Quando era mais nova, escrevi um conto sobre morangos.
Baseado em fatos verídicos, vindos da minha própria vivência com a fruta.
Coloquei no papel e depois num blog, transformando uma simples mordida...
Em outra narrativa autoral, com direito a versos e tudo o mais.
Aqui vai uma releitura.
Começou com uma caixa repleta de morangos frescos, colhidos e vendidos
Por uma feirante na esquina da casa da vovó.
Eram vermelhos; vermelhos como fogo queimando madeira.
Brilhantes; brilhantes como raios de sol pela manhã.
Irresistíveis, ainda foram vítimas da desconfiança da neta.
Prestes a colocar na boca, sempre recusava degustá-los
Pelo simples medo de serem amargos, ácidos e azedos,
Como os anteriores com que se decepcionou uma vez.
Segundos, minutos, horas, dias se passaram
E ela não os mordia. Nem uma lasquinha.
Enquanto fechava e abria a boca sem parar,
Recordava-se de caixas de fruta passadas
As que continham morangos estragados
Dos que provou e não gostou.
Vale mesmo a pena provar algo novo
Existindo a chance de ser ruim,
Como uma vez foi?
E os segundos, minutos, horas e dias se esgotaram
Até que os morangos perderam seu encanto
E a garota, vendo o mofo, compreendeu
A vida é curta demais para desperdiçá-la.
Mesmo que o morango não fosse bom
Mesmo que fosse como os outros
Não deixaria de ter sabor.
Um sabor que deve ser experimentado
Passageiro, mas necessário
Para que outros morangos venham
E sejam saboreados.
A cada pedaço provado
Um segundo é usado
Não desperdice esse tempo
Com medo de encontrar um morango estragado.
Existem morangos prazerosos
E também os amargos
É tudo o que as frutas podem oferecer
Uma sensação diferente a cada dia
Um dia depois do outro
Mas nunca o mesmo.
Quem sabe o porquê de frutas existirem?
Talvez descubramos provando-as, talvez não.
Talvez essa não seja exatamente uma história sobre morangos.
E a menina, convencida de que jamais esgotaria seus minutos outra vez
Comprou uma nova caixa de morangos
E comeu.
Ela não receou. Não negou.
Ela agarrou. Segurou a oportunidade e se entupiu de morangos.
Encontrou alguns doces, e outros, nem tanto
Quem se importa?
Ela comeu.
E hoje não tem mais o mesmo medo
De provar o morango errado.
Seu tempo é valioso, corre como um raio
O pouco que tem é desviado para as frutas
Sejam morangos, uvas ou tangerinas
Cada mordida abre uma nova porta
Para comer algo diferente.
A cada dia ela se torna mais forte
Extrai os nutrientes do alimento
Para acompanhar o tempo
E viver cada momento.
Aprendeu que todo morango deve ser consumido.
Os componentes serão processados por seu corpo
Transformados em algo que faça a prova ter valido.
Procure pelos morangos, receba-os.
Prepare-se para experimentar explosões de sabores.
Viva, prove, seja, realize.
Colecione morangos.
Releitura em natureza do Novo Ser