom e belo ao invés de pensar no que é triste e penoso.
43 - Conquiste ao menos três tipos de habilitação ao longo da vida, como, por exemplo, para guiar automóveis, cozinhar, digitar, cuidar de enfermos, exercer a medicina, o magistério, o direito, a arquitetura etc.
44 - Aprenda a articular bem a fala e a escrita. Aprenda a ouvir, a apreciar, a pensar, a cantar, a pintar e a desenvolver habilidades. Quanto mais se aprende, melhor. Aprenda, ao menos, metade disso tudo.
45 - Leia ao menos um jornal por dia, para se manter em dia com o mundo.
46 - Leia pelo menos dois livros por mês.
47 - Mantenha uma rotina diária.
48 - Cultive hábitos regulares de sono e alimentação.
49 - Pratique exercícios físicos.
50 - Mantenha-se longe de cigarro, álcool, pornografia e drogas.
Administre e controle sua própria vida.
51 - Pratique meditação por, pelo menos, dez minutos todos os dias.
52 - Passe, pelo menos, metade de um dia sozinho,
uma vez por semana.
53 - Ao menos uma vez por mês, pratique o vegetarianismo,
para nutrir seu coração de compaixão.
54 - Ajude os outros e faça o bem sem esperar nada em troca.
55 - Compartilhe sua alegria e compaixão com os demais.
56 - Mantenha a capacidade de se auto-avaliar sob qualquer circunstância.
57 - Reze pelos desafortunados, onde quer que você esteja.
58 - Seja preciso em suas observações. Considere todos os ângulos e seja tolerante e compreensivo em relação aos outros.
59 - Aprecie a vida, cuide dela e não a maltrate jamais.
60 - Use seu dinheiro e suas posses com sabedoria.
Não desperdice nem gaste demais.
61 - Em tempos de alegria, contenha a sua fala;
no infortúnio, não despeje sua raiva sobre os outros.
62 - Não enalteça seus próprios méritos nem aponte os erros alheios.
63 - Não inveje nem suspeite. Méritos advêm das
realizações e da ajuda aos outros.
64 - Não seja ganancioso em relação às posses alheias,
nem mesquinho em relação às suas.
65 - Demonstre coerência entre atitude e pensamento.
Não seja iluminado na teoria e ignorante na prática.
66 - Não fique sempre pedindo ajuda aos outros.
Busque ajuda dentro de si mesmo.
67 - Faça de sua própria conduta um bom exemplo.
Não espere benevolência dos outros, mas de si mesmo.
68 - Cultivar bons hábitos é a melhor maneira de manter
uma vida íntegra e saudável.
69 - É melhor ser não-inteligente do que não-compassivo.
70 - A mente otimista é contemplada com um futuro brilhante.
71 - Construa seu próprio destino. Corra atrás das
oportunidades ao invés de esperar que elas caiam do céu.
72 - Controle suas emoções e seu humor: não se deixe levar por eles.
73 - Elogio e ofensa fazem parte da vida. Não se apegue a eles
— conserve sempre a paz interior.
74 - A doação de órgãos ajuda a prolongar a vida além
de propiciar recursos para as vidas de outros seres.
75 - Ouça o que os outros têm a dizer e
anote a essência do que eles dizem.
76 - Olhe para si mesmo antes de acusar os outros. Somente uma avaliação honesta de seus méritos e de méritos lhe dá o direito de julgar os demais.
77 - Cumpra suas promessas.
78 - Não viole o direito dos outros para beneficiar a si próprio.
Favorecer os demais, às vezes, é imperioso.
79 - Não sinta prazer em ridicularizar os outros.
Ao contrário, aprenda a fazê-los felizes.
80 - Não critique, por inveja, a benevolência do outro.
Respeite-o e siga seu bom exemplo.
81 - Não use de traição para obter vantagens.
82 - Os privilégios devem, antes de tudo,
ser oferecidos às outras pessoas.
83 - Aprenda a aceitar as desvantagens.
Saiba que, na verdade, elas são vantagens.
84 - Não se apegue a perdas e ganhos. Não faça comparações entre o que você e os outros têm ou deixam de ter.
85 - Seja sincero, impetuoso e educado.
86 - Harmonia, paz e tranqüilidade são a chave para o
relacionamento com as pessoas.
87 - Respeito, reverência e tolerância são a
tríade para manter boas relações com o mundo.
88 - A raiva não resolve problemas. Somente uma mente tranqüila e pacífica pode ajudar você a lidar com a vida.
89 - Relacione-se com pessoas virtuosas e bons mestres.
90 - Não contamine os outros com sua tristeza,
nem leve preocupações para a cama.
91 - Busque prazer e alegria em tudo o que faz,
e transmita isso a todos.
92 - Seja grato aos benevolentes e aos que prestam auxílio.
Deixe-se tocar por seus atos virtuosos.
93 - Dê um toque de serenidade a tudo o que você fizer na vida.
