2 de ago. de 2010

Osho

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Sinta Mais. Pense Menos

Pense menos, sinta mais. Intelectualize menos, intua mais.

Pensar é um processo decepcionante, ele faz você sentir que está fazendo grandes coisas. Mas você está apenas construindo castelos no ar. Pensamento nada mais são do que castelos no ar.

Sentimentos são mais materiais, mais substanciais. Eles o transformam. Pensar sobre amor não vai ajudar, mas sentir amor está fadado a mudá-lo. Pensar é muito apreciado pelo ego, porque o ego se nutre de ficções. O ego não pode digerir qualquer realidade, e o pensar é um processo fictício...

Mude da mente para o coração, do pensar para o sentir, da lógica para o amor. E a segunda mudança é do coração ao ser - porque ainda há uma camada mais profunda em você, onde os sentimentos não podem alcançar. Lembre-se destas três palavras: mente, coração, ser. O ser é a sua natureza pura. Em volta do ser está o sentimento e em volta do sentimento está o pensamento. O pensar está muito longe do ser, mas o sentir está um pouco mais perto; ele reflete alguma glória do ser. É como num por do sol, o sol sendo refletido pelas nuvens e as nuvens enchendo-se de belas cores.

Elas mesmas não são o sol, mas elas estão refletindo a luz do sol. Os sentimentos estão mais próximos do ser, assim eles refletem alguma coisa do ser. Mas tem que ir-se além dos sentimentos também. E entào o que é ser?

Não é nem pensar, nem sentir, é puro não-ser. Você apenas é.

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Osho, o que é angustia?
É apenas um outro nome para a ansiedade?

 A angústia tem algo da ansiedade, mas ela não é apenas ansiedade. É muito mais, muito mais profunda.

 Ansiedade quer dizer que você está preocupado com um determinado assunto, num estado de indecisão. Você não sabe se deve ou não fazer certa coisa, qual será a forma certa de fazê-la, o que escolher... - há tantas formas. Você está sempre numa encruzilhada. Todos as formas parecem similares; certamente, levando a algum lugar. Mas será que levam à meta que você está aspirando?

 A ansiedade é essa condição de fazer ou não fazer, de escolher isto ou escolher aquilo. Mas o objeto da ansiedade é claro: você está indeciso sobre as formas de fazer, indeciso sobre duas pessoas, indeciso sobre dois empregos.

 A angústia não tem nenhum objeto determinado.

 A angústia é sentida por pessoas muito raras. A ansiedade é sentida por todos: tratase de uma experiência comum. A angústia é sentida somente pelos gênios, pelos mais altos picos de inteligência. Ela não tem nenhum objeto determinado: não há nada para você escolher entre duas alternativas, nenhum "isto ou aquilo". Não existe nenhuma questão de escolha. Então, qual é o problema com a angústia?

 Vou tentar explicar. É um pouco difícil de compreender, mas não impossível. Nasce uma rocha, nasce uma árvore, nasce um leão, nasce uma águia... - mas estes diferem do homem. A diferença é esta: neles, o ser precede a existência.

 Por exemplo, uma pedra. Ela é viva, ela cresce. Os Himalaias ainda estão crescendo - trinta e poucos centímetros a cada ano. Alguém pode dizer a ele: "Ora, isso não tem sentido, você já é o mais alto. Não se dê tanto trabalho!". Deve ser algo perturbador: milhares de quilômetros, milhares de picos, o trabalho deve ser enorme. Até mesmo crescer trinta e poucos centímetros a cada ano, não é nenhuma coisinha para os Himalaias. "E agora não há mais necessidade. Por maior que você se torne, você somente permanecerá a montanha mais alta do mundo. Você já ultrapassou todas as montanhas, deixou-as muito lá atrás.".

 Mas os Himalaias continuam crescendo, ele é um ser vivo. As montanhas não compreendem. O homem não compreende... - o que dizer das montanhas?!

 Uma rocha, uma árvore, um leão, uma águia... - a essência deles precede a existência. O que eles vão ser, eles já estão programados para ser. Aquela é a essência deles. Uma rosa vai ser uma rosa. Mesmo antes das flores surgirem, você sabe que aquelas flores não vão ser cravos-de-defunto. A árvore é de rosas; a essência da rosa já está ali - simplesmente a existência tem que acontecer. O programa básico já é provido pela natureza, tem apenas de ser manifesto.

 Será bom lembrarmos aqui de uma certa descoberta em décadas passadas, que aconteceu na União Soviética. Um simples fotógrafo amador, mas um verdadeiro gênio criativo - usando suas câmeras, seus estúdios, a química e a fotografia - estava tentando descobrir diferentes modos de trazer algo novo para a fotografia. E, por acaso, ele fez uma das maiores descobertas da história humana: a fotografia Kirlian.

 Ele pode tirar uma foto de um botão de rosa. Ele refinou seus instrumentos de tal modo, que a pessoa põe o botão de rosa em frente de sua câmera, e ele tira a foto da flor que o botão vai se tornar. Ele capta a essência que ainda não está manifesta, mas que, de algum modo, está manifesta, porque a câmera a capta. Nossos olhos não são capazes de captá-la. E quando a rosa floresce é estranho, mas ela é exatamente igual a que a foto mostrou.

 De algum modo, a energia da rosa que mais tarde se torna visível para nossos olhos, estava se movendo no mesmo padrão em que flor iria se tornar. Era uma flor de energia, apenas puros raios de luz e cor, mas exatamente na mesma forma, preparando a base para a manifestação. A câmara capta esses raios e lhe dá uma cópia da futura rosa. Talvez, amanhã ou depois de amanhã, ela se torne disponível a seus olhos. Isso quer dizer que a rosa, antes de se tornar existente, já existe em essência. Desse modo, a afirmação: a essência precede a existência.

 No homem, a existência precede a essência.

 Primeiramente, ele nasce e depois, ele começa a descobrir o que ele pode ser. Essa é a angustia.

