14 de fev. de 2011

Mineralograma - Mineralograma - parte I

http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/4094
Parte II
http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/4093

As perguntas mais freqüentes sobre o Relatório do Mineralograma da TEI.

Juntamente com o mineralograma, a TEI lhe fornecerá um relatório exclusivo sobre os resultados de seu exame. Além das informações usuais sobre os níveis de cada mineral, você receberá explicações acerca dos minerais mais importantes para você e de suas inter-relações, ou seja, de seu equilíbrio mineral. Você ficará sabendo também se seu metabolismo é rápido ou lento, isto é, o seu tipo metabólico. Além de uma lista com os suplementos recomendados, você saberá quais os alimentos que deve ingerir mais e quais os que deve evitar, podendo assim melhorar ainda mais o seu equilíbrio mineral.


Meu relatório diz que meu metabolismo é lento. Como é que se pode determinar isso a partir do mineralograma do cabelo?

A classificação metabólica metabólica é um exclusividade do Relatório do Mineralograma da TEI. As pesquisas que conduzimos indicam que o nível dos minerais diz muito a respeito do metabolismo, isto é, da forma como o organismo lida com os nutrientes. O Dr. David L. Watts descobriu que certos minerais atuam como estimulantes ou aceleradores do metabolismo, ao passo que outros o tornam mais lento, funcionando como verdadeiros sedativos. Se os níveis minerais indicarem predomínio de minerais sedativos em seu organismo, provavelmente sua atividade metabólica será desacelerada. Por isso, seu metabolismo seria classificado como lento. Essa distinção é importante quando se trata de suplementação. Você certamente não quer tomar vitaminas e minerais sedativos, o que poderia tornar seu metabolismo ainda mais lento. É por isso que criamos especialmente para você uma fórmula múltipla chamada Para Pack. Ela contém apenas os nutrientes estimulantes do metabolismo e seus auxiliares sinérgicos.

Por outro lado, uma pessoa de metabolismo rápido deveria tomar apenas vitaminas e minerais sedativos, uma formulação especial que chamamos Sym Pack. Como você pode ver, esta é mais uma razão para que um complexo multivitamínico geral não possa adequar-se às necessidades de todo o mundo.


Tenho peso abaixo do normal. Como meu metabolismo pode ser classificado como lento?

O peso não é uma boa indicação do tipo de metabolismo. As pessoas de metabolismo lento geralmente têm peso acima do normal. Mas pode acontecer que alguém cujo metabolismo seja lento esteja abaixo do peso normal devido a má digestão, má absorção ou mesmo algum problema intestinal. Assim, embora o ritmo do metabolismo influa sobre o ganho ou perda de peso, ele não é o único fator envolvido.

Por que recomendar-me um determinado mineral se o resultado de meu exame mostra que seu nível já está alto?

Mais uma vez, isso vai depender das já mencionadas inter-relações dos nutrientes . Por exemplo, o magnésio pode estar alto. Mas se estiver baixo em relação ao cálcio, existe uma deficiência "relativa". Recomenda-se então uma suplementação de magnésio para que sua relação cálcio-magnésio melhore. Ela serve também para diminuir o excesso de cálcio e aumentar a retenção de potássio ( mas isso já é outra história).


Meu relatório mostra que os níveis de certos minerais estão altos, mesmo que eu não coma alimentos ricos em tais elementos. Como isso pode acontecer?

Isso não é tão incomum. um exemplo muito freqüente é o da pessoa que segue uma dieta baixa em sódio e, no entanto, apresenta alto nível desse mineral. Aí é que entra o equilíbrio glandular. A retenção de sódio pode ocorrer quando há excesso de atividade das supra-renais: é o caso, muitas vezes, da pessoa de metabolismo rápido. Seja a dieta rica ou pobre em sódio, esse desequilíbrio causará a retenção de sódio.

Isso também pode ser visto ao contrário. Uma pessoa de metabolismo lento cuja atividade supra-renal seja baixa pode apresentar baixo nível de sódio, mesmo comendo muito sal. Assim, vê-se que o tipo de metabolismo tem que ver não só com o equilíbrio da atividade glandular, mas também com o estado nutricional. o Relatório do Mineralograma da TEI constitui um meio de saber o que é certo para você, abrindo-lhe uma nova compreensão de seu metabolismo


Por que um mineral cujo nível está baixo nos resultados de meu exame não é recomendado em meu programa de suplementação?

As recomendações quanto à suplementação baseiam-se em seu padrão mineral como um todo, e não nos níveis individuais dos elementos. Por exemplo, você sabe que seu nível de cálcio pode não aumentar necessariamente, mesmo que você tome cálcio? Muitas vezes, um mineral cujo nível está baixo pode atingir um nível normal quando se reduz outro elemento que o "antagoniza", permitindo assim uma melhor retenção ou absorção do mineral deficiente. Ou então acrescenta-se um outro elemento. No caso da deficiência de cálcio, o cobre pode ser recomendado graças à sua reconhecida eficácia na melhoria da retenção do cálcio.


Entendo como o mineralograma do cabelo possa indicar as deficiências minerais, mas meu relatório sugere que eu tome também certas vitaminas. Existem vitaminas no cabelo?

Não há vitaminas no cabelo. Mas as vitaminas e os minerais interagem. Por exemplo a atividade da vitamina A é de substancialmente reduzida quando há deficiência de zinco.A vitamina C auxilia a absorção do ferro; portanto a falta deste pode indicar uma necessidade de vitamina C. Assim, seu padrão mineral pode fornecer informações também sobre o status vitamínico de seu organismo.


Os resultados de meu mineralograma de cabelo apontam altos níveis de mercúrio e, no entanto, eu não me sinto envenenado. Por que não?

Em primeiro lugar, a presença de um metal pesado em seu resultado não indica necessariamente um envenenamento. Este consiste de sintomas, que representam uma forma de diagnosticá-lo. Os sintomas podem surgir a depender da quantidade existente e do tempo. Seu mineralograma indica que você pode ter sido exposto ao mercúrio, talvez até antes de nascer. Seguindo as recomendações quanto à sua suplementação e ingerindo proteínas, estará aumentando a capacidade de seu organismo de eliminar naturalmente esse metal tóxico. Talvez haja um certo desconforto passageiro, à medida que o mercúrio for sendo eliminado. Isso é previsível. Por favor, entre em contato com seu médico para maiores informações.


Sinto-me maravilhosamente bem, mas meu mineralograma apontou vários desequilíbrios minerais. Se isso fosse verdade, eu não deveria sentir-me mal?

As pessoas podem sentir-se muito bem e , ainda sim, ter desequilíbrios. Os resultados de seu exame indicam o seu status mineral atual. A depender do tempo de existência desses desequilíbrios, os sintomas podem manifestar-se ou não.


Sou vegetariano. Como posso modificar as recomendações dietéticas do meu Relatório de Mineralograma do Cabelo?

No momento, não dispomos de um relatório de mineralograma especificamente voltado para os vegetarianos, mas já analisamos os relatórios de diversas pessoas que praticam o vegetarianismo. sugerimos que você mantenha a razão de proteínas, gorduras e carboidratos com base em seu tipo de metabolismo. simplismente substitua as proteínas das carnes por combinações de proteínas vegetais.



Estou tomando medicação. Isso afetará os resultados do meu exame?

As drogas afetam não só o seu estado nutricional como também suas necessidades por exemplo, os esteróides utilizados para o controle da dor podem causar uma perda significativa de cálcio. Tais efeitos variam conforme a dosagem e a duração do tratamento com a droga. Os resultados de seu mineralograma de cabelo lhe possibilitarão contra-balancear esses efeitos, através do tratamento imediato de quaisquer desequilíbrios detectados. entretanto, como algumas vitaminas e minerais podem interferir na medicação, é recomendável consultar o médico.


A suplementação recomendada para meu caso não inclui o cálcio. eu não deveria tomá-lo para prevenir a osteoporose?

Não necessariamente. Muitas coisas -além da deficiência de cálcio- podem levar os ossos a uma perda de cálcio. Na verdade. há mais de 30 fatores que podem provocar isso. Todos eles são levados em consideração no seu Relatório de Mineralograma.


Estou grávida e quero amamentar meu bebê. A gravidez afeta os resultados do mineralograma do cabelo? Devo tomar os suplementos recomendados durante a gestação e a amamentação?

A gravidez de fato provoca mudanças substânciais na química do organismo, tanto do ponto de vista hormonal quanto nutricional. Elas estarão evidentes no relatório de seu mineralograma. E a suplementação adequada não traz risco algum para a mãe nem para a criança. recomenda-se que o exame seja refeito a cada dois ou três meses durante a gravidez, sem esquecer que as gestantes devem contar com supervisão médica constante.

A ingestão de suplementos não tem efeitos adversos sobre a lactação. Na verdade, a mãe que está amamentando precisa estar mais saudável possível.

Odeio tomar comprimidos. Tenho de tomar todos os suplementos recomendados para que minha saúde melhore?

Fazer alguma coisa é muito melhor que não fazer nada. Se tomar seus suplementos uma vez por dia ou mesmo uma vez a cada dois dias, contribuirá para, pelo menos, manter seu atual estado nutricional. Lembre-se que as recomendações de seu relatório estão voltadas para tomar o mínimo de suplementos e atingir o máximo de resultados.

Ouvi dizer que o ferro pode causar sérios problemas de saúde. Devo mesmo tomá-lo?

Você está certo. Descobriu-se que o excesso de ferro causa problemas à saúde. e o mesmo se aplica a outros minerais e vitaminas quando tomados em excesso. O excesso de ferro no organismo provoca a formação de radicais livres, os quais destroem as células. Esse é mais um bom exemplo de como o mineralograma do cabelo pode ajudá-lo.

Com base nos resultados do exame, podemos especificar o que você necessita. Você só tomará ferro se precisar. Portanto, pode seguir sem susto as recomendações do relatório de seu mineralograma de cabelo, a menos que contra-indicado por seu médico.


Eu tenho de tomar os suplementos da TEI ou posso usar outros?

Fique à vontade para tomar quaisquer outros suplementos nutricionais de boa qualidade. Seu objetivo deve ser apenas selecionar aqueles de melhor qualidade para garantir a máxima absorção de nutrientes pelo organismo. Certifique-se de que os minerais sejam quelados aminoácidos de amplo espectro (QAA). Não aceite substitutos (aspartatos, citratos, picolinatos, gluconatos, etc.).

