Xamanismo
Nagualismo
é um conjunto de conhecimentos práticos que visam aumentar a nossa
energia afim de podermos aumentar a nossa capacidade de percepção e de
consciência. Tal aumento da energia também promove saúde, bem-estar,
magnetismo, sorte ( poder pessoal ) e uma postura forte e equilibrada
diante dos desafios da vida.
O
termo nagualismo é uma expressão cunhada por Don Juan Matus, mestre de
Carlos Castaneda, para definir o conhecimento ligado a linhagem de
xamãs-guerreiros do qual faziam parte.
Carlos
Castaneda trouxe à publico tal conhecimento, mas o conhecimento que
veio à luz é apenas parcela, uma generosa parcela, de uma estrutura bem
mais complexa. Em sua obra Poder do Silêncio, Carlos Castaneda nos fala
que o nagualismo consiste em 21 cernes abstratos e nessa mesma obra
estão delineados apenas 6 cernes. Por aí podemos deduzir a complexidade
que envolve o nagualismo.
O
conhecimento prático revelado por Castaneda e suas companheiras, por
xamãs como Don Miguel Ruiz, em comparação com outros conhecimentos afins
revelam um quadro belo e portentoso. Percebemos nítidas afinidades
entre o Nagualismo e o Taoísmo, entre o Nagualismo e o conhecimento do
Quarto Caminho, entre o Nagualismo e a filosofia Tântrica, entre o
Nagualismo e determinados ramos do Budismo, entre o Nagualismo e Thelema
. Reconhecemos também a singularidade do Nagualismo. Em nenhuma outra
escola esotérica encontramos por exemplo o conceito de ponto de
aglutinação ou a formulação energética do ser humano como uma bolha de
luz e energia, pelo menos se formos considerar isso com relação ao
conhecimento esotérico que veio de alguma forma à público. A concepção
de que o centro de energia do alto da cabeça está sob estado de sítio
também é própria da visão do Nagualismo.
Essas
semelhanças e singularidades legitimam um conhecimento, pois indicam
que iniciados de outras escolas chegaram as mesmas formulações ao
percorrerem o caminho e ao fazê-lo perceberam determinadas coisas que os
outros não viram ou viram e não se aprofundaram pois o conhecimento de
fato é vastíssimo, infinito mesmo.
Nagualismo vem de nagual. Nagual é uma palavra que tem múltiplos significados.
Pode
designar um líder de um grupo de xamãs-guerreiros, líder definido pela
sua configuração energética específica. Um nagual é um ser que tem
energia extra, duplicada. Enquanto um não-nagual possui uma bolha de
energia dividida em dois compartimentos, o nagual possui como que uma
bolha de energia dupla, com quatro compartimentos. Por ter energia extra
o nagual é naturalmente um líder, pois sua energia permite à ele ou ela
uma conexão mais intensa com o Intento. Segundo Don Juan o homem é um
nagual apenas por poder refletir melhor o Infinito, mas o elo com o
nagual humano é apenas eventual, nosso elo verdadeiro é como o Espírito,
com o Abstrato. Contudo é interessante notar como a configuração dupla
de um nagual, que sempre vem aos pares, macho e fêmea, espelha o signo
do Infinito.
Nagual
também é a designação para o Intento, o Abstrato, A Águia, O
Infinito, uma força impessoal que permeia todas as coisas expressando-se
através de leis cósmicas ou universais, é por si mesma indefinível . O
Intento e o Tao parecem ser a mesma força.
Nagual
é de outra maneira visto como o outro, o sósia, o corpo energético. O
corpo energético é um corpo forjado através da disciplina e que nos
permite expressar-nos em outras camadas da cebola, além da realidade
comum ou ordinária. No nagualismo o sonho é visto como uma porta para
adentrarmos em outras realidades e o veículo para tal viagem de
percepção é o corpo energético. No nagualismo existem muitas realidades,
o universo é um multiverso , a realidade que vivemos no dia à dia não é
a única possível.
O
nagualismo de certa forma é um conjunto de práticas que visam formar
um corpo de energia para podermos adentrarmos em outras realidades.
O
nagualismo por ser uma disciplina prática ou um conjunto de
conhecimentos práticos é um conhecimento aberto a incorporar novidades
de acordo com o tempo. É um sistema aberto, vivo , pragmático de
conhecimento. Não é uma doutrina ou um conjunto de dogmas. Não é uma
religião. Não há Deus ou Deuses a serem adorados ou reverenciados como
seres superiores. Há o Intento, o Tao, a Divindade como força da qual
todos fazemos parte, da qual somos expressão direta, da qual somos
manifestação efetiva. Assim o Nagualismo pode entender a afirmativa
thelêmica : Não há Deus além do Homem. Mas o contrário também pode ser
verdadeiro: Não há Homem além de Deus.
Nagual
também pode significar o desconhecido, em oposição ao conceito de
tonal, o conhecido. O tonal é tudo aquilo que pode ser definido,
descrito. O nagual é tudo aquilo que foge à descrição, a conceituação.
Tonal é a nossa pessoa social, nosso corpo, algo que tem começo e fim.
Já o Nagual não tem começo ou fim, é eterno.