94 - Não existe dificuldade ou facilidade absolutas. O esforço transforma dificuldade em facilidade, enquanto a indolência torna o fácil difícil.
95 - Ajude seus vizinhos e sua comunidade e participe dos eventos locais. Assim, você se tornará um voluntário da humanidade.
96 - Só a humildade gera o bem.
A arrogância não traz nada mais que desvantagem.
97 - Aproxime-se de mestres virtuosos.
Ouça-os, seja leal e não os desacate.
98 - Ajudar os outros é ajudar a si mesmo.
Ter consideração pelos outros significa cuidar e amar a si próprio.
99 - Dê aos jovens oportunidades e ofereça-lhes
orientação sempre que necessário.
100 - Cuide de seus pais e seja amoroso com eles.
Ecologia e o Coração Humano Dalai Lama
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Como acredito profundamente que os seres humanos são basicamente gentis por natureza, sinto que devemos não só manter relações gentis e pacíficas com a comunidade de seres humanos, mas também que é muito importante estender a mesma atitude gentil para com o meio ambiente natural. Do ponto de vista moral, devemos nos preocupar com todo o nosso meio ambiente.
Além disso, há um outro ponto de vista, não é só uma questão de ética, mas uma questão de nossa própria sobrevivência. O meio ambiente é muito importante não só para esta geração, mas também para as gerações futuras. Se explorarmos o meio ambiente de maneira extrema, embora possamos conseguir algum dinheiro ou outro benefício com isso agora, em longo prazo nós próprios sofreremos e as gerações futuras também sofrerão. Quando o meio ambiente muda, as condições climáticas também mudam. Quando elas mudam dramaticamente, a economia e muitas outras coisas também mudam. Até a nossa saúde física será fortemente afetada. Então, isto não é só uma questão moral, mas também uma questão de nossa própria sobrevivência.
Portanto, para o sucesso da proteção e conservação do meio ambiente natural, penso que é importante primeiro de tudo fazer com que um equilíbrio interno aconteça dentro dos próprios seres humanos. O abuso do meio ambiente, que resultou em tais danos à comunidade humana, surgiu da ignorância quanto à importância do meio ambiente. Penso que é essencial ajudar as pessoas a compreender isto. Precisamos ensinar às pessoas que o meio ambiente tem uma relação direta com o nosso próprio benefício.
Eu estou sempre falando da importância do pensamento compassivo. Como disse antes, até do seu próprio ponto de vista egoísta, você precisa de outras pessoas. Então, se desenvolver a preocupação pelo bem estar de outras pessoas, compartilhar o sofrimento dos outros, e ajudá-los, no fim você se beneficiará. Se pensar só em si mesmo e se esquecer dos outros, no fim você perderá. Isso também é como a lei da natureza.
É muito simples: se você não sorrir para as pessoas, mas olhar de forma carrancuda, eles vão responder de maneira similar, não vão? Se lidar com outras pessoas de uma maneira muito sincera e aberta, eles se comportarão de forma similar. Todo mundo quer ter amigo e não quer ter inimigo. A forma correta de fazer amizades é ter um coração caloroso e não só dinheiro ou poder. Amigos do poder e amigos do dinheiro são coisas diferentes: eles não são amigos verdadeiros. Amigos verdadeiros devem ser verdadeiros amigos do peito, concordam? Eu estou sempre dizendo às pessoas que os amigos que aparecem quando você tem dinheiro e poder não são seus verdadeiros amigos, mas amigos do dinheiro e do poder, porque assim que o dinheiro e o poder desaparecerem, estes amigos também estão prontos para partir. Eles não são confiáveis.
Amigos humanos autênticos ficam ao seu lado quer você tenha sucesso ou esteja sem sorte e sempre dividem as suas dores e cargas. A maneira de fazer tais amizades não é tendo raiva, nem tendo boa educação ou inteligência, mas tendo um bom coração.
Para aprofundar o pensamento, se você precisa ser egoísta, então que seja sabiamente egoísta, e não tacanhamente egoísta. A chave é o senso de responsabilidade universal; esta é a verdadeira fonte da força, a verdadeira fonte da felicidade. Se a nossa geração explora tudo que há disponível — as árvores, a água, e os minerais sem qualquer cuidado com as próximas gerações ou o futuro, então estamos errados, não estamos? Mas se tivermos um senso genuíno de responsabilidade universal como nossa motivação central, então as nossas relações com nossos vizinhos, tanto os nacionais quanto os internacionais serão promissoras.
Uma outra questão importante é: O que é consciência e o que é a mente? No mundo ocidental, durante os últimos um ou dois séculos, houve grande ênfase em ciência e tecnologia, que trata principalmente da matéria. Atualmente alguns físicos nucleares e neurologistas dizem que quando investigamos partículas de uma forma muito detalhada, há algum tipo de influência do lado do observador, o sabedor. O que é este sabedor? Uma resposta simples é: um ser humano, o cientista. Como este cientista sabe? Com o cérebro, os cientistas ocidentais identificaram até agora apenas umas centenas. Agora, quer chame isto de mente, cérebro, ou consciência, há uma relação entre cérebro e mente e também entre mente e matéria. Penso que isto é importante, Acredito que é possível manter algum tipo de diálogo entre a Filosofia Oriental e a Ciência Ocidental com base neste relacionamento.