Uma palavrinha sobre os suplementos desenvolvidos pela TEI: a nossa marca- Trace Nutrients - é fruto de vários anos de estudo de centenas de milhares de mineralogramas de cabelo. Nossa pesquisa volta-se para a descoberta da melhor maneira de criar os suplementos mais biocompatíveis possível. è por isso que os suplementos Trace Nutrients são formulados sinergicamente : eles contêm o sinergista ou auxiliar que facilita sua absorção. A relação custo-benefício, portanto é melhor. Portanto, quando você usar Trace Nutrients Magnesium Plus, por exemplo, você estará tomando não apenas magnésio, mas também o sinergista correspondente - a vitamina B6, que auxilia a absorção do magnésio.

Naturalmente, quase todos os produtos da linha Trace Nutrients são hipoalergênicos, já que não contém alérgenos de trigo, levedo, soja, alfafa, leite nem milho. Tampouco contêm sal, açúcar, amido, cera, óleos hidrogenados. colorantes, aromatizantes nem são quelados aminoácidos de amplo espectro.



Quanto terei de esperar até conseguir restabelecer meu equilíbrio mineral?

Essa resposta é um pouco complicada. Evidentemente, você sabe que os desequilíbrios decorridos de toda uma vida de negligência não podem ser corrigidos da noite para o dia. E, à medida que esses desequilíbrios forem sendo corrigidos, outros desequilíbrios subjacentes, ainda não detectados, podem vir à tona.

Seja paciente! A boa saúde vale esse esforço. O processo é muito parecido com o de tirar as cascas de uma cebola: você colherá melhor o real estado de sua saúde a cada casca retirada. Sua reação vai depender do grau de observância das recomendações e da gravidade ou cronicidade de seus desequilíbrios. Mas não se baseie apenas na melhoria dos sintomas para avaliar sei progresso. É necessário fazer um mineralograma de acompanhamento para ter certeza da evolução de seu organismo rumo ao equilíbrio. Assim, não deixe de fazê-lo para poder acompanhar as alterações em suas necessidades orgânicas, conforme dirão as recomendações do relatório de seu mineralograma de acompanhamento.

Quanto será o bastante? Bem, mesmo que sua saúde seja boa, as recomendações de seu relatório são fundamentais para saber exatamente que hábitos cultivar. Quais os melhores alimentos em seu caso? Que suplementos tomar- e NÃO tomar - em determinado período? Quais os poluentes que mais estressam seu organismo? A que tipo de desequilíbrio você está mais propenso diante de estresse físico e mental?

Somos seres dinâmicos, afetados pelos fatos do cotidiano. E o nosso organismo reflete essas mudanças.

A mensagem é esta: saber é poder. O mineralograma do cabelo é um instrumento que pode ajudá-lo a saber e entender o que é melhor para você. Use-o entre cada três e seis meses. Acompanhe as mudanças de seu organismo e de suas necessidades enquanto vive sua vida da melhor maneira possível.



IMPORTANTE
Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios.
As informações disponíveis no site da Dra. Shirley de Campos possuem apenas caráter educativo.
Publicado por: Dra. Shirley de Campos

Saindo da Matrix: SANTO DAIME (AYAHUASCA) v1.5

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/12/santo_daime.html
http://www.erowid.org/chemicals/ayahuasca/ayahuasca_journal3.shtml

http://www.adroga.casadia.org/news/usoritual.htm
Banisteriopsis caapi: ação alucinógena e uso ritual.

http://www.voadores.com.br/site/geral.php?txt_funcao=colunas&view=4&id=311

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2010/03/o_contexto_da_a.html
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2010/03/ayahuasca_contexto.html



Ser Xamã não é apenas botar uma pena na cabeça e ficar tocando bombo sob o efeito de alucinógenos. Mas, infelizmente, é essa a impressão que passa para o público leigo, que não viveu essa cultura e que não aprendeu na escola o contexto espiritual e social de uma época perdida há várias e várias gerações.
Um exemplo mais urbano e próximo do Xamã seria o padre da cidadezinha de interior: ele conhece praticamente todo mundo da cidade, não só de vista, mas os seus problemas e anseios (através do confessionário), é respeitado como líder espiritual, faz sermões onde analisa o rumo da cidade e aponta onde precisa melhorar, e também traz conforto e orientação espiritual para quem se sente perdido, desviado de seu grupo social. No caso de um Xamã verdadeiro ele, além disso tudo, consulta os espíritos em busca de um norte para poder guiar seu povo, e cura para os enfermos. Aí entra, em seu contexto original, a Ayahuasca, o tabaco, o peiote e outras plantas de poder.

para que não haja dúvidas, vamos analisar duas tribos que fazem uso tradicional do Ayahuasca:

Primeiro, os Yawanáwa.

...a ayahuasca é consumida tanto no processo de iniciação como nas cerimônias de cura ou de agressão. A execução das rezas com fins terapêuticos é feita em ritual celebrado à noite, quando as pessoas da aldeia já estão dormindo, de forma que acontece em ambiente restrito. A cerimônia pode ser realizada conjuntamente por um ou por vários xinaya. Normalmente, o doente não está presente ao ritual. Os xinaya, sob os efeitos da ayahuasca, cantam suas rezas sobre um pote cheio de uma bebida fermentada de mandioca (a caiçuma) que o paciente beberá depois.
É comum que, antes de ter decidido submeter-se à iniciação xamânica, a pessoa esteja familiarizada com as cerimônias, com certos conhecimentos e com algumas bebidas alucinógenas, em especial, a Ayahuasca. (...) Além disso, o iniciante deve reduzir no máximo suas relações sociais, evitando qualquer contato com as mulheres e isolando-se temporariamente na floresta, longe da aldeia. Ao mesmo tempo, começa a consumir Ayahuasca e tabaco diariamente, bem como passa a assistir sistematicamente às cerimônias de cura, durante as quais deve memorizar as rezas entoadas pelos outros xinaya e shuintia. O processo se completa com a superação de certas provas iniciatórias. (...) A memorização dos conhecimentos xamânicos requer sofrimento, e é através da abstinência alimentar e sexual, assim como das provas iniciáticas descritas, que esse estado ideal é alcançado. O iniciante deve chegar a um estado total de concentração e autocontrole para poder reter tal quantidade de saberes na memória. Ademais, a ingestão de substâncias alucinógenas - em particular, a Ayahuasca - exerce papel importante nesse processo de aprendizado das rezas e dos mitos. Dizem os Yawanáwa que, sob os efeitos dessa beberagem, o iniciando é capaz de visualizar mentalmente o conteúdo do narrado ou falado pelos xinaya que estão atuando em uma cerimônia e, assim, o conhece, memoriza e incorpora. Através dos estados alterados de consciência produzidos por estas substâncias o aprendiz entra em contato com o domínio dos yuxin, que transparece em mitos e rezas. O conhecimento deste meio é essencial à atividade xamanística, uma vez que o xamã, em qualquer de suas facetas, é mediador entre ambos os aspectos da realidade.

Agora, a tribo Harakmbet:

A principal função do Xamã é curar. E os espíritos das plantas possuem uma informação imprescindível que só pode ser captada por experts em interpretar o que acontece no "além". Uma vez que o Xamã "vê" o que deseja, através das substâncias de origem vegetal, ele as abandona paulatinamente e recorerá ao tabaco (paimba), que é a planta principal do Xamã. Qualquer Harakmbet, passada a iniciação, pode consumir drogas, mas só o Xamã capta a realidade diferente. É ele que consegue ver e interpretar os sinais do além e transformá-los em símbolos, desenhos ou mandalas que devem ser feitos em cima do corpo do paciente, e estudados por eles no sentido de permitir o diagnóstico e a cura das enfermidades para aquela pessoa, que pode estar numa certa planta medicinal que o Xamã intui ser a adequada para aquele caso.
Apesar do uso da Ayahuasca estar intimamente ligado à cura, ele é apenas a FERRAMENTA de acesso do Xamã a outros mundos, para que ELE vá em busca da cura. A deturpação de que a bebida SEJA a cura começou com os Xamãs da cidade. O antropólogo Jean-Pierre Chaumeil fala, em seu texto Curandeirismo do Amazonas, que o uso de alucinógenos no âmbito indígena parece essencialmente ligado a uma iniciação xamânica, já que, nas curas, o tabaco (fumado, mastigado ou bebido) é que assume papel preponderante.

Segundo os conceitos indígenas, os alucinógenos são entidades que "ensinam", mais do que atuam por si mesmas e para si mesmas. Os alucinógenos entraram paulatinamente na parafernália terapêutica dos Xamãs mestiços que atuam nas cidades, e, em consequência, retroativamente este uso se difundiu entre alguns Xamãs indígenas. A extensão dos alucinógenas a um âmbito de aplicação estritamente terapêutica (diagnóstico e cura) parece ser um fenômeno relativamente recente, se levados em conta os dados da etnografia indígena, que os associam mais a um modo específico de aprendizagem e conhecimento.

Cabe dizer que o uso de alucinógenos não é de uso reservado dos Xamãs. A maioria dos indivíduos, homens e mulheres, seja no meio indígena ou mestiço, podem viver esta experiência guiados por Xamãs treinados. Neste caso, as ingestões são orientadas no sentido de auto-cura ou de efeitos telepáticos. Em todo caso, as ingestões nunca são anárquicas ou de forma indiferente.


Agora eu pergunto: é o Xamã ou a Ayahuasca que "cura"?
Com que objetivo e contexto era usada originalmente a Ayahuasca? Fazer uma "viagem a passeio" ou acessar informações de "mais além" para ajudar aos necessitados?

O uso da Ayahuasca foi se deturpando com a modernidade, e virou um passatempo para a população cabocla da região Amazônica. Até que chegou Irineu.

A HISTÓRIA DO DAIME

Adaptado do site Santodaime.info

Descendente de escravos, Raimundo Irineu Serra deixou o Maranhão para trabalhar no Acre como seringueiro, nas regiões do Xapurí, Brasiléia e Sena Madureira. Também trabalhou como funcionário na Comissão de Limites na delimitação da fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Foi na cidade de Cobija, na Bolívia (fronteira com o Acre, na cidade de Brasiléia) que Irineu, convidado por dois amigos a participar de uma sessão de Ayahuasca, ministrada por um caboclo peruano de nome D. Crescêncio Pisango, também conhecido por Huascar.

De primeiro Irineu não aceitou, mas depois pensou e disse: "Eu vou. Se for uma coisa boa vou levar pro meu Brasil, pois de coisa ruim o meu Brasil já está cheio". Da primeira e segunda vez que tomou a bebida nada sentiu, só na terceira é que chegaram as "mirações". Estava sentado numa roda de 12 pessoas quando D. Pisango se aproximou e "entrou" na cuia grande onde era servida a Ayahuasca, sendo percebido apenas por Irineu. O caboclo pediu que ele convidasse o grupo a olhar dentro da cuia e que dissessem o que estavam vendo. Responderam que viam apenas a bebida. Então o caboclo Pisango explicou ao Mestre Irineu que só ele tinha condições de trabalhar com aquela bebida e que ninguém mais conseguia ver o que ele via com a Ayahuasca.