 Ele não tem nenhum programa, nenhuma diretriz determinada, dada pela natureza, nenhum mapa a seguir. Ele é deixado apenas como pura existência. Ele tem de descobrir tudo sobre si mesmo. A vida é um desafio a cada momento; assim, a todo momento ele tem de escolher. Sempre que ele tem de escolher, há ansiedade - mas a ansiedade é particular.

 A angústia é uma estado geral do ser humano. Ele está em angústia desde o nascimento até a morte, porque ele não tem meio de saber qual é o seu destino, onde ele irá parar.

É claro, muito poucas pessoas sentem angústia, porque muito poucas pessoas são assim tão cônscias de si mesmas, de suas existências, de para onde estão indo, do que estão se tornando, do que vai acontecer. Elas vivem muito interessadas no trivial.

 O trivial cria ansiedade.

 E sempre que há escolha, há ansiedade.

 Assim, todo mundo, a cada passo, a cada momento de sua vida, encara a ansiedade. A ansiedade é comum, um acontecimento diário.

 A angústia é muito profunda.

 As duas palavras vêm da mesma raiz; daí, a questão. Na angústia, há alguma ansiedade, porque você está preocupado, interessado. Mas o interesse não é relativo a qualquer trabalho, a qualquer coisa, a qualquer coisa em particular - não, é uma vaga sensação geral de: "O que sou eu?".

 Um dos maiores visionários indianos desta era, Raman Mahrishi, tinha somente uma mensagem para todo mundo. Ele era um homem simples, não era um erudito. Ele saiu de casa quando tinha dezessete anos de idade - não tinha muita instrução. Era uma mensagem simples. A quem quer que chegasse até ele - e as pessoas vinham de todas as partes do mundo - tudo o que ele dizia era: "Sente-se num canto, em qualquer lugar...".

 Ele morava numa colina, Arunachal, e ele tinha determinado a seus discípulos que fizessem cavernas na colina. Havia muitas cavernas. "Vá e sente-se numa caverna, e apenas medite nisto: ‘Quem sou eu?'. Tudo o mais são apenas explicações, experiências, esforços para traduzir essas experiências em linguagem. A única coisa verdadeira é esta questão: Quem sou eu?".

 Eu entrei em contato com muitas pessoas, mas jamais entrei em contato com Raman Maharishi - ele morreu quando eu era muito novo.

 Eu não pude ver Raman, mas encontrei muitas pessoas que tinham sido discípulos dele, mais tarde, quando eu estava viajando. Quando fui até Arunachal, eu me encontrei com seus discípulos mais íntimos, que já estavam muito velhos então. E não encontrei nem um único que tivesse compreendido a mensagem daquele homem.

 Não era uma questão da língua, porque eles todos sabiam o Tamil: era uma questão de uma perspectiva e de uma compreensão totalmente diferentes. Raman tinha dito: "Olhe para dentro e descubra quem é você.". E o que faziam aquelas pessoas quando eu fui lá? Elas transformaram aquilo numa cantilena! Elas se sentavam e entoavam: "Quem sou eu? Quem sou eu? Quem sou eu?" - exatamente como qualquer outro mantra.

 Há pessoas que estão fazendo seus Japas : "Rama, Rama, Rama", ou "Hari Krishna, Hari Krishna, Hari Krishna"... Em Arunachal, eles estavam usando essa mesma tecnologia para uma coisa totalmente diferente, que Raman jamais teria pensado. E eu disse aos discípulos dele: "O que vocês estão fazendo não é o que ele pretendia. Repetindo 'Quem sou eu?', vocês acham que alguém vai responder? Vocês continuarão a repetir isso por toda a vida e nenhuma resposta virá.".

 Eles disseram: "Por um lado estamos fazendo o que compreendemos que ele pretendia. Por outro lado, não podemos dizer que você está errado, porque passamos a nossa vida toda cantando quem sou eu, quem sou eu, quem sou eu?..." - claro que em Tamil, na língua deles - "mas nada aconteceu.".

 Eu disse: "Vocês podem continuar cantando isso durante muitas vidas mais - nada vai acontecer. Não é uma questão de cantar 'quem sou eu?'. Vocês não têm de pronunciar nem uma única palavra, têm simplesmente de ficar silenciosos e ouvir. No começo, vocês descobrirão, como moscas voando ao seu redor, milhares de pensamentos, desejos, sonhos - sem nenhuma relação, irrelevantes, insignificantes. Vocês estão no meio da multidão, num zumbido. Simplesmente fiquem quietos e sentem-se nesse bazar que é a sua mente.".

'Bazar' é uma linda palavra. O inglês tomou-a emprestado do Oriente, mas talvez eles não saibam que ela vem de 'zumbir': um bazar é um lugar que está continuamente fazendo barulho. E sua mente é o maior bazar que existe. Na mente de cada um, num crânio tão pequeno, cada um de vocês está carregando um enorme bazar. E vocês ficarão surpresos de saber que muitas pessoas residem dentro de você - tantas idéias, tantos pensamentos, tantos desejos, tantos sonhos! Vá observando e sente-se silenciosamente no meio do bazar.

 Se você começar a dizer "quem sou eu?", você se torna parte do bazar - você começou a zumbir. Não seja um zumbidor: simplesmente fique em silêncio. Deixe continuar aquele bazar todo: você permanece o centro do ciclone.

 Sim, é preciso ter um pouco de paciência. Não é previsível a que horas vai parar o burburinho dentro de você. Mas uma coisa pode ser dita com certeza: ele vai parar numa hora ou noutra. Depende de você, quanto de bazar você tem, por quantos anos você o tem carregado, por quantas vidas você o carregou, quanto nutrimento você lhe deu, e quanto de paciência você tem para se sentar silenciosamente no meio dessa multidão louca ao seu redor - enlouquecendo-o, puxando-o de todos os lados.

 Você está ciente da ansiedade. Mas você não está ciente da angústia ainda.

 Em primeiro lugar, quando você sentir angústia, você sentirá em tremendo tormento, uma profunda depressão... - um abismo insondável se abrindo diante de você, e você caindo nele. É terrível no começo, mas somente no começo.