Em qualquer caso, atualmente nós seres humanos estamos muito envolvidos com o mundo externo, enquanto negligenciamos o mundo interno. Precisamos de desenvolvimento científico e desenvolvimento material para sobreviver e para aumentar o benefício e a prosperidade geral, mas precisamos igualmente de paz mental. No entanto, nenhum médico pode aplicar uma injeção de paz mental, e nenhum mercado pode vendê-la. Se você for até um supermercado com milhões e milhões de dólares, você pode comprar qualquer coisa, mas se for até lá e pedir paz mental, as pessoas vão rir. É se pedir a um médico a paz mental autêntica, não a simples sedação que consegue tomando algum tipo de pílula ou injeção, o médico não poderá ajudá-lo.
Até os atuais computadores sofisticados não podem dar paz mental. A paz mental deve vir da mente. Todo mundo quer felicidade e prazer, mas se compararmos prazer físico e dor física com prazer mental e dor mental, chegamos à conclusão de que a mente é mais efetiva, predominante e superior. Assim, vale a pena adotar certos métodos para aumentar a paz mental, e para fazer isto é importante saber mais a respeito da mente. Quando falamos de preservação do meio ambiente, isso está relacionado a muitas outras coisas. O ponto chave é ter um senso autêntico de responsabilidade universal, baseado em amor e compaixão, e consciência clara.
(Extraído de My Tibet, Thames and Hudson Ltd., London, 1990, pág. 53-54. Traduzido por Marly Ferreira.)
Fonte: http://www.dalailama.org.br/ensinamentos/ecologia.php
Pensamentos Dalai lama
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Minha mensagem é a prática do amor, da compaixão e da bondade. Estas qualidades são muito úteis para vivermos nosso cotidiano mais harmoniosamente, e também muito importantes para a sociedade humana como um todo.
Uma profunda compaixão é a raiz de todas as formas de adoração.
Onde quer que eu vá, sempre aconselho as pessoas a serem altruístas e bondosas. Tento concentrar toda a minha energia e força espiritual na disseminação da bondade. É o que há de mais essencial.
A bondade é o que realmente importa. A bondade, o amor e a compaixão combinados são sentimentos que levam à essência da fraternidade. São os alicerces da paz interior.
Com sentimentos de ódio e rancor, é muito difícil alcançar a paz interior. Neste sentido, as religiões e crenças são convergentes. Em todas as grandes religiões do mundo, a ênfase é no espírito de fraternidade.
São os inimigos que verdadeiramente nos ensinam a vivenciar sentimentos de compaixão e tolerância. As guerras surgem porque não há compreensão do lado humano das pessoas. Ao invés de conferências e encontros políticos, por que não convocar as famílias a fazerem um piquenique para que se conheçam mutuamente, enquanto suas crianças brincam juntas?
Nos tempos antigos, quando havia uma guerra, o embate era corpo a corpo. O vitorioso entrava em contato direto com o sangue e o sofrimento do inimigo durante a batalha. Hoje, as guerras adquiriram uma proporção muito mais horrenda. Um homem, sentado em uma sala, aperta um botão e mata milhões de pessoas instantaneamente, sem ao menos ver o sofrimento humano que infligiu. A mecanização da guerra e a automação do conflitos humanos são, cada vez mais, uma ameaça à paz mundial.
Sempre acreditei que a determinação humana e a verdade prevaleceriam sobre a violência e a opressão. No mundo de hoje, em todos os lugares, há mudanças importantes ocorrendo, que poderão afetar profundamente nosso futuro e o futuro da humanidade, bem como nosso planeta. Decisões corajosas por parte de vários líderes mundiais propiciam a resolução pacífica de conflitos. A esperança de haver paz, preservação do meio ambiente e uma abordagem mais humana aos problemas do mundo parece estar mais presente que nunca.
Ninguém pode prever o que acontecerá em algumas décadas ou séculos, por exemplo, qual o impacto que o desflorestamento terá sobre o clima, o solo, as chuvas. Temos muitos problemas porque as pessoas estão centradas em seus próprios interesses, em ganhar dinheiro e não estão pensando no bem-estar da comunidade como um todo. Não estão pensando na Terra a longo prazo, e nos efeitos ambientais adversos sobre o homem. Se nós, da atual geração, não refletirmos sobre estas questões agora, as gerações futuras não terão como lidar com elas.
Muitos de nós juntam-se sob o mesmo sol resplandecente, falando línguas diversas, vestindo indumentárias diferentes e até mesmo possuindo crenças distintas. Contudo, nós todos somos idênticos como seres humanos e individualmente únicos. Desejamos todos, indistintamente, a felicidade e não o sofrimento.