Numa outra noite voltaram a tomar a infusão. Um amigo, Antônio, que estava no quarto, chamou Irineu, que olhava encantado para a lua, e disse:
- Raimundo, aqui tem uma senhora chamada Clara que quer falar com você.
- Por que ela não fala contigo mesmo?
- Não sei não, mas diz ter te acompanhado desde o Maranhão. Ela tem uma laranja na cabeça para lhe entregar. Fala que vai te procurar na próxima sessão.

E assim foi. Era uma quarta-feira duma noite linda de luar. Irineu se deitou na rede de modo a apreciar a lua e, pouco a pouco, a "força" da Ayahuasca foi chegando, intensificando as mirações e, neste momento, é que viu a lua se aproximando pra bem pertinho dele. Uma Senhora, sentada ao centro da lua com uma águia na cabeça em ponto de voar lhe disse:
- Quem tu achas que sou?
- Pra mim é uma Deusa.
- Tu tens coragem de me chamar de Satanás?
- Ave Maria, minha Senhora, de jeito nenhum.
- Você está pensando que sou uma princesa, mas não, eu sou a Rainha Universal.
- Tu achas que o que tu estás vendo agora alguém já viu?
- Acho que sim, minha senhora (Irineu julgava que outros tantos que já haviam bebido a ayahuasca também já podiam ter tido aquela visão).
- Tu estás enganado. O que vês agora, ninguém jamais viu, só tu. Eu vou te entregar este mundo para tu governar, mas isso não é agora, primeiro tens que te preparar. Agora que tu já é homem, tu vais trabalhar e vais ficar com teu cabresto assim bem curtinho. Vais ter uma preparação para ver se tu tens merecer verdadeiramente. Tu vais passar oito dias comendo só macaxeira (mandioca) cozida e insossa, com água e mais nada, nem ver e nem ouvir mulher alguma.

Irineu, no dia seguinte, se retirou para a mata com o propósito de cumprir as ordens da Rainha. Conta-se que no quarto dia ele foi tentado com várias visões, com intenção de lhe amedrontar. Os paus na sua frente criavam vida, parecia que estavam todos rindo dele, caboclinhos surgiam de todos os lados, fazendo contato com os animais que chegavam bem próximo. Com sua espingarda dava tiros para o alto, pois os estampidos o confortavam naquela situação. (Até hoje, nos trabalhos feitos na Doutrina do Santo Daime, se costuma soltar foguetes durante a sessão espiritual, para que seja lembrada aquela passagem da vida do Mestre Irineu).

Outro fato interessante que se conta é que, certo dia, Antônio Costa estava em casa, preparando a mandioca insossa do amigo, quando pensou em botar um pouquinho de sal, mas imediatamente mudou de idéia e quando, mais tarde, Irineu voltou das matas, disse a Antônio que viu que ele ia colocando sal na macaxeira mas resolveu não por. Antônio se espantou com o amigo:
- Mas rapaz, como é que tu fez pra saber? Então já sei que tu tá aprendendo.

No oitavo dia de iniciação nas matas, a Rainha voltou a aparecer para Irineu e lhe entregou a laranja como símbolo do globo universal. Ele pediu que o fizesse um curador e ela respondeu:
- Já está feito e tudo está em tuas mãos.

Também o advertiu de que teria muito trabalho com aquela missão, e que nada poderia tirar em proveito próprio (Assim como hoje o Daime não pode ser comercializado, pois desta forma estariam em desobediência às ordens da Rainha). Logo Irineu entendeu que aquela senhora era a Virgem Mãe Santíssima, a Virgem da Conceição, e que tudo aquilo que ele havia ouvido e visto não eram suficientes para ele ser (curador). Ele havia recebido sim aquela missão e a partir daí ele tinha que dar prova e se fazer ser.

Durante alguns anos, Irineu percorreu caminhos espirituais difíceis entre a dúvida e a certeza, a verdade e a mentira, pois quem anda nesta estrada sabe que uma linha muito fina separa estes princípios, o que é certo do que é errado. Mas a Virgem Soberana continuou a aparecer muitas outras vezes para Irineu lhe dando força, conforto e fé, e numa destas aparições foi revelado ao Mestre o nome da bebida. O verbo "dar" originou a palavra "Daime". Em alguns hinos da Doutrina se encontram as expressões "dai-me amor", "dai-me fé", "dai-me cura", pois quem toma Daime deve estar pronto a receber as dádivas vindas de Deus, contidas nesta bebida sagrada.

Também recebeu da Virgem o título de Chefe Império Juramidam, e os fundamentos do ritual do Santo Daime. A Mãe Divina o instruiu a cantar hinos que iria receber do Céu, que seriam o testamento de sua missão e estariam reunidos em um hinário ao qual ele chamou "O Cruzeiro". Mas Irineu era um homem muito simples e humilde e não se achava capaz de cantar. Até o dia em que a Rainha da Floresta lhe disse:
- Olha, vou te dar uns hinos e tu vais deixar de assobiar pra aprender a cantar.
- Ah! Faça isso não minha Senhora, que eu não canto nada.
- Mas eu ensino! Afirmou ela.

E como Irineu sempre contemplava a lua, Ela falou:
- Agora você vai cantar.
- Mas como? Insistiu.
- Abra a boca, não estou mandando?

Irineu obedeceu e deslanchou a cantar "Lua Branca", seu primeiro hino, onde também recordaria a primeira miração da Rainha.

Na década de 20, Irineu e os irmãos Costa fundaram um centro chamado Círculo de Regeneração e Fé (CRF), na cidade de Brasiléia, no Acre. Reuniram-se naquele lugar algumas pessoas que, apesar de poucas, chegaram a fundar uma associação. Alguns desentendimentos com Antônio Costa e outros integrantes fizeram Irineu deixar aquele centro, mudando-se para Sena Madureira e depois para Rio Branco. Em 1930, como tinha feito muitos conhecidos, doaram a ele uma colônia na Vila Ivonete, bairro rural próximo a Rio Branco. Foi quando Irineu deu início aos trabalhos públicos com o Daime. Nessa época Irineu foi perseguido, chegando mesmo a ser chamado na delegacia, porém nunca sendo preso. Resolveu então adentrar um pouco mais na floresta e foi nesta época que recebeu uma doação por parte do ex-governador Guiomar Santos, que lhe arranjou uma colocação chamada Espalhado, com uma colônia, a Custódio de Freitas. Neste lugar fundou o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU), a Igreja-Sede, e levantou também um cruzeiro de 5 metros de altura, todo em cimento armado.

No Alto Santo abrigou mais de quarenta famílias, que trabalhavam em sistema de mutirão, muito comum no Acre. Viviam do que plantavam, conseguindo assim sustentar sua comunidade.

PÓS-IRINEU

Mestre Irineu faleceu no dia 6 de julho de 1971, deixando vários seguidores. Um deles se destacou dos demais: Sebastião Mota de Melo, o Padrinho Sebastião. Segundo o site, "Foi considerado o pai dos alternativos por ter acolhido mendigos, mochileiros, maconheiros sem rumo e desenganados em sua comunidade. Nunca teve preconceito contra ninguém e por isso foi muito incompreendido. Padrinho Sebastião chegou a ter problemas com a polícia pois até traficante ele recebeu, acreditando na cura e encaminhando-os para o trabalho honesto, despertando a consciência espiritual e fazendo-os acreditar nas leis de Deus." Após sair do Alto Santo, Sebastião fundou 3 comunidades, mas fixou-se em definitivo no Céu de Mapiá, na cidade de Boca do Acre, um lugar de difícil acesso no meio da floresta. Coincidência ou não, as denúncias de associação do Ayahuasca com drogas ilícitas surgiram nas comunidades que seguem a linha de Sebastião.


O que podemos depreender disso tudo?

1 - Que as tribos indígenas usavam a Ayahuasca, em certas cerimônias, mas nada na antropologia sugere um uso indiscriminado ou mesmo regular da substância. Ou seja, mesmo na milenar cultura indígena seu uso é restrito, sob a supervisão do Xamã (que conhecia a todos) e a vida na tribo não girava em torno disso, sendo a Ayahuasca apenas uma ferramenta (que nem era tão importante quanto o tabaco!) no contexto religioso.

2 - Que a bebida não pode ser vendida, nem mesmo pra cobrir os custos de produção ou de transporte. Ou seja, numa instituição séria, você, visitante, nao deveria pagar NADA pra tomar. Segundo o que ficou acordado (pelas principais instituições) no relatório final do GMT de 2006 (base do que foi liberado pelo CONAD), apenas os SÓCIOS arcam com as eventuais despesas, justamente pra de$encorajar esse "turismo" de gente que vai lá só pra dar uma "calibrada no nível de alucinógeno".

Me pergunto o que Mestre Irineu pensaria da conduta das doutrinas urbanas de hoje... Se ele, homem sério e íntegro (que, pelo que lemos, parece ter sido) aprovaria o uso ritual de maconha e cocaína, como tem - segundo denúncias e até apreensões da Polícia Federal - acontecido com certas denominações. Me pergunto também se ele deixaria o oba-oba de jovens descompromissados com a doutrina ir minando (por dentro e por fora) a reputação do que ele construiu ao longo de décadas. Onde está a instituição recomendada pelo GMT ao CONAD para representar as entidades religiosas, no sentido de impor controle social ao cumprimento dos princípios acordados? Onde estão os mecanismos de controle, também recomendado ao CONAD pelo mesmo GMT?

Só faço o que a Lei do meu país permite fazer
(Mestre Irineu)

O perigo da Ayahuasca é que ele pode servir como gatilho disparador de uma síndrome psicótica. Em pessoas "saudáveis", não causa problemas. Mas, o que é ser saudável psicologicamente no mundo de hoje? Vivemos num mundo cada vez mais neurotizante, vivemos relações familiares cada vez mais desintegradas, ironicamente com muito acesso a informação, mas com pouca COMUNICAÇÃO (especialmente dentro das famílias), e os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras podem atestar as tendências da nossa sociedade melhor do que eu. Será que todos podem tomar a Ayahuasca?