 Se você puder ser paciente, só um pouquinho paciente, e permitir o que quer que aconteça, logo, logo, você ficará ciente de uma nova qualidade em seu ser: tudo o que está acontecendo está ao seu redor, não está acontecendo em você. É algo externo, não interno. Até mesmo sua própria mente é algo do exterior.

 No centro mais recôndito, há somente uma coisa. Esta coisa é: o testemunhar, a observação, a atenção, a consciência.

 E é a isso que eu chamo de meditação.

 Sem a angústia você não pode meditar.

 Você tem de passar através do fogo da angústia. Ele queimará o lixo e o deixará mais limpo e rejuvenescido.

 E o seu ser não está muito distante. Ele está aí, muito perto, mas simplesmente o zumbido de todos os pensamentos não lhe permite ouvi-lo, vê-lo, senti-lo.

 A angústia é a indagação dentro da própria pessoa, pondo a interrogação nela mesma.

 Vocês têm perguntado coisas como "quem é Deus?" e "quem criou o mundo?". Todas essas perguntas são apenas para mentes retardadas. Uma mente madura tem somente uma questão. Nem mesmo duas, apenas uma única questão: "Quem sou eu?".

 E isso também você não tem de perguntar verbalmente, você tem apenas de estar no estado de questionamento. Você não tem de repetir "quem sou eu?", você tem apenas de estar presente, atento, olhando... não perguntando verbalmente, mas perguntando existencialmente.

 E essa questão existencial é terrível no começo, dolorosa no começo, mas traz todas as bênçãos no final.

 Gautama, O Buda, disse: "Meu caminho no começo é amargo, mas no fim é muito doce.".

 Que caminho? Ele não está falando sobre a religião budista - embora seja dessa forma que os monges budistas irão interpretar. Ele está falando sobre o caminho do qual eu estou falando - o caminho que o leva para dentro.

& Sim, ele é amargo no começo, mas doce no fim. Ele é como a morte no começo e é a vida eterna no fim.

& E todas as bênçãos da existência são suas.

& Você fica tão abençoado que pode abençoar toda a existência.

& Esse é o significado da palavra ‘Bhagwan’; O Abençoado.

&O Abençoado nasce da angustia.

Osho, From Personality to Individuality, #6

Cem Recomendações para a Vida

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1 - Descubra seu maior defeito e disponha-se a corrigi-lo.

2 - Escolha até três exemplos de vida e determine-se a segui-los.

3 - Tenha força e sabedoria para resistir às tentações do mundo.

4 - Cultive a força da tolerância de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. Então, passe a cultivar a tolerância pela vida, a tolerância por todos os darmas e a tolerância pelos darmas não-surgidos de maneira a transformar o cultivo da tolerância em força e sabedoria.

5 - Aprenda a se adaptar à pressão externa e não se deixe afetar por ela.

6 - Seja ativo e destemido. Pense antes de agir.

7 - Envergonhe-se do que ignora, do que é incapaz,
do que o torna impuro e rude.

8 - Faça com freqüência algo que toque o coração das pessoas.

9 - Sinta-se bem sob qualquer circunstância, siga as condições corretas, esteja sempre livre de aflições e faça tudo com alegria no coração.

10 - Ser corajoso e virtuoso é ter a capacidade de admitir os próprios erros.

11 - Aprenda a aceitar perdas, falsas acusações,
contratempos e humilhações.

12 - Não inveje aqueles que praticam boas ações ou dizem boas palavras.
Tenha sempre na mente, bondade e beleza.

13 - Não empurre os outros para a beira do abismo; ao contrário, dê-lhes espaço para recuar — um dia eles poderão lhe ajudar.

14 - Sirva àqueles que desejam fazer o bem, compartilhe um objetivo. Favoreça os outros e respeite seus anseios.

15 - Seja amável e humilde ao relacionar-se com as outras pessoas. Expresse bondade em seu semblante e em sua fala.

16 - A capacidade de doar traz abundância verdadeira.

17 - Importe-se apenas com o que é certo ou errado;
não se fixe em perdas e ganhos.

18 - Deixe de lado pensamentos egoístas e dedique-se à justiça,
à verdade e ao bem comum.

19 - Viaje pelo mundo sob o céu estrelado. Vivencie a prática da procissão de mendicância pelo menos uma vez na vida.

20 - Abra mão de todas as suas posses ao menos
uma ou duas vezes na vida.

21 - A cada quatro ou cinco anos, empreenda uma viagem sozinho.

22 - Não se deixe cegar pelo amor. Não se traia por dinheiro.

23 - Não bata de frente com as coisas — aprenda a arte de ser sutil.

24 - Não há êxito sem persistência, diligência e determinação.

25 - Desenvolva autoconfiança, expectativas em relação
a si mesmo e metas pessoais.

26 - Procure ouvir boas palavras e jamais esqueça o que elas significam.

27 - Não desperdice o seu tempo. Faça planos e use o tempo com sabedoria.

28 - Seja sempre sensato, pois a sensatez é imparcial e igual para com todos.

29 - Lembre-se dos erros cometidos.
Tenha-os sempre em mente para não repeti-los.

30 - Seja qual for a sua função, desempenhe-a bem.
Não olhe para os lados.

31 - Faça tudo com boa intenção, verdade, sinceridade e beleza.

32 - Não se apegue ao passado. Olhe sempre adiante.

33 - Lute sempre pelos seus objetivos e vá longe.

34 - Planeje sua carreira, use seu dinheiro com sabedoria, purifique seus sentimentos e não se apegue a fama e riqueza.

35 - Desenvolva compreensão e visão corretas.
Não se deixe levar cegamente pelos outros.

36 - Renuncie a apegos insensatos e aceite a verdade com mente humilde.

37 - Não faça intrigas nem espalhe rumores. Não se deixe influenciar por eles.

38 - Aprenda a desenvolver sua mente, reformar seu caráter,
recuar e dar guinadas em na vida.

39 - Cultive méritos por meio de doações que estejam de acordo com sua capacidade, função, disposição e condição.

40 - Creia profundamente no Darma e contemple todas as virtudes.
Nunca faça o mal; pratique sempre o bem.