Mesmo que não possamos resolver certos problemas, não devemos nos frustrar. Como humanos devemos enfrentar a morte, a velhice e doenças, que, tal qual um furacão, são fenômenos naturais que fogem ao nosso controle. Devemos enfrentá-los, não podemos evitá-los. São sofrimentos que já bastam em nossa vida. Por que criarmos mais problemas por apego à nossa ideologia ou porque pensamos de maneira diferente? É inútil e triste! Milhões de pessoas sofrem com esse tipo de problema. É um verdadeiro desperdício, visto que podemos evitar o sofrimento adotando uma atitude diferente e reconhecendo a humanidade à qual as ideologias deveriam servir.
Rancor, ódio, ciúme: não é possível encontrar a paz com eles. Podemos resolver muitos de nossos problemas por meio da compaixão e do amor. Só assim nos desarmaremos e encontraremos a verdadeira felicidade. Uma das maiores virtudes é a compaixão. A compaixão não pode ser comprada numa loja de departamentos ou fabricada por máquinas. Ela advém do crescimento interior. Sem paz de espírito, é impossível haver paz no mundo.
Na nossa vida, cultivar a tolerância é muito importante. Com tolerância, pode-se facilmente superar as dificuldades. Caso você tenha pouca ou nenhuma tolerância, ficará irritado com as mínimas coisas. Em situações difíceis, terá reações extremadas. Em minha vida, já refleti muito a respeito desta questão e sinto que a tolerância é algo que deve ser praticado no mundo inteiro, no seio da sociedade humana. Mas, quem nos ensina tolerância? Pode ser que seus filhos o ensinem a cultivar a paciência, mas é seu inimigo quem irá ensinar-lhe a prática da tolerância. O inimigo é seu mestre. Mostre-lhe respeito, ao invés de ódio. Dessa forma, a verdadeira compaixão irá brotar de seu interior e essa compaixão é a base de tudo aquilo que você é e acredita.
Bens e compensações materiais são absolutamente necessários à sociedade humana, a um país, a uma nação. Ao mesmo tempo, o progresso material e a prosperidade somente não podem levar à paz interior. A paz interior vem de dentro. Portanto, nossa atitude perante a vida, perante os outros e principalmente em relação às nossas dificuldades conta muito. Quando duas pessoas enfrentam o mesmo problema, atitudes mentais distintas fazem com que o problema seja de mais fácil resolução para uma pessoa do que para outra. Desta forma, o que realmente nos diferencia é a perspectiva interna de cada um.
Se colocarmos os níveis de consciência mais sutis a nosso serviço, estaremos expandindo nossa mente. Assim sendo, as virtudes originárias da mente podem se expandir ilimitadamente.
A compaixão e o amor são as virtudes mais preciosas da vida. Por serem muito simples, são difíceis de serem colocados em prática. A compaixão só poderá ser plenamente cultivada à medida que se reconhece que cada ser humano é parte da humanidade e pertencente à família humana, independente de religião, raça, cultura, cor e ideologia. A verdade é que não há diferença alguma entre os seres humanos.
Sem amor, a sociedade humana encontra-se em situação difícil. Sem amor, iremos enfrentar problemas terríveis no futuro. O amor é o centro da vida.
Se tiver amor e compaixão por todos os seres sencientes, em especial por seus inimigos, este é o verdadeiro amor e a verdadeira compaixão. O amor e compaixão, nutridos por seus amigos, esposa e filhos, não são verdadeiros em sua essência. São apego, e esse tipo de amor não pode ser infinito.
Insisto em afirmar que as principais religiões do mundo — budismo, cristianismo, judaÍsmo, confucionismo, hinduismo, islamismo, jainismo, sikhismo, taoismo, zoroastrismo — possuem os mesmos ideais de amor, o mesmo objetivo de beneficiar a humanidade por meio da prática espiritual, e a mesma determinação de aprimorar seus praticantes como seres humanos. Todas as religiões pregam preceitos morais para o aperfeiçoamento da mente, do corpo e da fala. Todas nos ensinam a não mentir, roubar ou tirar a vida de outras pessoas. A essência de todos os preceitos morais preconizados pelos grandes mestres da humanidade é o não-egoísmo. Esses mestres tinham como objetivo remir os praticantes de ações negativas, frutos da ignorância, e conduzi-los ao caminho do bem.
Se percebemos a humanidade como sendo una e singular, iremos constatar que as diferenças são secundárias. Com atitude de respeito e preocupação pelo próximo, experimentamos a felicidade. Só assim criamos a verdadeira harmonia e fraternidade. À sua maneira, tente cultivar a paciência. Modifique sua atitude. As mudanças vêm com a prática. A mente humana tem esse potencial. Aprenda a treiná-la.
A nossa sombra interior, a que chamamos de ignorância, é a raiz de todo o sofrimento. Quanto mais luz houver, menos a sombra se manifestará. A luz é o único caminho para a salvação, para alcançar o nirvana.