Assim
o termo nagual é rico em sua abordagem, multifacetado, misterioso,
complexo. Interessante é refletir na idéia de que o tonal e o nagual
sendo opostos também são complementares e que um emerge do outro. Para
onde vai o tonal ou de onde vem o tonal, já que ele tem começo e fim ?
Do nagual. O nagual pode tornar-se tonal de certa forma quando o
desconhecido torna-se conhecido. Assim um engendra o outro tal como no
símbolo do Tao e seus pares de opostos : Yin e Yang.
O
Nagualismo e o Taoísmo possuem profundas afinidades. No Nagualismo
temos o conceito de agir por agir, agir sem esperar resultados. No
Taoísmo temos o conceito de wu-wei ( não-ação ). Encontramos conceitos
semelhantes no Budismo e sua ação segundo o dharma e na Karma-Yoga ou
Yôga da Ação .
Acreditamos
que as tradições afins podem aprender umas com as outras. O Nagualismo e
o Taoísmo parecem ter vindo de um tronco comum. Na história da linhagem
de Don Juan houve uma nagual chamado Lujan, um artista marcial
chinês, que deu grandes contribuições ao nagualismo, associando passes
mágicos e a arte marcial da tradição oriental ( Kung Fu, Tai Chi, Chi
Kung). Qualquer praticante de uma dessas artes nota de imediato à
semelhança à ponto de um mestre de Tai Chi certa vez ter me perguntado
várias vezes se eu era praticante de Tai Chi em minha primeira aula,
tendo apenas praticado Passes Mágicos por 3 anos. O próprio Castaneda
estimula a prática de Kung Fu como uma forma do praticante de
Tensegridade aperfeiçoar sua arte. O mesmo Castaneda foi certa vez
tratado e curado por um mestre em Kung Fu.
Acreditamos
que um praticante por ser um ser pragmático e não um seguidor de
doutrinas tem muito à ganhar se for capaz de ter a flexibilidade , a
fluidez para aprender através de diferentes tradições colhendo aquilo
que é útil para atingir a meta da liberdade de percepção através de
técnicas que propiciem uma acumulação e canalização da Energia.
O
Nagualismo assim é um método prático e aberto que visa aumentar o nosso
poder pessoal para irmos além dos limites perceptivos que nos foram
impostos. O Nagualismo é incompatível com o fanatismo sob todas as suas
formas e incongruente com seguidores em sua dependência dos passos
alheios. Alguém que de fato seja um praticante, num processo contínuo de
acumulação de energia, nunca poderá ser vítima da armadilha fanática.
O
Nagualismo enquanto conjunto de conhecimentos práticos, através do
nagual Carlos Castaneda nos apresenta algumas ferramentas para o
desenvolvimento do poder pessoal e do incremento de nossa energia :
O Caminho do Guerreiro ( um modo de vida ou estilo de ser )
Tensegridade ou Passes Mágicos
Recapitulação
Caderno de Navegação
Silêncio Interior
Uso dos Pequenos Tiranos
Sonhar
Espreitar
Todas
essas ferramentas interagem de uma forma tal a produzir uma
transformação pessoal. Deixamos de viver como homens e mulheres comuns,
meros escravos da ordem social, para nos tornarmos guerreiros e
guerreiras capazes de viver o sonho, o mito da liberdade total. Viver o
sonho não é viver um mundo de fantasia, mas sermos capazes de efetuar
uma revolução interna, pessoal, uma revolução da percepção, aqui e
agora, em nossas vidas, através de atos concretos, atitudes reais, que
constroem um tonal forte, um corpo forte, uma mente sadia, uma vida
equilibrada, onde a meta é SER livre das amarras que nos foram impostas,
amarras feitas de medo, culpa, preocupação com o que os outros vão
pensar, conceitos ilusórios, que não nos permitem utilizar o poder
incalculável que há em nossas mãos para adentrarmos em outras realidades
e não sermos uma presa fácil num universo que o nagualismo compreende
como predatório.
O
aumento da energia ou da consciência implica em lutas para superarmos
nossos limites e sempre que aumentamos nossa força , algo no imenso
desconhecido reconhece o aumento e nos coloca em xeque. Isso por exemplo
fica claro no Arte do Sonhar de Castaneda quando de seu embate com os
seres inorgânicos. Aliás não é à toa que o Nagualismo que também pode
ser definido como o Caminho do Guerreiro, tem esse nome. O processo de
evolução da percepção é um esforço consciente, que demanda grande luta,
disciplina e atenção, um embate feroz para superarmos as nossas
fraquezas e limites, mas um embate que mesmo sendo feroz, pois exigente
um intento inflexível, também exige fluidez, suavidade e leveza. Um
embate feroz que não é uma luta pela moralidade, mas uma luta para
desenvolvermos nossas habilidades perceptivas.
O
Nagualismo não exige um nagual ou um líder para alcançarmos a
liberdade. A exigência fundamental é que sejamos impecáveis em nosso
agir, pois o Abstrato é o mestre , o guerreiro, o sonhador e o
espreitador supremo. Quando um guerreiro ou guerreira é impecável o
Poder abre seu caminho até ele ou ela. Nós já estamos no Nagual, melhor
dizendo, de certa maneira nós somos o próprio Nagual, mas saber isso de
fato é uma questão de energia e de percepção.
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