41 - Não culpe os céus nem os outros por sua infelicidade,
pois tudo tem sua causa e seu efeito.

42 - Pense no bom e belo ao invés de pensar no que é triste e penoso.

43 - Conquiste ao menos três tipos de habilitação ao longo da vida, como, por exemplo, para guiar automóveis, cozinhar, digitar, cuidar de enfermos, exercer a medicina, o magistério, o direito, a arquitetura etc.

44 - Aprenda a articular bem a fala e a escrita. Aprenda a ouvir, a apreciar, a pensar, a cantar, a pintar e a desenvolver habilidades. Quanto mais se aprende, melhor. Aprenda, ao menos, metade disso tudo.

45 - Leia ao menos um jornal por dia, para se manter em dia com o mundo.

46 - Leia pelo menos dois livros por mês.

47 - Mantenha uma rotina diária.

48 - Cultive hábitos regulares de sono e alimentação.

49 - Pratique exercícios físicos.

50 - Mantenha-se longe de cigarro, álcool, pornografia e drogas.
Administre e controle sua própria vida.

51 - Pratique meditação por, pelo menos, dez minutos todos os dias.

52 - Passe, pelo menos, metade de um dia sozinho,
uma vez por semana.

53 - Ao menos uma vez por mês, pratique o vegetarianismo,
para nutrir seu coração de compaixão.

54 - Ajude os outros e faça o bem sem esperar nada em troca.

55 - Compartilhe sua alegria e compaixão com os demais.

56 - Mantenha a capacidade de se auto-avaliar sob qualquer circunstância.

57 - Reze pelos desafortunados, onde quer que você esteja.

58 - Seja preciso em suas observações. Considere todos os ângulos e seja tolerante e compreensivo em relação aos outros.

59 - Aprecie a vida, cuide dela e não a maltrate jamais.

60 - Use seu dinheiro e suas posses com sabedoria.
Não desperdice nem gaste demais.

61 - Em tempos de alegria, contenha a sua fala;
no infortúnio, não despeje sua raiva sobre os outros.

62 - Não enalteça seus próprios méritos nem aponte os erros alheios.

63 - Não inveje nem suspeite. Méritos advêm das
realizações e da ajuda aos outros.

64 - Não seja ganancioso em relação às posses alheias,
nem mesquinho em relação às suas.

65 - Demonstre coerência entre atitude e pensamento.
Não seja iluminado na teoria e ignorante na prática.

66 - Não fique sempre pedindo ajuda aos outros.
Busque ajuda dentro de si mesmo.

67 - Faça de sua própria conduta um bom exemplo.
Não espere benevolência dos outros, mas de si mesmo.

68 - Cultivar bons hábitos é a melhor maneira de manter
uma vida íntegra e saudável.

69 - É melhor ser não-inteligente do que não-compassivo.

70 - A mente otimista é contemplada com um futuro brilhante.

71 - Construa seu próprio destino. Corra atrás das
oportunidades ao invés de esperar que elas caiam do céu.

72 - Controle suas emoções e seu humor: não se deixe levar por eles.

73 - Elogio e ofensa fazem parte da vida. Não se apegue a eles
— conserve sempre a paz interior.

74 - A doação de órgãos ajuda a prolongar a vida além
de propiciar recursos para as vidas de outros seres.

75 - Ouça o que os outros têm a dizer e
anote a essência do que eles dizem.

76 - Olhe para si mesmo antes de acusar os outros. Somente uma avaliação honesta de seus méritos e de méritos lhe dá o direito de julgar os demais.

77 - Cumpra suas promessas.

78 - Não viole o direito dos outros para beneficiar a si próprio.
Favorecer os demais, às vezes, é imperioso.

79 - Não sinta prazer em ridicularizar os outros.
Ao contrário, aprenda a fazê-los felizes.

80 - Não critique, por inveja, a benevolência do outro.
Respeite-o e siga seu bom exemplo.

81 - Não use de traição para obter vantagens.

82 - Os privilégios devem, antes de tudo,
ser oferecidos às outras pessoas.

83 - Aprenda a aceitar as desvantagens.
Saiba que, na verdade, elas são vantagens.

84 - Não se apegue a perdas e ganhos. Não faça comparações entre o que você e os outros têm ou deixam de ter.

85 - Seja sincero, impetuoso e educado.

86 - Harmonia, paz e tranqüilidade são a chave para o
relacionamento com as pessoas.

87 - Respeito, reverência e tolerância são a
tríade para manter boas relações com o mundo.

88 - A raiva não resolve problemas. Somente uma mente tranqüila e pacífica pode ajudar você a lidar com a vida.

89 - Relacione-se com pessoas virtuosas e bons mestres.

90 - Não contamine os outros com sua tristeza,
nem leve preocupações para a cama.

91 - Busque prazer e alegria em tudo o que faz,
e transmita isso a todos.

92 - Seja grato aos benevolentes e aos que prestam auxílio.
Deixe-se tocar por seus atos virtuosos.

93 - Dê um toque de serenidade a tudo o que você fizer na vida.

94 - Não existe dificuldade ou facilidade absolutas. O esforço transforma dificuldade em facilidade, enquanto a indolência torna o fácil difícil.

95 - Ajude seus vizinhos e sua comunidade e participe dos eventos locais. Assim, você se tornará um voluntário da humanidade.

96 - Só a humildade gera o bem.
A arrogância não traz nada mais que desvantagem.

97 - Aproxime-se de mestres virtuosos.
Ouça-os, seja leal e não os desacate.

98 - Ajudar os outros é ajudar a si mesmo.
Ter consideração pelos outros significa cuidar e amar a si próprio.

99 - Dê aos jovens oportunidades e ofereça-lhes
orientação sempre que necessário.

100 - Cuide de seus pais e seja amoroso com eles.