Deve haver um equilíbrio entre o progresso espiritual e o material. Atinge-se esse equilíbrio por meio de princípios calcados no amor e na compaixão. O amor e a compaixão são a essência de todas as religiões, que têm muito a aprender entre si. O objetivo primordial de todas as religiões é criar seres humanos mais tolerantes, mais compassivos e menos egoístas.
Os seres humanos são dotados de uma natureza tal que não deveriam apenas possuir bens materiais, mas deveriam antes possuir sustento espiritual. Sem o sustento espiritual, torna-se difícil adquirir e manter a paz de espírito.
Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.
Fonte: http://www.dharmanet.com.br/dalai/
Bondade e Compaixão
ESTA NOITE, gostaria de falar a vocês sobre a importância da bondade e da compaixão. Ao discutir esses temas, não me vejo como budista, Dalai Lama ou tibetano, mas sim como um ser humano e espero que vocês, no auditório, pensem em si mesmos dessa maneira. Não como americanos, ocidentais ou membros de um determinado grupo, pois essas condições são secundárias. Se interagirmos como seres humanos, podemos chegar a esse nível. Caso eu diga "sou monge" ou "sou budista", as afirmações serão, em comparação com a minha natureza de ser humano, temporárias. Ser humano é básico. Uma vez nascido assim, não se poderá mudar até a morte. Outras condições, ser ou não instruído, rico ou pobre, são secundárias.
Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns são criados essencialmente por nós mesmos, com base em diferenças de ideologia, religião, raça, situação econômica ou outros fatores. Chegou, portanto, o momento de pensarmos em níveis mais profundos. Em nível humano, condição essa que deveremos apreciar e respeitar em todos os que nos cercam. Devemos construir relacionamentos baseados na confiança mútua, na compreensão, no respeito e na solidariedade, independentemente de diferenças culturais, filosóficas ou religiosas.
Todos os seres humanos são iguais. Feitos de carne, ossos e sangue. Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento e temos direito a isso. Em outras palavras, é importante compreender a nossa igualdade. Pertencemos todos a uma família humana. O fato de brigarmos uns com os outros deve-se a razões secundárias, e todas essas discussões são inúteis. Infelizmente, durante muitos séculos, os seres humanos usaram todos os métodos para ferir uns aos outros. Muitas coisas terríveis aconteceram, resultando em mais problemas, mais sofrimento e desconfiança. E, consequentemente, em mais divisões.
O mundo hoje está cada vez menor em vários aspectos, particularmente o econômico. Os países estão mais próximos e interdependentes e, nesse quadro, torna-se necessário, pensar mais em nível humano do que em termos do que nos divide. Assim, falo a vocês apenas como um ser humano e espero, sinceramente, que vocês estejam escutando com o pensamento: "Sou um ser humano e estou ouvindo outro ser humano falar".
Todos queremos a felicidade; nas cidades, no campo, mesmo em lugares remotos, as pessoas trabalham com o objetivo de alcançá-la, entretanto, devemos ter em mente que viver a vida superficialmente não solucionará os problemas maiores.
Há muitas crises e medos à nossa volta. Por meio do grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia, atingimos um estado avançado de progresso material, que é necessário. Não podemos, no entanto, comparar o progresso externo com nosso progresso interior. As pessoas queixam-se do declínio da moralidade e do aumento da criminalidade, mas esses problemas não serão resolvidos, se não procurarmos desenvolver nosso interior.
No passado remoto, se houvesse uma guerra, os efeitos seriam geograficamente limitados, porém hoje, em função do progresso, o potencial de destruição ultrapassou o concebível. No ano passado estive em Hiroshima, no Japão. Mesmo tendo informações a respeito da explosão nuclear lá ocorrida, era muito diferente estar no local, ver com meus próprios olhos e encontrar pessoas que realmente sofreram com aqueles acontecimentos. Fiquei profundamente emocionado. Uma arma terrível tinha sido usada. Embora possamos considerar alguém como inimigo, temos de levar em conta que essa pessoa é um ser humano e que tem direito a ser feliz. Olhando para Hiroshima e refletindo a respeito, fiquei ainda mais convencido de que a raiva e o ódio não são meios para solucionar problemas.
A raiva não pode ser superada pela raiva. Quando uma pessoa tiver um comportamento agressivo com você e a sua reação for semelhante, o resultado será desastroso. Ao contrário, se você puder se controlar e tomar atitudes opostas "compaixão, tolerância e paciência", não só se manterá em paz, como a raiva do outro diminuirá gradativamente. Do mesmo modo, problemas mundiais não podem ser solucionados pela raiva ou pelo ódio. Sentimentos como esses devem ser enfrentados com amor, compaixão e pura bondade.