A Ayahuasca é para todo mundo, mas nem todo mundo é para a Ayahuasca
(Padrinho Sebastião)
Como a doutrina saiu do contexto indígena pra se tornar essencialmente cristã (amalgamada ao espiritismo e umbanda), seria bom ter em mente os alertas de Jesus, em Mateus 7:

Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem
(Mat 7:6)
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram
(Mat 7:13-14)

Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores
(Mat 7:15)

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha
(Mat 7:24)

Há um mecanismo de controle dentro da própria Doutrina do Daime. Ele orienta as pessoas a, 3 dias antes de tomar o Daime, se abster de comer carne e fazer sexo. Mas aprendi aqui mesmo com os comentaristas que isso representa MAIS do que uma "limpeza" orgânica. Nesses 3 dias você deve procurar se limpar MENTALMENTE, canalizando suas energias e seus pensamentos para o alto, para uma experiência que é antes de tudo interna.

Por isso tenho uma sugestão para as entidades SÉRIAS que ministram Ayahuasca, e não sabem como controlar os visitantes sobre essa preparação pra bebida (como raios o padrinho vai saber se o cara transou, ou brigou no trânsito, ou em casa, no dia anterior?):

O RETIRO

O retiro é muito usado pelos budistas, pois a doutrina precisa de um ambiente tranquilo e isolado, para favorecer a meditação correta. Buda (Siddhartha) se isolou na floresta (olhaí) até conseguir a iluminação, e só depois, com o estado de plenitude alcançado, foi procurar ensiná-lo aos outros, nas cidades, nos campos... A idéia é que o estado meditativo seja conseguido até mesmo no trânsito caótico, mas como você vai ensinar alguém a correr sem antes saber andar?

É por isso que eu recomendaria ao neófito no Daime um retiro de 3 dias, num lugar afastado, sem celular, sem TV, onde a pessoa entra em contato com ela mesma, seus pensamentos, com a natureza, embarca (ainda que de forma limitada) no contexto original da Ayahuasca. E somente no fim do 3º dia tomaria o chá.

Vi num fórum o depoimento de uma pessoa que pegou dicas com um Xamã sobre a condução do Daime:

Eu vou te repassar a informação que me foi dada por um verdadeiro Xamã ao qual tive a sorte de conhecer 3 anos atrás. Pra resumir nossa conversa, vou colocar algumas questões que eu lembro para seu uso correto:
1. Restrito ao local e à cultura ancestral que sempre a usou, ou seja, nunca para urbanóides como nós
2. Extrema disciplina de uso e guarda, extrema, nunca numa sociedade que usa dinheiro nas relações, só isso já contamina tudo
3. O xamã deve conhecer a pessoa a tomar de longa data, ela e sua família (seus pais)
4. A beberagem deve ser produzida de forma customizada (ele não usou essa palavra), ou seja, pra cada indivíduo um preparado especial que pode conter os 2 princípios famosos e mais alguns pra deixar mais doce, ou mais amargo, ou etc... (mas esse etc não inclui santa porcaria nenhuma)
5. Vomitos e diarréia são pessimos sinais, quer dizer que a pessoa tomou a dose errada. No máximo um enjôo e isto serve para que a pessoa se limite.
6. Deve ser consagrada.
7. Deve ter um objetivo muito específico, um trabalho individual, ou até coletivo, desde que totalmente orientado de forma rígida, militar
8. O xamã deve ser sábio, velho, experiente, vocacionado, tem que ter curriculum pra isso, sendo a sua autoridade respeitada e indiscutível entre todos da "tribo"
9. Pode ser utilizada para "turistas" (nós) desde que os procurem e com todo o rigor e preparação.
10. Vc nunca pode falar de sua experiência com ninguém, é sua e individual, jamais fazer propaganda de capacidades. A "mágica" está em vc e só em vc. Falar disso é perigoso, pode induzir outros ao erro. Só o Xamã pode falar disso.
A Ayahuasca abre as portas de dentro de você. Se há algum conflito, ele poderá ser exorcizado, ou exarcebado. Vai depender de COMO você vai lidar com isso! Por isso concordo com o Maltz quando ele diz que o chá é um Boeing 747, mas nem todo mundo tem o manual pra pilotá-lo! Há perigos no Daime, assim como há perigos no desenvolvimento forçado da mediunidade dentro do espiritismo, ou constrangendo crianças a receber o espírito santo nas Igrejas Evangélicas, ou na abertura dos Chakras e desenvolvimento forçado da Kundalini em cursinhos da Nova Era.

Os místicos e os esquizofrênicos encontram-se no mesmo oceano; enquanto os místicos nadam, os esquizofrênicos se afogam
(Ronald Laing; psiquiatra inglês)

Eurípedes (poeta grego) aponta a origem da loucura como decorrente de conflitos internos; o homem não seria conduzido fatalmente à loucura, senão por uma parcela de responsabilidade. Porém, cabe aos deuses roubar a razão.



http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2010/03/ayahuasca_contexto.html

Cansaço, tiróide, desânimo e similares.

 
Tristeza e desânimo


Quando o cansaço está associado à falta de iniciativa ou de prazer nas atividades cotidianas, é possível que esteja surgindo um quadro de depressão. O diagnóstico desse problema sempre resulta da soma de muitos sintomas, como tristeza, apatia, falta ou excesso de apetite, de sono e, entre muitos outros, cansaço constante. "Quando se pensa em depressão, a imagem que vem é a daquela pessoa que fica largada na cama, apática. De forma figurativa, podemos dizer que a depressão começa em oito e termina em 80. Naturalmente, o grau 80 é grave, mas o oito é o começo e também precisa de atenção e tratamento", explica Zuleika S. Cozzi Halpern, endocrinologista de São Paulo.
No contexto de uma depressão leve, a sensação de exaustão é uma pista importante. "A paciente até tem vontade de passar o dia na cama, só que ela cumpre todas as suas tarefas. Mas sempre com uma certa indisposição, como se ela estivesse empurrando a vida com a barriga", exemplifica a médica. O primeiro passo é afastar as possíveis causas clínicas –do hipotireoidismo à menopausa, existem diversos fatores físicos que podem deprimir o organismo. "Mas, se os testes laboratoriais não mostram nenhum problema, cabe ao médico indicar uma psicoterapia de apoio e medicação apropriada."
Uma certa fraqueza
A fraqueza, que muita gente chama de cansaço, é um dos sintomas mais clássicos da anemia. "Na mulher, a causa mais comum de uma anemia é a menstruação exagerada. E a dificuldade para chegar a esse diagnóstico é que nem sempre a paciente sabe que sua menstruação pode estar fora dos padrões de normalidade – ela não imagina que pode estar anêmica e que sente cansaço por causa disso", explica o clínico Atta.
Mesmo com todas as diferenças que existem de mulher para mulher, é possível estabelecer certos parâmetros gerais. Por exemplo, é razoável que a menstruação dure cinco dias e que o grande fluxo aconteça nos dois primeiros; não deveria haver um sangramento importante nos dias seguintes e o uso de mais de um pacote de absorvente por período deve ser considerado exagerado; além disso, a presença de coágulos é aceitável só no primeiro dia. Fatos diferentes podem indicar algo fora do normal. "Se há uma perda significativa de sangue todos os meses, a cada período ocorre uma certa perda de ferro e, em alguns meses, isso pode levar à anemia", explica o médico.
Nos homens, as causas mais rotineiras são as lesões gastrointestinais, originadas por vermes ou pólipos, problemas que também podem ocorrer em mulheres. De qualquer forma, sempre é a carência de ferro a causa da maior parte das anemias. "Carência essa que só acontece porque há algum tipo de sangramento no organismo e não por uma deficiência na alimentação", diz Atta.
Tireóide preguiçosa
Todas as doenças ligadas à glândula tireóide são muito mais comuns na mulher do que no homem. "E a mulher cansada pode estar tendo problemas nessa área", explica a endocrinologista Zuleika. Existe uma doença imunológica, muito freqüente em mulheres, chamada tireoidite de Hashimoto, um quadro em que a tireóide aumenta e seu funcionamento fica comprometido. "Tudo no corpo passa a funcionar mais devagar. Os sintomas clássicos são: sono, cansaço, desânimo, falta de vontade de fazer qualquer coisa. É uma preguiça fisiológica, uma moleza que vem do ritmo lento do metabolismo", explica Zuleika.
Segundo a médica, não é raro que problemas como depressão e hipotireoidismo se misturem, pois o simples fato de estar com menos hormônio da tireóide no corpo já é um fator depressor. Investigada por meio de exames de sangue, a disfunção normalmente é tratada com medicação adequada para reequilibrar os níveis hormonais. Sem tratamento, o hipotireoidismo pode dar origem a queda de cabelos, pele seca, prisão de ventre e um certo aumento de peso.

... HIPOTIREOIDISMO

De acordo com os resultados recentes do censo IBGE 2010, as doenças endócrinas, como diabetes, obesidade e disfunções na tireoide respondem pela segunda causa que mais mata mulheres no país (7,8%), atrás apenas das doenças cardiovasculares. A tireoide é uma glândula endócrina que existe para harmonizar o funcionamento do organismo. Localizada no pescoço, é responsável pela produção de dois hormônios o T3 (tri-iodotironina) e o T4 (tiroxina), que estimulam o metabolismo e interferem no desempenho de órgãos como coração e rins, chegando a alterar o ciclo menstrual.