Ecologia e o Coração Humano Dalai Lama

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Segundo os ensinamentos budistas, há uma interdependência muito próxima entre o meio ambiente natural e os seres sencientes que nele habitam. Alguns de meus amigos me disseram que a natureza humana básica é um tanto violenta, mas eu disse que não concordo. Se examinarmos os diferentes tipos de animais, por exemplo, aqueles cuja própria sobrevivência depende de tirar outras vidas, como tigres ou leões, aprendemos que a sua natureza básica dota-lhes com dentes e garras afiadas. Animais pacíficos, como corças, que são totalmente vegetarianas, são mais gentis, possuem dentes menores e não têm garras. Desse ponto de vista, nós seres humanos temos uma natureza não violenta. Quanto à questão da sobrevivência humana, os seres humanos são animais sociais. Para sobreviver, precisamos de companheiros. Sem outros seres humanos não há possibilidade alguma de sobrevivência; esta é a lei da natureza.

Como acredito profundamente que os seres humanos são basicamente gentis por natureza, sinto que devemos não só manter relações gentis e pacíficas com a comunidade de seres humanos, mas também que é muito importante estender a mesma atitude gentil para com o meio ambiente natural. Do ponto de vista moral, devemos nos preocupar com todo o nosso meio ambiente.

Além disso, há um outro ponto de vista, não é só uma questão de ética, mas uma questão de nossa própria sobrevivência. O meio ambiente é muito importante não só para esta geração, mas também para as gerações futuras. Se explorarmos o meio ambiente de maneira extrema, embora possamos conseguir algum dinheiro ou outro benefício com isso agora, em longo prazo nós próprios sofreremos e as gerações futuras também sofrerão. Quando o meio ambiente muda, as condições climáticas também mudam. Quando elas mudam dramaticamente, a economia e muitas outras coisas também mudam. Até a nossa saúde física será fortemente afetada. Então, isto não é só uma questão moral, mas também uma questão de nossa própria sobrevivência.

Portanto, para o sucesso da proteção e conservação do meio ambiente natural, penso que é importante primeiro de tudo fazer com que um equilíbrio interno aconteça dentro dos próprios seres humanos. O abuso do meio ambiente, que resultou em tais danos à comunidade humana, surgiu da ignorância quanto à importância do meio ambiente. Penso que é essencial ajudar as pessoas a compreender isto. Precisamos ensinar às pessoas que o meio ambiente tem uma relação direta com o nosso próprio benefício.



Eu estou sempre falando da importância do pensamento compassivo. Como disse antes, até do seu próprio ponto de vista egoísta, você precisa de outras pessoas. Então, se desenvolver a preocupação pelo bem estar de outras pessoas, compartilhar o sofrimento dos outros, e ajudá-los, no fim você se beneficiará. Se pensar só em si mesmo e se esquecer dos outros, no fim você perderá. Isso também é como a lei da natureza.

É muito simples: se você não sorrir para as pessoas, mas olhar de forma carrancuda, eles vão responder de maneira similar, não vão? Se lidar com outras pessoas de uma maneira muito sincera e aberta, eles se comportarão de forma similar. Todo mundo quer ter amigo e não quer ter inimigo. A forma correta de fazer amizades é ter um coração caloroso e não só dinheiro ou poder. Amigos do poder e amigos do dinheiro são coisas diferentes: eles não são amigos verdadeiros. Amigos verdadeiros devem ser verdadeiros amigos do peito, concordam? Eu estou sempre dizendo às pessoas que os amigos que aparecem quando você tem dinheiro e poder não são seus verdadeiros amigos, mas amigos do dinheiro e do poder, porque assim que o dinheiro e o poder desaparecerem, estes amigos também estão prontos para partir. Eles não são confiáveis.

Amigos humanos autênticos ficam ao seu lado quer você tenha sucesso ou esteja sem sorte e sempre dividem as suas dores e cargas. A maneira de fazer tais amizades não é tendo raiva, nem tendo boa educação ou inteligência, mas tendo um bom coração.

Para aprofundar o pensamento, se você precisa ser egoísta, então que seja sabiamente egoísta, e não tacanhamente egoísta. A chave é o senso de responsabilidade universal; esta é a verdadeira fonte da força, a verdadeira fonte da felicidade. Se a nossa geração explora tudo que há disponível — as árvores, a água, e os minerais sem qualquer cuidado com as próximas gerações ou o futuro, então estamos errados, não estamos? Mas se tivermos um senso genuíno de responsabilidade universal como nossa motivação central, então as nossas relações com nossos vizinhos, tanto os nacionais quanto os internacionais serão promissoras.



Uma outra questão importante é: O que é consciência e o que é a mente? No mundo ocidental, durante os últimos um ou dois séculos, houve grande ênfase em ciência e tecnologia, que trata principalmente da matéria. Atualmente alguns físicos nucleares e neurologistas dizem que quando investigamos partículas de uma forma muito detalhada, há algum tipo de influência do lado do observador, o sabedor. O que é este sabedor? Uma resposta simples é: um ser humano, o cientista. Como este cientista sabe? Com o cérebro, os cientistas ocidentais identificaram até agora apenas umas centenas. Agora, quer chame isto de mente, cérebro, ou consciência, há uma relação entre cérebro e mente e também entre mente e matéria. Penso que isto é importante, Acredito que é possível manter algum tipo de diálogo entre a Filosofia Oriental e a Ciência Ocidental com base neste relacionamento.

Em qualquer caso, atualmente nós seres humanos estamos muito envolvidos com o mundo externo, enquanto negligenciamos o mundo interno. Precisamos de desenvolvimento científico e desenvolvimento material para sobreviver e para aumentar o benefício e a prosperidade geral, mas precisamos igualmente de paz mental. No entanto, nenhum médico pode aplicar uma injeção de paz mental, e nenhum mercado pode vendê-la. Se você for até um supermercado com milhões e milhões de dólares, você pode comprar qualquer coisa, mas se for até lá e pedir paz mental, as pessoas vão rir. É se pedir a um médico a paz mental autêntica, não a simples sedação que consegue tomando algum tipo de pílula ou injeção, o médico não poderá ajudá-lo.

