19 de set. de 2011

Aos que despertam * Trigueirinho

A opção por seguir um caminho espiritual é algo secreto, intimo que ocorre entre o ser e o cosmos. Porém, tendo-se efetivado internamente, deve refletir-se na sua existência no mundo tridimensional. A mônada, núcleo de consciência em níveis cósmicos, embora normalmente pouco possa manifestar sua energia sutilíssima, quando necessário permeia com poderosa luz os corpos do indivíduo. Assim, “quando mais sutis são os corpos, mais receptivos estão às energias desses níveis profundos e supremos; quanto mais densos, mais resistentes às novas vibrações”.

Quando o descobrimento do mundo interior tem início, geralmente o indivíduo é levado a reconhecer a sua própria energia, a interagir com ela, a absorvê-la em seus corpos e a exprimi-la na vida externa com uma perfeição que dia a dia deve ir aprofundando. No decorrer desse processo, esse contato atingirá um ponto tal que as disparidades entre o lado humano e o interno do ser diminuem, estabelecendo-se maior comunhão entre aspectos aparentemente contraditórios.

Quando essa comunhão está para acontecer, transformações prenunciam a fase futura em que o indivíduo compartilhará mais integralmente da unidade da vida cósmica, em que ele verá a sua energia característica, pessoal, ceder lugar à naturalidade, e verá sua consciência ampliar-se, levando à dissolução a tendência de identificar-se com uma ou outra manifestação de núcleos superiores, tais como os centros intraterrenos, as Hierarquias e os Raios.

Ele terá então de adquirir grande mobilidade diante das situações que lhe forem apresentadas, transcendendo manifestações isoladas da energia e unindo-se à essência da vida.


Deixará, portanto, de ter preferências. Sua sintonia passará a ser regida não mais por afinidades, mas pela necessidade planetária. Assim poderá num momento exprimir a energia pura de certo Raio e no momento seguinte a de outro, conforme demandar o Plano evolutivo. Seu trabalho abrangerá âmbitos cada vez maiores, como decorrência e como reflexo da ampliação que vai ocorrendo em sua própria consciência.

Desse modo, um servidor, no sentido espiritual do termo, abdica de suas afinidades; não mais pergunta o que o próprio ser deseja manifestar, mas sim o que a vida planetária necessita que seja manifestado para tornar-se mais perfeita. E prossegue seu caminho com perseverança e fidelidade, sabendo que por meio do serviço poderá colher frutos doces e amargos, que devem ser igualmente aceitos. Seu empenho estará em alimentar a chama interior, atraindo para a Terra a luz que revela os mistérios da existência e demonstra serem todos os homens chispas de um único fogo, transmutador, renovador e que permite a continuidade dos cosmos. (…)

(…) Esta humanidade poderá ter sua expressão espiritual quando ao menos parte dela reconhecer o amor que sua própria essência nutre pela luz e pela verdade, e a esse amor abrir-se. Não é o número de indivíduos, mas sim a qualidade da sua entrega ao Supremo que promoverá a mudança de polarização da consciência da humanidade como um todo. Por isso os pensamentos, os sentimentos e as ações daqueles que despertaram deve estar permeados por essa entrega, a qual não só mantém sua própria conexão com a Realidade, mas a irradia aos semelhantes, auxiliando-os a igualmente atingi-la.

As interferências decorrentes da instabilidade dos corpos materiais exigem um esforço especialmente intenso em certos trechos do caminho da libertação, porém contribuem para que o peregrino adquira maior habilidade e destreza.

Fazem parte da trilha infinita que a cada nova etapa descortina à consciência horizontes mais amplos e mais belos, levando-a a reconhecer sua aproximação da Fonte. (…)


(…) Um estado de insatisfação e de conflito ronda a existência dos homens neste planeta. Esse estado não mudará até que percebam que a necessidade interna, planetária e humana, se transformou. O que a vida material oferece não atende mais à demanda da humanidade. Ainda que ela não o assuma, já foi tocada pela energia espiritual.

Enquanto a inércia dos corpos densos preponderar sobre esse novo estado interior haverá conflito no ser e conseqüentemente em toda a face da Terra. Entretanto, o impossível inexiste para a Realidade. O que parece distante e aparentemente inatingível aproxima-se quando o peregrino empreende a marcha em direção a ele.

No caminho espiritual, nada se encontra tão longe que não possa ser alcançado e nada se encontra tão perto que se confunda com o viver humano. Sublime beleza permeia essa senda, em que o peregrino aprende a deslocar-se com a leveza dos pássaros. Mundos sutis acolhem seus passos em solo desconhecido e conduzem-no a níveis onde um amor singelo, inocente e puro lhe penetra o coração e limpa-lhe os olhos, revelando-lhe cada ser à imagem do Criador. É um amor que rompe os véus da ignorância e mostra à consciência que no interior de todos mora a semente de um novo tempo, uma promessa que ora começa a ser cumprida.

Ao longo desse caminho, entretanto, é inevitável a emersão de aspectos negativos. A transmutação dessas forças retrógradas consome grande potencial de energia, porém, é facilitada quando brota no ser o trabalho interior e quando entrega, o amor e a doação se estabelecem em certo grau na sua consciência. Essas virtudes ensinam-lhe o valor da ação impessoal, silenciosa e invisível.

Concomitantemente ao que se passa na vida externa, seja qual for a circunstância na qual o ser se encontra, torna-se então perceptível dentro de si a chama que o mantém unido ao fogo que alenta a Criação.


Essa chama é como o fio principal que coliga cada indivíduo ao cosmos. É um canal ilimitado, por meio do qual o ser é colocado diante da luz despido de tudo, tanto nos seus aspectos positivos quanto dos negativos. Desperta na consciência um amor que não pune, mas eleva; que não é complacente, mas indica-lhe de modo especial o que deve ser por ela superado para que a sua expressão se torne plena dessa luz.
A cada indivíduo cabe descobrir seu próprio fio de união com a Hierarquia, e encontrar a sintonia com a Fonte. Tempos de caos ou de calmaria passam a ter valor equivalente para aquele que consegue reconhecer esse vínculo interno. As velhas formas, conceitos e estruturas dão lugar ao novo que está nascendo no planeta.
O trabalho de renovação, de demolição de formas cristalizadas para o ressurgimento da vida requer soltura e maleabilidade. Muitos adquirem essas qualidades por meio do sofrimento. Portanto, é natural que o corpo astral comunique à consciência seu estado de insatisfação, como também faz parte do mecanismo do corpo mental questionar. Entretanto, o que difere do homem comum o ser que se dedica á vida interior é o modo como a consciência se relaciona com o movimento desses corpos
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AOS QUE DESPERTAM
Trigueirinho – páginas.14, 15, 16, 31,32, 35, 36 e 337.
Editora Pensamento – 1993