Por toda essa importância, a glândula tireoide precisa estar em perfeita ordem. Quando isso não acontece, o próprio corpo dá o alerta. Os tipos mais comuns de disfunção da tireoide são:

1. hipertireoidismo (liberação de hormônios em excesso, que aceleram muito o metabolismo);

2. HIPOTIREOIDISMO (a glândula libera o T3 e o T4 em menor quantidade do que o necessário). No segundo caso e mais comum, o hipotireoidismo, os sintomas mais frequentes são desânimo, cansaço, sonolência, pele seca, inchaço dos olhos, lentidão física e mental. A doença costuma atingir vários membros de uma mesma família. Porém, o diagnóstico nem sempre é fácil, pois os sintomas podem ser atribuídos a outras doenças que se manifestam de forma semelhante, como depressão e anemia. A seguir, a endocrinologista Laura Ward, da Unicamp, esclarece oito dúvidas mais comuns sobre o hipotireoidismo. 
1.Os sintomas podem ser identificados com clareza?
Os sintomas, infelizmente, são pouco específicos e se instalam lentamente, o que pode confundir as pessoas. Além disso, podem atingir vários órgãos, pois a  TIREÓIDE  é importante para regular o funcionamento de alguns sistemas do corpo, como cardiovascular, gástrico e nervoso. São: sentir frio, mesmo quando a temperatura não está baixa; desânimo; falta de interesse de todos os tipos, incluindo interesse para atividades corriqueiras ou prazerosas; lentidão de fala, de pensamento e de batimentos cardíacos; problemas no intestino (constipação, prisão de ventre), lentidão de reflexos; pele ressecada; cabelos e unhas quebradiços.  
2.Por que o hipotireoidismo ocorre mais em mulheres e se manifesta predominantemente a partir de certa idade?
Não se sabe com exatidão por que o distúrbio afeta mais mulheres, mas acredita-se que um dos fatores seja a maior incidência, na fase da menopausa, da doença de Hashimoto ou tireoidite crônica, doença autoimune da tireoide em que o corpo produz anticorpos que atacam a tireoide, fazendo deste distúrbio a principal causa do hipotireoidismo. Durante o climatério, período em que as doenças autoimunes são mais frequentes, é possível que o metabolismo de hormônios, como estrógeno, esteja produzindo fatores desencadeantes para doenças autoimunes, entre as quais a doença de Hashimoto. 
3.Como saber se estou no grupo de risco da doença?
São fatores de risco para o hipotireoidismo: a existência de outras doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide, vitiligo, diabetes de tipo 1), a presença de bócio (aumento de volume da tireoide) e a existência de doença de tireoide na família. 
4.Quais exames costumam ser feitos para o diagnóstico? 
Eles devem ser feitos periodicamente? O exame mais comum para identificar os níveis dos hormônios da tireoide chama-se dosagem de TSH sérico. Recomenda-se que todas as pessoas acima de 60 anos realizem uma dosagem de TSH anual e que mulheres, particularmente aquelas que apresentam fatores de risco, dosem o TSH a partir dos 30 anos. Além disso, gestantes também devem realizar o exame periodicamente.  
5.O hipotireoidismo tem cura? 
Não existe uma cura definitiva para a doença, mas o controle pode fazer com que o paciente leve uma vida normal. O tratamento mais comum é feito com reposição hormonal, geralmente com hormônio sintético da tireoide, em geral, na forma de comprimido, que deve ser tomado diariamente pelo resto da vida. Mas vale o alerta: se estiver com falta ou excesso de medicação, podem aparecer os sintomas opostos, de HIPERTIREOIDISMO. Os mais comuns são: agitação física e mental, insônia, irritação e perda de peso. 
6.Quais são as possíveis consequências mais graves, se não houver tratamento? 
A falta do hormônio tireoidiano pode levar ao coma mixedematoso, que é quando o paciente tem queda da temperatura corporal e ocorre a lentidão de todas as funções do organismo. Isso acarreta uma fragilização do sistema imune, facilitando a instalação de outras doenças, como pneumonia e infecções. O hipotireoidismo também pode afetar de forma importante o coração e os ossos, por isso é importante seguir o tratamento prescrito pelo médico.  
7.O hipotireoidismo provoca aumento de peso?
Existe uma relação complexa entre as doenças da tireoide, o peso corporal e o metabolismo. Os hormônios tireoidianos também regulam o metabolismo, e a taxa metabólica basal também pode diminuir na maioria dos pacientes com hipotireoidismo, devido à baixa nos hormônios. No entanto, esse ganho de peso é menor e menos dramático do que o ocorre nos pacientes com hipertireoidismo. 

 8.O que é essencial para controlar o hipotireoidismo?
Se o paciente estiver com a medicação ajustada adequadamente, sua rotina não será muito afetada. A recomendação é a mesma válida para pessoas sem a doença, que é seguir hábitos de vida saudáveis. É fundamental manter uma alimentação equilibrada, rica em vegetais e frutas. Também é essencial praticar exercícios físicos regulares para a manutenção do peso para afastar a obesidade e seus efeitos negativos, como hipertensão, diabetes, aumento do colesterol e problemas cardiorrespiratórios. Não há grandes restrições em relação às atividades físicas, mas antes de começar a se exercitar o paciente deve sempre consultar seu médico.  

13 de fev. de 2011

Relatos médicos, sindromes.

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Enxaqueca, dicas sobre a dor.

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1- Analgésicos resolvem o problema?

Esse é um dos erros mais comuns –e perigosos– em relação à enxaqueca. Freqüentemente, os pacientes se automedicam com esses remédios, tomando doses progressivamente mais altas.
O problema é que o abuso de analgésicos contribui para cronificar as dores. Além disso, nem sempre eles dão conta de acabar com uma crise de enxaqueca. Existem medicamentos específicos para o problema que, apesar de também agravarem as crises quando em excesso, são mais eficazes.

A Sociedade Brasileira de Cefaléia recomenda o uso de, no máximo, dois comprimidos por semana (dez por mês) de qualquer remédio para cortar a dor de cabeça. Menos de três meses seguidos de abuso já são suficientes para cronificar as dores.

2- Enxaqueca é sinônimo de dor de cabeça?

A Sociedade Internacional de Cefaléia reconhece mais de 200 modalidades de dor de cabeça (também conhecida como cefaléia). A enxaqueca, ou migrânea, é uma delas. Nesse caso, a dor costuma ser latejante e, em 60% das pessoas, localizar-se em só um dos lados do crânio. Muitas vezes, vem acompanhada por náuseas, vômitos e sensibilidade a luz, ruídos e cheiros fortes.

Em geral, a crise dura de quatro a 72 horas, quando não tratada. Há ainda crises de enxaqueca sem dor de cabeça, quando o paciente tem apenas a aura (veja no próximo item).

3- Quem tem enxaqueca enxerga pontos brilhantes e luzes?

Apenas um em cada cinco pacientes com enxaqueca apresenta a aura, fenômeno neurológico que faz com que a pessoa enxergue manchas e luzes, fique com os dedos ou os lábios dormentes ou com alterações na fala e nos movimentos, entre outros sintomas. Ela aparece minutos ou poucas horas antes das crises e costuma durar menos de uma hora.

Mesmo sem apresentar aura, algumas pessoas conseguem perceber que terão crise com uma antecedência de até 24 horas. Bocejos constantes, dificuldade de raciocínio e grande necessidade de comer doces são alguns sinais.

4- É preciso fazer exames para diagnosticar?

Solicitados freqüentemente a pacientes com suspeita de enxaqueca, exames como tomografia, raio-X e ressonância magnética não detectam o problema.

Eles apenas servem para afastar a possibilidade de outras doenças, como tumores. Na maior parte das vezes, não são necessários. O diagnóstico da enxaqueca é clínico, feito no consultório a partir do histórico do paciente e de testes neurológicos.

Apenas exames mais sofisticados, como o pet scan, permitem observar os lugares no cérebro que são ativados na hora da crise de dor, mas são usados somente em pesquisas científicas.

5- É uma doença inofensiva?

Apesar de ser considerada uma doença benigna, que raramente gera complicações sérias, a enxaqueca compromete muito a vida do paciente.

Além de ficarem menos produtivos e de faltarem ao trabalho e a eventos sociais na hora das crises, muitos sofredores de enxaqueca acabam perdendo oportunidades sociais e profissionais por receio de que a dor apareça.

As complicações graves da enxaqueca são raras, mas podem ocorrer. Mulheres que têm aura muito prolongada correm mais risco de ter o chamado infarto migranoso, principalmente se forem fumantes e usarem pílula anticoncepcional.

6- Quem tem enxaqueca não pode comer chocolate, queijo e vinho?

Só um quarto dos portadores de enxaqueca tem crises relacionadas a alimentos. Estresse e ansiedade são gatilhos bem mais comuns. No caso de haver relação com a dieta, os culpados variam entre os pacientes e podem causar crises apenas em alguns momentos. Frituras, chocolate, queijos amarelos, embutidos, vinho tinto e cerveja são algumas das comidas e bebidas que mais influenciam.

Assim como o abuso de analgésicos, a cafeína presente em alimentos como café e refrigerantes de cola pode cronificar a enxaqueca. Estudos recomendam o limite de 250 mg de cafeína por dia (o equivalente a três xícaras de café).

Jejum prolongado, sol forte, odores pronunciados e mudanças de temperatura e de umidade do ar também são gatilhos comuns. Vilão para muitas outras doenças, o cigarro, nesse caso, não influi. Nas mulheres, é muito freqüente que as dores venham associadas ao período menstrual (antes, durante ou logo depois). Também há crises que não são desencadeadas por nenhum gatilho.

7- Comer muita fruta faz bem?

Nem sempre. Certas frutas, como as cítricas (laranja, limão, abacaxi) e a banana (principalmente a banana d’água), têm substâncias que desencadeiam crises de enxaqueca em algumas pessoas.

8- Problemas de vista causam enxaqueca?

Quase todo mundo que começa a ter dores de cabeça desconfia de que precisa usar óculos ou trocar a lente porque o grau aumentou. Segundo os especialistas. miopia, hipermetropia e presbiopia não são causas de dor de cabeça. Só astigmatismos muito graves em crianças causam cefaléia, e mesmo assim não é enxaqueca.

9- Sinusite causa enxaqueca?

Essa confusão é muito freqüente. Na verdade, as sinusites crônicas não causam dor de cabeça. As agudas sim, mas não têm característica de enxaqueca. Como a própria enxaqueca pode causar congestão nasal, a confusão aumenta. Um estudo americano mostrou que 90% das pessoas que se autodiagnosticavam como tendo dores de cabeça decorrentes de sinusite na verdade tinham enxaqueca.

10- Problemas na ATM causa enxaqueca?

As disfunções na ATM (articulação temporomandibular) podem ser causa de dor, geralmente localizada na região da própria articulação e relacionada ao uso (comer algo duro, falar muito, bocejar). Eventualmente, causa dor de cabeça, mas sem característica de enxaqueca.

11- É uma doença de adulto?

Entre 4% e 8% das crianças têm enxaqueca. A doença é uma grande causa de faltas à escola, e as queixas são confundidas por muitos pais com golpes para não ir à aula. As dores podem começar por volta dos cinco anos de idade e, em aproximadamente 40% dos casos, acabam espontaneamente na puberdade.

As crises de dor nessa etapa da vida duram menos (de 30 minutos a duas horas) e podem ser aliviadas com tratamento específico. Apesar de, na fase adulta, a enxaqueca afetar três vezes mais as mulheres, na infância ela é ligeiramente mais freqüente nos meninos.

12- Tem a ver com o fígado e com o estômago?

Como muita gente tem náusea e vômitos nas crises de enxaqueca, é comum que associem o problema ao estômago e ao fígado. Na verdade, esses incômodos ocorrem como parte do próprio processo químico da dor, que faz com que o estômago se dilate e fique paralisado, causando sensação de indigestão e enjôo.