Até os atuais computadores sofisticados não podem dar paz mental. A paz mental deve vir da mente. Todo mundo quer felicidade e prazer, mas se compararmos prazer físico e dor física com prazer mental e dor mental, chegamos à conclusão de que a mente é mais efetiva, predominante e superior. Assim, vale a pena adotar certos métodos para aumentar a paz mental, e para fazer isto é importante saber mais a respeito da mente. Quando falamos de preservação do meio ambiente, isso está relacionado a muitas outras coisas. O ponto chave é ter um senso autêntico de responsabilidade universal, baseado em amor e compaixão, e consciência clara.
(Extraído de My Tibet, Thames and Hudson Ltd., London, 1990, pág. 53-54. Traduzido por Marly Ferreira.)

Fonte: http://www.dalailama.org.br/ensinamentos/ecologia.php

Pensamentos Dalai lama

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Pensamentos

Minha mensagem é a prática do amor, da compaixão e da bondade. Estas qualidades são muito úteis para vivermos nosso cotidiano mais harmoniosamente, e também muito importantes para a sociedade humana como um todo.

Uma profunda compaixão é a raiz de todas as formas de adoração.

Onde quer que eu vá, sempre aconselho as pessoas a serem altruístas e bondosas. Tento concentrar toda a minha energia e força espiritual na disseminação da bondade. É o que há de mais essencial.

A bondade é o que realmente importa. A bondade, o amor e a compaixão combinados são sentimentos que levam à essência da fraternidade. São os alicerces da paz interior.

Com sentimentos de ódio e rancor, é muito difícil alcançar a paz interior. Neste sentido, as religiões e crenças são convergentes. Em todas as grandes religiões do mundo, a ênfase é no espírito de fraternidade.

São os inimigos que verdadeiramente nos ensinam a vivenciar sentimentos de compaixão e tolerância. As guerras surgem porque não há compreensão do lado humano das pessoas. Ao invés de conferências e encontros políticos, por que não convocar as famílias a fazerem um piquenique para que se conheçam mutuamente, enquanto suas crianças brincam juntas?

Nos tempos antigos, quando havia uma guerra, o embate era corpo a corpo. O vitorioso entrava em contato direto com o sangue e o sofrimento do inimigo durante a batalha. Hoje, as guerras adquiriram uma proporção muito mais horrenda. Um homem, sentado em uma sala, aperta um botão e mata milhões de pessoas instantaneamente, sem ao menos ver o sofrimento humano que infligiu. A mecanização da guerra e a automação do conflitos humanos são, cada vez mais, uma ameaça à paz mundial.

Sempre acreditei que a determinação humana e a verdade prevaleceriam sobre a violência e a opressão. No mundo de hoje, em todos os lugares, há mudanças importantes ocorrendo, que poderão afetar profundamente nosso futuro e o futuro da humanidade, bem como nosso planeta. Decisões corajosas por parte de vários líderes mundiais propiciam a resolução pacífica de conflitos. A esperança de haver paz, preservação do meio ambiente e uma abordagem mais humana aos problemas do mundo parece estar mais presente que nunca.

Ninguém pode prever o que acontecerá em algumas décadas ou séculos, por exemplo, qual o impacto que o desflorestamento terá sobre o clima, o solo, as chuvas. Temos muitos problemas porque as pessoas estão centradas em seus próprios interesses, em ganhar dinheiro e não estão pensando no bem-estar da comunidade como um todo. Não estão pensando na Terra a longo prazo, e nos efeitos ambientais adversos sobre o homem. Se nós, da atual geração, não refletirmos sobre estas questões agora, as gerações futuras não terão como lidar com elas.

Muitos de nós juntam-se sob o mesmo sol resplandecente, falando línguas diversas, vestindo indumentárias diferentes e até mesmo possuindo crenças distintas. Contudo, nós todos somos idênticos como seres humanos e individualmente únicos. Desejamos todos, indistintamente, a felicidade e não o sofrimento.

Mesmo que não possamos resolver certos problemas, não devemos nos frustrar. Como humanos devemos enfrentar a morte, a velhice e doenças, que, tal qual um furacão, são fenômenos naturais que fogem ao nosso controle. Devemos enfrentá-los, não podemos evitá-los. São sofrimentos que já bastam em nossa vida. Por que criarmos mais problemas por apego à nossa ideologia ou porque pensamos de maneira diferente? É inútil e triste! Milhões de pessoas sofrem com esse tipo de problema. É um verdadeiro desperdício, visto que podemos evitar o sofrimento adotando uma atitude diferente e reconhecendo a humanidade à qual as ideologias deveriam servir.

Rancor, ódio, ciúme: não é possível encontrar a paz com eles. Podemos resolver muitos de nossos problemas por meio da compaixão e do amor. Só assim nos desarmaremos e encontraremos a verdadeira felicidade. Uma das maiores virtudes é a compaixão. A compaixão não pode ser comprada numa loja de departamentos ou fabricada por máquinas. Ela advém do crescimento interior. Sem paz de espírito, é impossível haver paz no mundo.

Na nossa vida, cultivar a tolerância é muito importante. Com tolerância, pode-se facilmente superar as dificuldades. Caso você tenha pouca ou nenhuma tolerância, ficará irritado com as mínimas coisas. Em situações difíceis, terá reações extremadas. Em minha vida, já refleti muito a respeito desta questão e sinto que a tolerância é algo que deve ser praticado no mundo inteiro, no seio da sociedade humana. Mas, quem nos ensina tolerância? Pode ser que seus filhos o ensinem a cultivar a paciência, mas é seu inimigo quem irá ensinar-lhe a prática da tolerância. O inimigo é seu mestre. Mostre-lhe respeito, ao invés de ódio. Dessa forma, a verdadeira compaixão irá brotar de seu interior e essa compaixão é a base de tudo aquilo que você é e acredita.

Bens e compensações materiais são absolutamente necessários à sociedade humana, a um país, a uma nação. Ao mesmo tempo, o progresso material e a prosperidade somente não podem levar à paz interior. A paz interior vem de dentro. Portanto, nossa atitude perante a vida, perante os outros e principalmente em relação às nossas dificuldades conta muito. Quando duas pessoas enfrentam o mesmo problema, atitudes mentais distintas fazem com que o problema seja de mais fácil resolução para uma pessoa do que para outra. Desta forma, o que realmente nos diferencia é a perspectiva interna de cada um.