Pensem em todas as terríveis armas que existem, mas que, por si mesmas, não podem iniciar uma guerra. Por trás do gatilho há um dedo, movido pelo pensamento, não por sua própria força. A responsabilidade permanece em nossa mente, de onde se comandam as ações. Portanto, controlar em primeiro lugar a mente é muito importante. Não estou falando de meditação profunda, mas apenas de cultivar menos raiva e mais respeito aos direitos do outro. Ter uma compreensão mais clara da nossa igualdade como seres humanos.
Ninguém quer a raiva, ninguém quer a intranqüilidade, mas por causa da ignorância somos acometidos por sentimentos como esses. A raiva nos faz perder uma das melhores qualidades humanas, o poder de discernimento. Temos um cérebro bem desenvolvido, coisa que outros mamíferos não têm. Esse órgão nos permite julgar o que é certo e o que é errado. Não apenas em termos atuais, mas em projeções para daqui dez, vinte ou mesmo cem anos. Sem nenhum tipo de pré-cognição, podemos utilizar nosso bom senso para determinar o certo e o errado. Imaginar as causas e seus possíveis efeitos. Contudo, se nossa mente estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento e nos tornaremos mentalmente incompletos. Devemos salvaguardar essa capacidade e, para tanto, temos de criar uma companhia de seguros interna: autodisciplina, autoconsciência e uma clara compreensão das desvantagens da raiva e dos efeitos positivos da bondade. Se refletirmos a respeito dessas questões com freqüência, podemos incorporar a idéia e, então, controlar a mente.
Por exemplo: pode ser que você seja uma pessoa que se irrita facilmente com pequenas coisas. Com desenvolvida compreensão e conscientização, isso pode ser controlado. Se você fica geralmente zangado por dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe para zero. É assim que desenvolvemos e treinamos nossa mente. É o que penso e também o que pratico.
É perfeitamente claro que todos necessitam de paz interior, que só pode ser alcançada por meio da bondade, do amor e da compaixão. O resultado é uma família em paz, felicidade entre pais e filhos, menos brigas entre casais. Em uma nação, essa atitude pode criar unidade, harmonia e cooperação com saudável motivação. Em nível internacional, precisamos de confiança e respeito mútuos, discussões francas e amistosas, com motivações sinceras e um esforço conjunto no sentido de resolver problemas. Tudo isso é possível.
Precisamos, porém, mudar interiormente. Nossos líderes têm feito o melhor que podem para resolver nossos problemas, mas, quando um é resolvido, surge outro. Tenta-se solucionar este, surge mais um em outro lugar. Chegou o momento então de tentar uma abordagem diferente.
É certamente difícil realizar um movimento mundial pela paz de espírito, mas é a única alternativa. Caso houvesse outro método mais fácil e prático, seria melhor, porém não há. Se com armas pudéssemos chegar à paz duradoura, muito bem. Transformaríamos todas as fábricas em produtoras de armamentos. Gastaríamos todos os dólares necessários, se conseguíssemos a definitiva paz, mas tal é impossível.
As armas não permanecem empilhadas. Uma vez desenvolvidas, alguém irá usá-las. O resultado é a morte de criaturas inocentes. Portanto, a única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da transformação interior. E, mesmo que essa transformação não ocorra durante esta vida, a tentativa terá sido válida. Outros seres humanos virão; a próxima geração e as seguintes. E o progresso pode continuar. Sinto que, apesar das dificuldades práticas, e, mesmo correndo o risco de que tal visão seja considerada pouco realista, vale a pena o esforço. Assim, aonde quer que eu vá, expresso essas idéias e sinto-me muito motivado porque mais pessoas têm sido receptivas a elas.
Cada um de nós é responsável por toda a humanidade. Chegou a hora de pensarmos nas outras pessoas como verdadeiros irmãos e irmãs e nos preocuparmos com seu bem-estar. Mesmo que você não possa se sacrificar inteiramente, não deverá esquecer-se das dificuldades dos outros. Temos de pensar mais sobre o futuro em benefício de toda a humanidade. Se você tentar dominar seus sentimentos egoístas e desenvolver mais bondade e compaixão, em última análise, você é quem irá sair beneficiado. É o que chamo de egoísmo sábio. Pessoas egoístas tolas só pensam em si mesmas, e o resultado é negativo. Egoístas sábios pensam nos outros, ajudam da melhor forma e também colhem os benefícios. Essa é minha simples religião. Não há necessidade de templos ou de filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso coração são nossos templos. A filosofia é a bondade.
O caminho de meio
S.S. o Dalai Lama
Nagarjuna presta homenagem ao Buddha Shakyamuni, enaltecendo-o como o mestre que formulou a filosofia do vazio, segundo a qual todas as coisas e eventos carecem de existência intrínseca ou identidade intrínseca; e que, apesar de carecerem de identidade e existência, ainda funcionam com sua capacidade de produzir efeitos e assim por diante. Pode-se entender isso pela compreensão da natureza dependente ou interdependente da realidade. Nagarjuna homenageia o Buddha Shakyamuni, que propôs a doutrina do vazio da realidade intrínseca ao ensinar a natureza dependente dos fenômenos.