Mesmo o fato de certos alimentos desencadearem episódios de enxaqueca em
algumas pessoas não tem a ver com a digestão. Na verdade, eles possuem certas substâncias (como tiramina e nitritos) que agem diretamente no cérebro de quem sofre de enxaqueca.

13- Atividades físicas ajudam?

Nem sempre. A prática de atividades físicas, principalmente aeróbicas, costuma diminuir a freqüência das crises. Mas há pacientes que apresentam um tipo de enxaqueca cujas dores são desencadeadas com a prática de atividades físicas. Alem disso, na hora da crise, os exercícios físicos costumam piorar brutalmente a dor.

14- Passa com a menopausa?

Para muitas pacientes, a chegada da menopausa traz alívio. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaléia, apenas 30% das mulheres apresentam melhora significativa nessa fase. Isso ocorre principalmente com aquelas que têm enxaqueca perto do período menstrual.

15- Há alimentos que ajudam a melhorar a enxaqueca?

Muito se fala em dietas que ajudam a melhorar a enxaqueca, mas, segundo os especialistas consultados, elas não têm fundamento científico. O magnésio (encontrado em alimentos verdes frescos e frutos do mar) e um aminoácido chamado triptofano (presente em verduras frescas e no feijão) até podem ajudar, mas, nas quantidades presentes na comida, têm importância limitada. Quando as dores são desencadeadas por certos alimentos, evitá-los ajuda a diminuir as crises.

16- Não tem tratamento?

Ainda não há cura, mas hoje existem tratamentos que diminuem muito ou até acabam com as crises. Além dos medicamentos que são tomados na hora da dor, quem tem mais de três crises por mês ou sente dor muito forte, ainda que de vez em quando, pode ter de passar por tratamento preventivo com remédios.

Na crise de enxaqueca, por exemplo, a irrigação sangüínea periférica diminui, deixando os dedos das mãos e dos pés mais frios. Os pacientes aprendem a identificar esse sinal e a controlá-lo, fazendo com que o sangue, indiretamente, flua melhor no cérebro, o que traz alívio.

Uma pesquisa feita recentemente na USP (Universidade de São Paulo) comparou a eficácia do método em dois grupos de 30 pacientes de enxaqueca cada um. Enquanto um tomou remédios preventivos, o outro fez dez sessões de biofeedback. A melhora relatada pelos dois grupos foi semelhante. Em relação à intensidade da dor, quem usou o método disse que diminuiu, em média, 30%, enquanto no primeiro grupo a redução foi de 11%.

A toxina botulínica também está sendo testada como uma opção para quem não reage a outros tratamentos, mas o custo-benefício ainda é discutido.

17- Tem que tomar remédio por toda a vida?

Apesar de a enxaqueca ser uma doença crônica, como a hipertensão arterial e o diabetes, a medicação preventiva costuma ser retirada após oito a 12 meses de uso se o paciente estiver bem. Se as crises voltarem, pode ser necessário tomar os remédios por mais um período.

18- Acupuntura resolve o problema?

Os estudos são controversos. Enquanto alguns mostram bons resultados, outros não provam a eficácia para essa doença. Oficialmente, o poder terapêutico da acupuntura para enxaqueca não está confirmado no meio científico, mas o que médicos e pacientes relatam é que, na prática, muitas pessoas se beneficiam do método.

Além de acabar com a dor –muitas vezes de forma imediata– na hora das crises, a técnica é muito usada para preveni-las, seja isoladamente ou em conjunto com medicamentos. Antes de se submeter às agulhas, é importante ter um diagnóstico preciso do problema, afastando outras causas mais graves.

19- Dormir muito ajuda a melhorar?

Em muitas pessoas, a privação de sono desencadeia dores de cabeça. Mas dormir mais do que se está acostumado também é um gatilho para as crises. Um caso relativamente comum é a chamada “enxaqueca de fim de semana”, na qual o paciente só sente dores no sábado e no domingo –quase sempre porque dorme muito mais tempo do que o habitual. O segredo, portanto, é ter um ritmo de sono regulado.

20- Tomar remédio logo antes de comer um alimento que provoca crise resolve?

Pode até aliviar a dor no momento. Mas é um procedimento de risco que não deve ser feito rotineiramente, já que induz ao abuso de medicamentos, contribuindo para a cronificação da dor



http://foz9.wordpress.com/2009/10/19/20-dicas-sobre-enxaqueca/

Medicina com as mãos. Tratamento de crônicos

http://www.videolog.tv/adeusdepressao/videos/312441
Obs. Na relevância das respostas... pois a condução da matéria nas perguntas estão em excesso, mas a qualidade das respostas são de alto valor terapêutico.

Entrevista especial com Michel Kallas sobre a técnica Medicina com as mãos.


Ver complementos nas tags
Síndromes
Guia Saúde
Dor
Terapias
http://www.videolog.tv/adeusdepressao/visaoGeral


FIBROMIALGIA

http://www.videolog.tv/adeusdepressao/videos/380143


MEDICINA COM AS MÃOS
http://www.videolog.tv/adeusdepressao/videos/689107



http://www.videolog.tv/adeusdepressao/videos/315855



Exercícios e a FM

Influência de uma sessão de exercício em esteira sobre a 
sintomatologia e a intensidade dolorosa de portadoras de fibromialgia

  
Laboratório de Investigação e Estudos
sobre Metabolismo e Exercício Físico (LIEMEF)
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Mato Grosso (FAPEMAT 565/04)
Universidade Federal de Mato Grosso 
 
 
Marcia Aparecida Prando
Prof. Dr. Gustavo Puggina Rogatto 

gustavorogatto@yahoo.com.br 
(Brasil) 
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos agudos de uma sessão de exercício aeróbio em esteira sobre a condição dolorosa e a identificação de "tender points" durante e após a atividade. Fizeram parte da amostra seis mulheres sedentárias com idades entre 30 e 60 anos, diagnosticadas previamente com fibromialgia não associada à outra enfermidade e não submetidas a tratamento medicamentoso para controle de dor. As participantes foram submetidas a uma sessão de exercício em esteira com duração de 60 minutos e intensidade correspondente a 50% da FCmáx. Previamente a sessão de exercício (T0), as voluntárias foram submetidas a uma avaliação para a identificação dos "tender points" e para a quantificação da intensidade dos sintomas dolorosos (pela "Escala Visual Analógica de Dor" - EVAD, amplitude: 0-100). Os mesmos parâmetros foram avaliados aos 15 (T15), 30 (T30), 45 (T45) e 60 minutos (T60) de exercício. Nos mesmos tempos, também foram avaliadas as sensações e sintomas ocorridos durante o teste. Embora não tenha ocorrido alteração significativa do nível de dor das participantes durante a realização da sessão de esforço, observou-se, nos 30 minutos iniciais de atividade, uma tendência a aumento da intensidade dolorosa avaliada pela EVAD. Nos 30 minutos subseqüentes a resposta a EVAD foi inversa, ou seja, apresentou tendência à redução. No que diz respeito à identificação dos "tender points", observou-se que na condição de repouso, 83,3% dos voluntários apresentavam sintomatologia dolorosa no "tender point" da região correspondente ao músculo trapézio. Durante a sessão de esteira a identificação dos "tender points" foi a seguinte: T15: trapézio, cervical e articulações do joelho e cotovelo; T30: trapézio, lombar e joelhos; e T45: trapézio. Esse resultado indica aumento do número de "tender points" ao longo da sessão de esforço. Contudo, ao final da sessão (T60), 66,6% das voluntárias relataram ausência de "tender points". Conquanto a intensidade dolorosa, avaliada pelo EVAD, não tenha sofrido modificação significativa durante os 60 minutos de exercício em esteira, observou-se, que ao final da sessão, a incidência de pontos dolorosos diminuiu, indicando que o exercício aeróbio de baixa intensidade pode ser uma ferramenta útil no tratamento da dor característica da síndrome fibromiálgica. 
    Unitermos: Fibromialgia. Exercício físico. Dor. 
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 94 - Marzo de 2006

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Introdução

    A dor crônica freqüentemente é debilitante e atinge milhões de brasileiros de forma devastadora, afetando a qualidade de vida de muitas pessoas. O sofrimento decorrente da dor pode desestruturar a vida de uma pessoa em vários aspectos, sendo eles físico, social e psicológico. Pessoas atingidas por esse mal passam constantemente por instabilidades emocionais, sofrendo desde uma simples irritabilidade até estados de depressão profunda. A condição dolorosa interfere na qualidade de vida, uma vez que prejudica o rendimento no trabalho, em casa e também provoca problemas de relacionamentos com familiares e pessoas próximas.

    Segundo Goldenberg (2000), entre 10% e 12% da população geral sofrem de dores crônicas disseminadas, sendo que as mulheres são as maiores vítimas.

    Entre as várias doenças caracterizadas pela dor, uma tem se destacado nos últimos anos por sua peculiaridade em relação à diversificação de sintomas e à intensidade. Trata-se da chamada fibromialgia.

    A fibromialgia é uma síndrome que atinge principalmente mulheres entre 30 e 60 anos (estima-se que elas representam aproximadamente 90% dos casos). Esta maior incidência no sexo feminino tem sido avaliada por alguns estudos que sugerem a possibilidade da relação entre a doença e as mudanças hormonais decorrentes do envelhecimento biológico (Teixeira e Figueiró, 2001). No Brasil, ainda não existe um levantamento oficial, mas estima-se que pelo menos 5% da população seja portadora desta síndrome (Castro, 2000). O difícil diagnóstico e a falta da procura por médicos especializados, são fatores que comprometem a exatidão de informações sobre o número de portadores desta enfermidade.

    A fibromialgia foi classificada em 1990 pelo Colégio Americano de Reumatologia durante um simpósio médico internacional. Na ocasião foi idealizada a publicação de um protocolo para o diagnóstico desta síndrome. Antes de sua identificação, as queixas de seus sintomas não eram diagnosticadas como sendo as de uma doença física, estando mais ligada a distúrbios de ordem psicológica. Após esta data, vários critérios foram adotados mundialmente para o diagnóstico específico da doença.

    Vários sintomas são relatados, porém a dor é o mais freqüente, uma vez que compromete a qualidade de vida do doente. A maioria dos pacientes se sente impossibilitada de combater estes sintomas, sofrendo com as dores e com a incerteza da cura, ainda não encontrada. Os medicamentos existentes servem apenas para amenizar os sintomas, causando mais angústias e desordens psicológicas.