Se colocarmos os níveis de consciência mais sutis a nosso serviço, estaremos expandindo nossa mente. Assim sendo, as virtudes originárias da mente podem se expandir ilimitadamente.

A compaixão e o amor são as virtudes mais preciosas da vida. Por serem muito simples, são difíceis de serem colocados em prática. A compaixão só poderá ser plenamente cultivada à medida que se reconhece que cada ser humano é parte da humanidade e pertencente à família humana, independente de religião, raça, cultura, cor e ideologia. A verdade é que não há diferença alguma entre os seres humanos.

Sem amor, a sociedade humana encontra-se em situação difícil. Sem amor, iremos enfrentar problemas terríveis no futuro. O amor é o centro da vida.

Se tiver amor e compaixão por todos os seres sencientes, em especial por seus inimigos, este é o verdadeiro amor e a verdadeira compaixão. O amor e compaixão, nutridos por seus amigos, esposa e filhos, não são verdadeiros em sua essência. São apego, e esse tipo de amor não pode ser infinito.

Insisto em afirmar que as principais religiões do mundo — budismo, cristianismo, judaÍsmo, confucionismo, hinduismo, islamismo, jainismo, sikhismo, taoismo, zoroastrismo — possuem os mesmos ideais de amor, o mesmo objetivo de beneficiar a humanidade por meio da prática espiritual, e a mesma determinação de aprimorar seus praticantes como seres humanos. Todas as religiões pregam preceitos morais para o aperfeiçoamento da mente, do corpo e da fala. Todas nos ensinam a não mentir, roubar ou tirar a vida de outras pessoas. A essência de todos os preceitos morais preconizados pelos grandes mestres da humanidade é o não-egoísmo. Esses mestres tinham como objetivo remir os praticantes de ações negativas, frutos da ignorância, e conduzi-los ao caminho do bem.

Se percebemos a humanidade como sendo una e singular, iremos constatar que as diferenças são secundárias. Com atitude de respeito e preocupação pelo próximo, experimentamos a felicidade. Só assim criamos a verdadeira harmonia e fraternidade. À sua maneira, tente cultivar a paciência. Modifique sua atitude. As mudanças vêm com a prática. A mente humana tem esse potencial. Aprenda a treiná-la.

A nossa sombra interior, a que chamamos de ignorância, é a raiz de todo o sofrimento. Quanto mais luz houver, menos a sombra se manifestará. A luz é o único caminho para a salvação, para alcançar o nirvana.

Deve haver um equilíbrio entre o progresso espiritual e o material. Atinge-se esse equilíbrio por meio de princípios calcados no amor e na compaixão. O amor e a compaixão são a essência de todas as religiões, que têm muito a aprender entre si. O objetivo primordial de todas as religiões é criar seres humanos mais tolerantes, mais compassivos e menos egoístas.

Os seres humanos são dotados de uma natureza tal que não deveriam apenas possuir bens materiais, mas deveriam antes possuir sustento espiritual. Sem o sustento espiritual, torna-se difícil adquirir e manter a paz de espírito.

Para cultivar a sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.

Fonte: http://www.dharmanet.com.br/dalai/

Bondade e Compaixão



ESTA NOITE, gostaria de falar a vocês sobre a importância da bondade e da compaixão. Ao discutir esses temas, não me vejo como budista, Dalai Lama ou tibetano, mas sim como um ser humano e espero que vocês, no auditório, pensem em si mesmos dessa maneira. Não como americanos, ocidentais ou membros de um determinado grupo, pois essas condições são secundárias. Se interagirmos como seres humanos, podemos chegar a esse nível. Caso eu diga "sou monge" ou "sou budista", as afirmações serão, em comparação com a minha natureza de ser humano, temporárias. Ser humano é básico. Uma vez nascido assim, não se poderá mudar até a morte. Outras condições, ser ou não instruído, rico ou pobre, são secundárias.

Hoje, enfrentamos muitos problemas. Alguns são criados essencialmente por nós mesmos, com base em diferenças de ideologia, religião, raça, situação econômica ou outros fatores. Chegou, portanto, o momento de pensarmos em níveis mais profundos. Em nível humano, condição essa que deveremos apreciar e respeitar em todos os que nos cercam. Devemos construir relacionamentos baseados na confiança mútua, na compreensão, no respeito e na solidariedade, independentemente de diferenças culturais, filosóficas ou religiosas.

Todos os seres humanos são iguais. Feitos de carne, ossos e sangue. Todos queremos a felicidade e evitar o sofrimento e temos direito a isso. Em outras palavras, é importante compreender a nossa igualdade. Pertencemos todos a uma família humana. O fato de brigarmos uns com os outros deve-se a razões secundárias, e todas essas discussões são inúteis. Infelizmente, durante muitos séculos, os seres humanos usaram todos os métodos para ferir uns aos outros. Muitas coisas terríveis aconteceram, resultando em mais problemas, mais sofrimento e desconfiança. E, consequentemente, em mais divisões.

O mundo hoje está cada vez menor em vários aspectos, particularmente o econômico. Os países estão mais próximos e interdependentes e, nesse quadro, torna-se necessário, pensar mais em nível humano do que em termos do que nos divide. Assim, falo a vocês apenas como um ser humano e espero, sinceramente, que vocês estejam escutando com o pensamento: "Sou um ser humano e estou ouvindo outro ser humano falar".

Todos queremos a felicidade; nas cidades, no campo, mesmo em lugares remotos, as pessoas trabalham com o objetivo de alcançá-la, entretanto, devemos ter em mente que viver a vida superficialmente não solucionará os problemas maiores.

Há muitas crises e medos à nossa volta. Por meio do grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia, atingimos um estado avançado de progresso material, que é necessário. Não podemos, no entanto, comparar o progresso externo com nosso progresso interior. As pessoas queixam-se do declínio da moralidade e do aumento da criminalidade, mas esses problemas não serão resolvidos, se não procurarmos desenvolver nosso interior.