De um modo geral, encontramos na literatura Madhyamaka várias formas de raciocínio que visam a estabelecer a ausência de existência intrínseca e identidade intrínseca dos fenômenos. Incluem a tentativa de analisar como as coisas surgem em termos nominais e conceituais; ao examinarmos essa natureza, chegamos à conclusão de que as coisas carecem de realidade intrínseca. Além disso, encontramos as formas de argumentação conhecidas como "exame de identidade e diferença dos fenômenos". Também encontramos outros tipos de argumentação ou raciocínios que examinam os fenômenos pela perspectiva causal, isto é, pela perspectiva de sua capacidade de produzir efeitos e assim por diante.
Entre todas essas formas de raciocínio, no entanto, a mais poderosa é a do raciocínio da origem dependente, empregado por Nagarjuna. Quando uma coisa ou evento determinado é considerado, através de sua natureza de origem dependente, como desprovido de realidade, existência e identidade intrínseca, descobrimos que não estamos negando a existência dos fenômenos; estamos tentando compreender sua existência e identidade em termos de seus relacionamentos com outros fenômenos. Num certo sentido, pode-se dizer que a existência e a identidade afloram em relação a outros fenômenos.
O que há de tão singular nessa forma de raciocínio baseado na natureza interdependente da realidade, é o fato de que possui a capacidade de chegar ao "caminho do meio". É uma posição livre do extremo do absolutismo, porque não está ligada a algum tipo de realidade intrínseca; contudo, ao mesmo tempo, também está livre do extremo do niilismo, porque não nega a existência e identidade dos fenômenos. Aceita-se uma existência formal, que é dependente, que é emergente e que é compreendida em termos de sua interação e inter-relacionamento.
Assim, no Ingresso no Caminho do Meio (sânsc. Madhyamakavatara), encontramos Chandrakirti declarando que, depois que a compreensão da existência e da identidade dos fenômenos é desenvolvida, com base na noção da natureza interdependente da realidade, e como identidade e existência são derivadas desse inter-relacionamento, isso permite à pessoa entender o conceito buddhista fundamental da causalidade, em que nossa compreensão da natureza da realidade deriva do reconhecimento da mera condicionalidade. Dessa maneira, é possível refutar a idéia de fenômenos sem produção e sem causa, porque as coisas passam a existir através da interação com outros fatores, em decorrência de causas e condições. E através dessa percepção sobre a natureza interdependente da realidade, também é possível refutar a idéia da criação por alguma espécie de ser absoluto e independente, porque se compreende a causalidade em termos de mera condicionalidade. Da mesma forma, é possível refutar a idéia de que uma coisa pode passar a existir como dependente de causas idênticas a ela. É possível se livrar de todos esses extremos e aceitar a idéia da causalidade em seu verdadeiro sentido.
Mas quando tentamos compreender o que significa mera condicionalidade, ou como coisas e eventos surgem em total dependência de outras causas e condições, há muitas áreas problemáticas que temos de lembrar.
Vamos tomar como exemplo nossos próprios agregados, os skandhas. Se examinarmos o contínuo do agregado mais sutil, a consciência, e também o senso do "eu", ou do "ego", vamos verificar que a identidade pessoal baseia-se no contínuo do agregado sutil, o senso geral do "eu" que é desprovido de qualificações, seja como um ser humano, como uma pessoa de origem étnica específica etc. Em suma, não há qualificação. O mero senso do "eu" ou mera identidade, aquele "eu" ou senso do ego que deriva do contínuo do agregado sutil, não tem princípio em relação a esse contínuo. Portanto, não se pode dizer que o "ego" ou "eu" associado à nossa identidade como um ser humano é específico de uma única vida. Não podemos dizer que é um ser humano; não podemos dizer que é um animal. Mas podemos dizer que é um ser.
Em termos do contínuo, podemos dizer que o eu junto com a base do senso do eu, que é o agregado sutil, deriva de seu momento anterior, que por sua vez deriva de um momento anterior e assim por diante, porque há um processo contínuo. Contudo, não podemos dizer que é um produto do karma, porque o karma, em termos de seu processo contínuo, não tem participação na continuação do processo. É simplesmente um fato natural que esse contínuo leva adiante.
Mas se examinarmos num nível um pouco mais rude, por exemplo, no nível da existência humana, então temos o corpo humano e a identidade humana, que levam a pessoa a dizer: "Sou um ser humano". Esse senso do eu, assim como os agregados em que a identidade se baseia, pode ser considerado um produto do karma. Isso acontece porque ao falarmos de "corpo humano" e "existência humana" estamos nos referindo à conseqüência ou fruto do karma positivo, as ações virtuosas acumuladas no passado. Portanto, o karma desempenha um papel.