    Algumas pesquisas têm explorado meios alternativos para o tratamento da fibromialgia (Goldenberg, 2000; Pereira e Esteves, 2002; Richards e Scott, 2002). O exercício físico é um dos métodos que, ao longo de anos de pesquisas, vêm apresentando bons resultados no controle da doença (Valim, 2001). Indiscutivelmente sabemos que a atividade física tem um papel fundamental no que diz respeito à qualidade de vida, propiciando bem estar físico e mental por meio da liberação de vários hormônios, aumentando a expectativa de vida e/ou servindo como válvula de escape para as tensões diárias (Nahas, 2003). Além destes benefícios, o exercício também pode ser usado como um meio preventivo de desordens orgânicas (Nieman, 1999).

    Vários estudos têm sido desenvolvidos com o intuito de se investigar os efeitos da atividade física sobre o alívio ou cura de algumas doenças ou seus sintomas (Nieman 1999). Em tempos remotos poupavam-se os doentes de esforço físico, acreditando-se que este poderia ter um papel comprometedor no processo de cura, uma vez que um gasto maior de energia estaria sendo desperdiçado ao invés de estar sendo aplicado no combate à doença. A indústria farmacológica investe milhões em pesquisas com o propósito de encontrar o medicamento mais eficaz para cada tipo de doença. Por outro lado, poucos investimentos são destinados às campanhas de conscientização sobre hábitos saudáveis que colaboram com a boa saúde global.

    Vários estudos têm sido desenvolvidos visando à busca de tratamentos mais eficazes para o controle dos sintomas oriundos da SFM, sendo eles medicamentosos, psicológicos e fisiátricos. Dentre as pesquisas sobre tratamento fisiátrico, denominadas como terapias físicas, as mais citadas são a acupuntura, a massagem, a estimulação transcutânea, a cinesioterapia, o biofeedback entre outros (Goldenberg, 2000; Hanson, 1998; Teixeira, 2001). Contudo, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos sobre os efeitos do exercício físico aeróbio no tratamento da fibromialgia.


Objetivo

    Verificar os efeitos imediatos do exercício sobre a condição dolorosa, os pontos dolorosos e as sensações dos sintomas da doença, antes, durante e após uma sessão de exercício aeróbio em esteira em pacientes fibromiálgicos.


Materiais e métodos

Participantes

     Participaram da pesquisa 6 pacientes do sexo feminino, portadores da Síndrome fibromiálgica e com idade entre 30 e 60 anos. Como critério de inclusão no estudo, as voluntárias não deveriam estar participando de programas de exercícios físicos ou sendo submetidas a tratamento medicamentoso.

Exercício agudo (caminhada em esteira)

    Todas as voluntárias foram submetidas a uma sessão de caminhada em esteira ergométrica com inclinação de 0%. A velocidade do ergômetro foi ajustada de acordo com a intensidade correspondente a 50% da freqüência cardíaca máxima (FCmáx). A sessão de exercício teve a duração de 30 minutos. O controle da intensidade foi feito por meio de freqüencímetro da marca POLAR (modelo M62).

Avaliações

    Previamente à sessão de esforço (T0) e aos 15 (T15) e 30 minutos (T30) de caminhada, todas as participantes foram submetidas às seguintes avaliações: 1) identificação da intensidade de dor (por meio do "Questionário visual analógico de dor"), 2) identificação dos "tender points", 3) identificação das sensações, e 4) identificação dos sintomas ocorridas durante os 30 minutos de esforço. Posteriormente à sessão de exercício, as pacientes foram novamente submetidas às quatro avaliações aos 15 (T45) e 30 minutos (T60) imediatamente após a sessão de caminhada.

Questionário Visual Analógico de Dor (QVAD)

    Utilizado para a identificação da intensidade de dor, o questionário é caracterizado por uma escala de 0 a 100, onde o 0 corresponde à ausência total de dor e 100 ao pico de dor, denominado dor insuportável. Numa linguagem mais fácil, cada numeração é representada por ilustrações que retratam visualmente a sensação de dor pela qual o paciente está passando. Quanto maior o número indicado, maior a expressão de sofrimento. O paciente indicava a ilustração no QVAD que mais se enquadra a sua condição de dor nos cinco momentos do teste (T0, T15, T30, T45, T60).

Identificação de tender points

    Com todos os pacientes diagnosticados por um médico especialista (constatando a presença de onze ou mais pontos dolorosos), foi orientado a cada voluntário que, durante a realização do teste (antes, durante e depois da sessão de caminhada: T0 a T60), fosse relatado desconforto ou processo doloroso em um ou mais dos pontos dolorosos que se seguem:

  • Occipital (inserção do músculo occipital);

  • Cervical baixa (face anterior no espaço intertransverso de C5-C7);

  • Trapézio (ponto médio da borda superior);

  • Segunda costela (junção da segunda costocondral);

  • Supraespinhoso (acima da borda medial da espinha da escápula);

  • Epicôndilo lateral (a 2cm do epicôndilo);

  • Glúteos (quadrante lateral e superior das nádegas);

  • Grande trocanter (posterior à proeminência trocantérica);

  • Joelho (região medial próxima à linha do joelho).


Identificação de sintomas e sensações

    Os voluntários foram consultados antes, durante e após o exercício (T0, T15, T30, T45, T60) sobre os sintomas da SFM e as sensações ocorridas durante o experimento. Para a identificação dos sintomas da SFM, foi apresentada ao paciente uma listagem de sintomas da doença, que ele deveria assinalar de acordo com a incidência no momento. Também foi feita a identificação das sensações ocorridas durante o teste por consulta aos voluntários que deveriam relatar sensações (que não faziam parte dos sintomas da doença) que eles estivessem sentindo no exato momento.


Análise dos resultados

    As identificações dos "tender points", das sensações e dos sintomas foram analisadas quanto à freqüência de respostas dos voluntários. A intensidade de dor, avaliada pelo QVAD, foi analisada por ANOVA e teste post hoc de Newman Keuls. O nível de significância foi pré-fixado em 5%.


Resultados e discussão

    A fibromialgia é caracterizada por dores músculo-esqueléticas não inflamatórias, espalhadas por todo o corpo, incluindo pontos específicos de sensibilidade à dor, acrescida de vários sintomas.

    A palavra fibromialgia foi criada para expor várias condições desta síndrome. Fibro é derivado do latim e significa ligamentos, tendões, tecido fibroso. O radical mio vem do grego e significa tecido muscular. Ainda do grego, algos significa dor e ia uma condição. Portanto, fibromialgia significa uma condição dolorosa que provém de tendões, ligamentos e músculos. É considerada uma síndrome por ser caracterizada por um conjunto de sintomas e não somente uma má função específica, manifestando-se diferentemente em cada indivíduo, sendo assim conhecida como síndrome fibromiálgica (SFM).

    Vários sintomas da SFM também são encontrados em outras doenças. Por isso, ela pode ser facilmente confundida com outras enfermidades. Em decorrência disto, faz-se necessária uma forte investigação, uma vez que a SFM não apresenta alterações em exames de imagem e laboratoriais, ficando a cargo de um especialista o seu diagnóstico (através de uma investigação rigorosa, descartando a possibilidade de outras doenças).

    Para Hanson (1998), a SFM é dividida em duas categorias, a primária, onde o indivíduo não apresenta outra patologia concomitante e a secundária, onde existe a SFM em associação a qualquer outra doença.

    Segundo os critérios do Colégio Americano de Reumatologia, para a classificação da SFM (Wolfe et al.,1990), a dor crônica incapacitante é o sintoma mais freqüente desta síndrome. A dor relatada usualmente é generalizada e se apresenta em uma escala de maior ou menor intensidade, podendo variar de acordo com o clima, hora do dia, inatividade, qualidade do sono e estresse. A condição dolorosa tem picos de incidência durante alguns meses, podendo amenizar e surgir novamente. Outro fator importante e decisivo para a sua classificação são os denominados "tender points". Estes são pontos pré-determinados de sensibilidade à dor, espalhados por todo o corpo em locais específicos. Ao todo são 18 os pontos pré-determinados. A doença pode ser diagnosticada, se pelo menos 11 deles estiverem doloridos ao serem pressionados e se a condição dolorosa persistir por um período maior que três meses. Tais pontos são encontrados nas junções entre nervo e músculo e estão localizados bilateralmente nas seguintes regiões: occipital, cervical baixa, trapézio, segunda costela, supraespinhoso, epicôndilo lateral, glúteos, grande trocanter e joelho.

    Além da dor e dos pontos dolorosos, também são sintomas comuns da fibromialgia a rigidez e a fadiga muscular por todo o corpo, cefaléia, dismenorréia, adormecimento e inchaço nos membros. Em alguns casos, ocorre um desconforto abdominal e na maioria deles, o distúrbio do sono. O fibromiálgico não consegue completar a quarta fase do sono, que é quando ocorre o relaxamento completo da musculatura, enfrentando noites mal dormidas e despertando freqüentemente durante a noite. O sono geralmente não é reparador, fazendo com que o doente acorde com dores no corpo, sentindo cansaço. Além destes sintomas, também é encontrado déficit de memória e concentração.

    No presente estudo, quando questionados sobre as sensações ocorridas durante o teste, pode-se perceber que no tempo 0 a maioria dos participantes relatou não estar sentindo nenhuma sensação. No tempo 15, quando questionados sobre as sensações, observou-se que as queixas mais comuns foram calor (queimação), tontura e cansaço. No tempo 30, momento em que o exercício físico foi encerrado, continuaram prevalecendo as queixas de cansaço e dores. No período pós-exercício, isto é 45 minutos de teste, percebeu-se mudanças em relação às sensações relatadas durante o exercício, sendo constatada diminuição das dores e uma sensação de bem-estar (relaxamento). No T60, a sensação de bem-estar continuou a ser observada.

    Tornou-se evidente que antes de iniciar o teste existiu uma predominância de ausência de sensações, e que no decorrer do teste durante os 30 minutos de caminhada em uma intensidade moderada, desconfortos como calor, dores e cansaço aumentaram, havendo um ápice da quantidade de sensações no minuto 30, momento de encerramento do exercício. Por outro lado, num segundo momento, o período pós-exercício, as sensações de bem estar e relaxamento aumentaram.

    Dependendo da intensidade, o exercício físico pode apresentar um efeito analgésico, uma vez que estimula a liberação de hormônios como endorfina na corrente sanguínea durante o esforço, propiciando ao indivíduo uma sensação de bem-estar. O exercício eleva temporariamente a temperatura corporal e induz o corpo a um relaxamento, tranqüilizando o seu praticante. DeVries e Adams apud Sharkey (1998) citam um estudo comprovando que uma simples sessão de exercício (caminhada) foi tão eficaz na redução da tensão quanto um medicamento, sendo que o efeito do exercício foi mais duradouro que o do fármaco.