Vamos verificar o caso de um corpo humano. Embora possamos dizer, de modo geral, que é um produto do bom karma, se quisermos traçar a origem material, a causa substancial que é a origem material, a causa substancial que é a origem material de nosso corpo, podemos fazê-lo através do princípio causal que é a instância anterior ou os fluidos regenerativos parentais, depois seguir mais e mais longe. Portanto, podemos traçar a origem material até um ponto — vamos tomar como exemplo este sistema universal específico — em que encontramos o espaço totalmente vazio. Segundo a cosmologia buddhista, antes da evolução de um sistema universal específico, todas as substâncias materiais eram inerentes ao que é conhecido como "partículas espaciais". Ou seja, em termos do processo do contínuo material, é um fato natural, uma lei natural, que o princípio causal impulsiona substâncias materiais para prosseguirem seu contínuo. Mais uma vez, não há papel para o karma aqui.
A questão agora é a seguinte: em que ponto, em que estágio, o karma entra em cena? No estágio do espaço vazio, as partículas espaciais prosseguirão no contínuo material, que darão origem a várias estruturas compostas de partículas, levando a uma estrutura molecular, segundo a teoria científica. Com uma complexidade cada vez maior, chegará um ponto em que a composição das partículas materiais fará uma diferença para os indivíduos que habitam o mundo. Em outras palavras, o material se tornará diretamente relevante para a experiência de dor e de prazer das pessoas. É nesse estágio, em minha opinião, que o karma começa a desempenhar um papel. Quero que vocês pensem a respeito dessas áreas problemáticas.
Por causa dessa complexidade, encontramos na literatura buddhista vários cursos de raciocínio e quatro princípios fundamentais, que acredita-se estarem arraigados no mundo natural. Os três primeiros são o princípio da lei natural, o princípio da dependência e o princípio das funções. Depois, com base nesses três princípios, pode-se aplicar a lógica. A menos que haja certas bases que possam ser usadas, não é possível adquirir o raciocínio ou a lógica.
Pode-se dizer que a razão pelas quais podemos avaliar as leis da química é porque há determinados princípios, conhecidos como "o princípio da dependência" e o "princípio das funções". Quando determinadas substâncias materiais interagem, dão origem a propriedades emergentes. Isso nos permite avaliar as funções que podem ser realizadas coletivamente, através da interação. Assim podemos avaliar as leis da química.
Cabe aqui a pergunta: "Por que há no mundo natural, como se fossem fatos determinados, o reino material e o reino mental — o reino espiritual ou o reino da consciência?". Não há uma resposta racional. É apenas um fato.
À luz dessas considerações filosóficas, chegamos à conclusão de que as coisas e eventos, em última análise, carecem de existência intrínseca ou identidade intrínseca. Só possuem existência e identidade em relação a outros fatores, causas e condições. Portanto, a percepção que apreende coisas e eventos como tendo uma existência intrínseca, possuindo uma identidade e posição intrínseca, é o estado de ignorância. Na verdade, é um estado de conceito equivocado. Assim, ao gerarmos percepção sobre a natureza vazia dos fenômenos, poderemos ver diretamente através da ilusão desse conceito equivocado. Afinal, essa concepção se opõe diretamente ao estilo de absorção do conhecimento errado. Em conseqüência, esse estado mental distorcido pode ser removido ou eliminado. Por esse motivo, acredita-se que não apenas a ignorância, como também os estados ilusórios derivados, enraizados nesse estado fundamental de ignorância, podem ser removidos.
Levando essa discussão adiante, Maitreya, em seu Sublime Contínuo (sânsc. Uttaratantra) dá três razões sobre a base em que se pode concluir que o estado búddhico impregna as mentes de todos os seres sencientes. Primeiro, ele diz que as atividades do Buddha irradiam-se no coração de todos os seres sencientes. Isso pode ser compreendido de maneiras diferentes. Primeiro, é a de que em cada ser senciente há uma semente de virtude e que se pode considerar a semente de virtude como um ato do Buddha completamente iluminado. E compadecido. Mas pode-se perceber também, em termos mais profundos, que todos os seres sencientes possuem o potencial para a perfeição. Portanto, há uma espécie de ser aperfeiçoado inerente em todos os seres sencientes, irradiando-se. Segundo, no que se relaciona com a suprema natureza da realidade, há uma total igualdade entre o estado samsárico e o nirvana. Terceiro, todos possuímos uma mente que carece de realidade intrínseca e existência independente, o que nos permite remover os aspectos negativos e os estados ilusórios que a obscurecem. Por esses motivos, Maitreya conclui que todos os seres sencientes possuem a essência do estado búddhico.
Contudo, para ativar essa semente inerente em nosso coração ou mente devemos desenvolver a compaixão. Através do cultivo da compaixão universal a pessoa será capaz de ativar essa semente, o que a torna mais inclinada para o caminho Mahayana. Para isso, a prática da paciência e da tolerância é crucial.
(S.S. o Dalai Lama. A arte de lidar com a raiva: o poder da paciência.
Tradução de A. B. Pinheiro de Lemos da tradução de Geshe Thubten Jinpa.
Rio de Janeiro: Campus, 2001. Pág. 171-176)
Fonte: site www.dharmanet.com.br