    Quanto à variedade de sensações relatadas pelas diferentes participantes durante o exercício, fica clara a diversidade de sensações apresentadas, coincidindo com vários estudos que relatam vários tipos de sensações em diferentes indivíduos (Scotton e Fraga, 2000). Independente das queixas observou-se que o número de sensações diminuiu ao final do teste, sendo que em alguns casos ocorreu o desaparecimento das queixas.

    O quadro 1 mostra a identificação dos sintomas da enfermidade durante a realização do teste. Pode-se constatar que no tempo 0 foi unânime o relato de ausência de sintomas da doença. Porém, no minuto 15 a maioria cita dois sintomas concomitantes. Dentre os sintomas citados, os que mais apareceram foram: fadiga, dor de cabeça, e retenção hídrica (inchaço). Aos 30 minutos permaneceu o relato dos dois sintomas na maior parte dos pacientes: fadiga e dor de cabeça. Quinze minutos após o término do exercício (T45), houve uma diminuição dos relatos de sintomas. No último instante do teste (T60), quando questionadas sobre os sintomas, apenas uma paciente se queixou da presença de um sintoma. Todas as outras relataram ausência total de sintomas.

    A fibromialgia se destaca pela diversificação e quantidade de sintomas. Porém, todos os sintomas citados durante o teste estão diretamente relacionados ao exercício, ou seja, ocorrem devido às modificações orgânicas por interferência cardiorrespiratória, circulatória ou metabólica.

    Como constatado no presente estudo, a fadiga está presente na maioria dos casos. Em estudos prévios, este sintoma foi referido por mais de 85% dos doentes (Kaziyama, Yeng, Teixeira, 2001), e pode ser caracterizado desde uma sensação de cansaço até a exaustão extrema (Hanson, 1998). Se a fadiga já está presente no estado de repouso, em pacientes fibromiálgicos, esta se torna mais intensa e até desconfortante durante o exercício, onde a demanda de troca gasosa nas células musculares é bem maior. Segundo Sabbag et al (2000), portadores de SFM que realizaram testes ergométricos interrompem precocemente o teste, principalmente por dor muscular e exaustão física.

Quadro 1. Sintomas identificados antes, durante e depois da sessão de caminhada em esteira. 

    Em se tratando de dores de cabeça (relatadas mais freqüentemente na parte frontal) e retenção hídrica (localizada nas mãos e pés), pode-se especular a relação destes sintomas com a presença de problemas circulatórios. A diminuição de oxigênio muscular em pontos dolorosos na fibromialgia (Kaziyama, Yeng, Teixeira, 2001) pode ser a causa do aumento da circulação nas extremidades corporais durante o exercício, o que pode ter causado inchaços momentâneos.

    O quadro 2 apresenta os tender points identificados ao longo dos testes. Percebeu-se claramente que a presença do ponto doloroso mais freqüente na maioria dos portadores de fibromialgia, localiza-se nas regiões cervical e torácica superior, mais especificamente no músculo trapézio. No momento inicial (T0), isto é antecedendo o período do exercício, um dos pontos dolorosos já se mostravam presentes em todos os pacientes participantes. Nos T15 e T30, continuaram os relatos de incidência dolorosa na região cervical e do trapézio, além daquelas ocorridas de outros pontos (joelho, lombar, cotovelo). Após a sessão de caminhada (T45), houve uma diminuição da incidência de dor em algumas pacientes, sendo que no minuto 60, a maioria das voluntárias relatou ausência de pontos dolorosos.

Quadro 2. tender points identificados antes, durante e depois da sessão de caminhada em esteira. 

    Constatou-se que, no início do teste todas as pacientes sentiam dores leves ou moderadas na região do trapézio e que com o exercício este quadro de dor aumentou. Contudo, com o término da atividade, nos momentos seguintes houve uma melhora no referido fator. É importante destacar que dentre os pontos dolorosos espalhados por todo o corpo na fibromialgia, a região cervical se destaca pela presença de 3 pontos bilaterais espalhados ao longo da musculatura do trapézio. Ao todo são 6 pontos dolorosos muito próximos que se difundem no momento de percepção à dor, sofrendo uma maior concentração dolorosa em uma região específica. Outro fator importante da dor, presente nesta região, pode estar ligado à tensão muscular que esta musculatura sofre sob condições de pressão. Segundo Baccaro (1991), a tensão muscular é um dos grandes sintomas do estresse. Considerando que uma grande parte da população fibromiálgica também sofre com os males do estresse, este pode ser um fator contribuinte para o aumento da tensão muscular e da dor no referido local.

    Bengtsson et al. apud Kaziyama, Yeng, Teixeira (2001) registraram decréscimo significativo dos níveis de ATP (trifosfato de adenosina), ADP (difosfato de adenosina) e creatina-fosfato no músculo trapézio de doentes com SFM. Estes componentes exercem papéis muito importantes na contração e relaxamento da musculatura. Outro fator interessante, observado pelo estudo de Famaey et al. apud Marques (2002), foi a presença de um padrão de tetania latente e uma redução da habilidade de relaxamento do músculo dos portadores SFM. Outro estudo que comprova esta hipótese relatou que ao medir a concentração do oxigênio no centro de pontos-gatilhos (tender points), resultados preliminares indicaram um déficit significativo deste componente nestas regiões corporais (Simons apud Chaita, 2001). Todos estes fatores contribuem para o aumento da dor na região do trapézio, porém fica comprovado pelo presente estudo que uma sessão de exercício físico contribui para a diminuição momentânea deste sintoma de dor.

    A tabela 1 apresenta o comportamento da intensidade de dor dos 6 pacientes durante o teste nos tempos 0, 15, 30, 45 e 60 minutos. O comportamento visual da intensidade de dor durante o teste pode ser observado na figura 1 onde é apresentada a variação média do grupo durante a coleta dos dados.

Tabela 1. Resultados individuais e médios (± desvios padrões) da intensidade do nível de dor das pacientes antes (T0), durante (T15) e após (T30, T45 e T60) a sessão de caminhada em esteira. 

    Embora não tenham sido encontradas diferenças estatisticamente significativas, observou-se que a condição dolorosa das pacientes sofreu tendência a alterações durante todo o teste. É importante observar que todas as pacientes já apresentavam algum processo doloroso antes de iniciar o teste. O pico de incidência dolorosa ocorreu aos 30 minutos, momento em que o exercício físico foi encerrado. Nos momentos posteriores ao esforço, isto é, no T45, os níveis de dor tenderam a uma redução. Quando questionados no minuto 60 (T60), a maioria das voluntárias apresentou tendência à diminuição dos níveis de dor, aquém dos níveis anteriores ao exercício (T0).

    O descondicionamento físico é uma característica dos portadores da síndrome fibromiálgica e exerce papel importante na expressão dos sintomas, predispondo os doentes a microtraumatismos musculares, dor e fadiga crônica (Hanson, 1998; Kaziyama, Yeng, Teixeira, 2001).

    A dor específica, que acompanha algum tipo de traumatismo nestes doentes, pode evoluir para dor generalizada. Por este motivo muitas investigações são feitas com o intuito de se descobrir anormalidades musculares como causa da doença. 


Figura 1. Percepção de dor antes, durante e após a realização de 30 minutos de caminhada em esteira (média das seis participantes do teste).

    Alterações como atrofia das fibras musculares, ineficiência no transporte de oxigênio e comprometimentos metabólicos no processo de contração muscular, são responsáveis por uma maior produção de ácido láctico, que diminui a contratilidade muscular. Com isso, observa-se fadiga e conseqüentemente dores musculares (Valim, 2001). Hanson (1998) confirma esta condição ao afirmar que o consumo de oxigênio no músculo desses pacientes ocorre em hipóxia, que acontece devido a um controle defeituoso do fluxo sanguíneo a nível celular, alterando o transporte de oxigênio no músculo esquelético. Como resultado, acontece uma redução do suprimento de oxigênio, fazendo com que o material de excreção celular não seja eliminado adequadamente, conseqüentemente levando à fadiga e dor durante o exercício.

    Outro fator freqüentemente presente em pacientes fibromiálgicos é a diminuição dos níveis de aminoácidos no sangue e anormalidades estruturais musculares, responsáveis pela reparação muscular normal. Este desequilíbrio pode atrasar o processo de cicatrização de um microtrauma induzido pelo exercício, causando sintomas dolorosos nos músculos (Hanson,1998).

    Considerando que estes pacientes sofrem de uma maior sensibilidade dolorosa, todo e qualquer tipo de atividade física, de intensidade leve a moderada, pode trazer alterações significativas no processo da dor, como afirma Hanson (1998:293) ao dizer que "... as fibras envolvidas na transmissão e sensação de dor nos músculos esqueléticos têm um limiar relativamente alto ao estímulo normal. Na presença de neurotransmissores, como a serotonina, estas fibras tornam-se hipersensíveis a estímulos repetitivos ou nocivos e conseqüentemente transmitem dor a um baixo nível de esforço".

    Alguns estudos sugerem que os fibromiálgicos apresentam níveis de condicionamento físico mais baixos quando comparados com pessoas sedentárias sem fibromialgia (Valim et al, 1999). Desde que a dor pode ser aumentada durante a prática de atividade física, muitos pacientes tornam-se fisicamente inativos, piorando seu estado geral (Mengshoel, 1996).

    Pesquisas sobre os efeitos do exercício físico em portadores de fibromialgia evidenciam resultados positivos (Karper, 2002). Dentre as modalidades de exercícios (aeróbio, alongamento e resistência muscular) como alternativa eficaz no tratamento da fibromialgia, o condicionamento aeróbio tem se mostrado superior (Richards, 2002; Valim, 2001). Desta maneira, o exercício aeróbio, como a caminhada, pode promover uma maior analgesia em relação às dores musculares. Porém, Pollak (1999) adverte que o grande agravante deste tipo de tratamento é que, especialmente nas fases iniciais, o exercício pode piorar a dor e a fadiga, fazendo com que os participantes desistam precocemente da atividade. Este fato, de aumento do nível de dor no início do esforço, coincide com os achados do presente estudo.


Conclusão

    Através dos resultados obtidos neste estudo, pode-se afirmar que durante o exercício aeróbio de intensidade moderada, o quadro da síndrome fibromiálgica, baseado nos sintomas, sensações e tender points, tende a apresentar influências negativas. Contudo, após a realização do exercício, nos 30 minutos subseqüentes, os níveis de sintomas, sensações e tender points, retornaram aos níveis iniciais ou até mesmo apresentaram-se inferiores aos valores de base (como no caso dos tender points).


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