No passado remoto, se houvesse uma guerra, os efeitos seriam geograficamente limitados, porém hoje, em função do progresso, o potencial de destruição ultrapassou o concebível. No ano passado estive em Hiroshima, no Japão. Mesmo tendo informações a respeito da explosão nuclear lá ocorrida, era muito diferente estar no local, ver com meus próprios olhos e encontrar pessoas que realmente sofreram com aqueles acontecimentos. Fiquei profundamente emocionado. Uma arma terrível tinha sido usada. Embora possamos considerar alguém como inimigo, temos de levar em conta que essa pessoa é um ser humano e que tem direito a ser feliz. Olhando para Hiroshima e refletindo a respeito, fiquei ainda mais convencido de que a raiva e o ódio não são meios para solucionar problemas.

A raiva não pode ser superada pela raiva. Quando uma pessoa tiver um comportamento agressivo com você e a sua reação for semelhante, o resultado será desastroso. Ao contrário, se você puder se controlar e tomar atitudes opostas "compaixão, tolerância e paciência", não só se manterá em paz, como a raiva do outro diminuirá gradativamente. Do mesmo modo, problemas mundiais não podem ser solucionados pela raiva ou pelo ódio. Sentimentos como esses devem ser enfrentados com amor, compaixão e pura bondade.

Pensem em todas as terríveis armas que existem, mas que, por si mesmas, não podem iniciar uma guerra. Por trás do gatilho há um dedo, movido pelo pensamento, não por sua própria força. A responsabilidade permanece em nossa mente, de onde se comandam as ações. Portanto, controlar em primeiro lugar a mente é muito importante. Não estou falando de meditação profunda, mas apenas de cultivar menos raiva e mais respeito aos direitos do outro. Ter uma compreensão mais clara da nossa igualdade como seres humanos.

Ninguém quer a raiva, ninguém quer a intranqüilidade, mas por causa da ignorância somos acometidos por sentimentos como esses. A raiva nos faz perder uma das melhores qualidades humanas, o poder de discernimento. Temos um cérebro bem desenvolvido, coisa que outros mamíferos não têm. Esse órgão nos permite julgar o que é certo e o que é errado. Não apenas em termos atuais, mas em projeções para daqui dez, vinte ou mesmo cem anos. Sem nenhum tipo de pré-cognição, podemos utilizar nosso bom senso para determinar o certo e o errado. Imaginar as causas e seus possíveis efeitos. Contudo, se nossa mente estiver ocupada pela raiva, perderemos o poder de discernimento e nos tornaremos mentalmente incompletos. Devemos salvaguardar essa capacidade e, para tanto, temos de criar uma companhia de seguros interna: autodisciplina, autoconsciência e uma clara compreensão das desvantagens da raiva e dos efeitos positivos da bondade. Se refletirmos a respeito dessas questões com freqüência, podemos incorporar a idéia e, então, controlar a mente.

Por exemplo: pode ser que você seja uma pessoa que se irrita facilmente com pequenas coisas. Com desenvolvida compreensão e conscientização, isso pode ser controlado. Se você fica geralmente zangado por dez minutos, tente reduzi-los para oito. Na semana seguinte, reduza para cinco e, no próximo mês, para dois. Depois, passe para zero. É assim que desenvolvemos e treinamos nossa mente. É o que penso e também o que pratico.

É perfeitamente claro que todos necessitam de paz interior, que só pode ser alcançada por meio da bondade, do amor e da compaixão. O resultado é uma família em paz, felicidade entre pais e filhos, menos brigas entre casais. Em uma nação, essa atitude pode criar unidade, harmonia e cooperação com saudável motivação. Em nível internacional, precisamos de confiança e respeito mútuos, discussões francas e amistosas, com motivações sinceras e um esforço conjunto no sentido de resolver problemas. Tudo isso é possível.

Precisamos, porém, mudar interiormente. Nossos líderes têm feito o melhor que podem para resolver nossos problemas, mas, quando um é resolvido, surge outro. Tenta-se solucionar este, surge mais um em outro lugar. Chegou o momento então de tentar uma abordagem diferente.

É certamente difícil realizar um movimento mundial pela paz de espírito, mas é a única alternativa. Caso houvesse outro método mais fácil e prático, seria melhor, porém não há. Se com armas pudéssemos chegar à paz duradoura, muito bem. Transformaríamos todas as fábricas em produtoras de armamentos. Gastaríamos todos os dólares necessários, se conseguíssemos a definitiva paz, mas tal é impossível.

As armas não permanecem empilhadas. Uma vez desenvolvidas, alguém irá usá-las. O resultado é a morte de criaturas inocentes. Portanto, a única maneira de atingirmos uma paz mundial duradoura é por meio da transformação interior. E, mesmo que essa transformação não ocorra durante esta vida, a tentativa terá sido válida. Outros seres humanos virão; a próxima geração e as seguintes. E o progresso pode continuar. Sinto que, apesar das dificuldades práticas, e, mesmo correndo o risco de que tal visão seja considerada pouco realista, vale a pena o esforço. Assim, aonde quer que eu vá, expresso essas idéias e sinto-me muito motivado porque mais pessoas têm sido receptivas a elas.

Cada um de nós é responsável por toda a humanidade. Chegou a hora de pensarmos nas outras pessoas como verdadeiros irmãos e irmãs e nos preocuparmos com seu bem-estar. Mesmo que você não possa se sacrificar inteiramente, não deverá esquecer-se das dificuldades dos outros. Temos de pensar mais sobre o futuro em benefício de toda a humanidade. Se você tentar dominar seus sentimentos egoístas e desenvolver mais bondade e compaixão, em última análise, você é quem irá sair beneficiado. É o que chamo de egoísmo sábio. Pessoas egoístas tolas só pensam em si mesmas, e o resultado é negativo. Egoístas sábios pensam nos outros, ajudam da melhor forma e também colhem os benefícios. Essa é minha simples religião. Não há necessidade de templos ou de filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso coração são nossos templos. A filosofia é a bondade.

Fonte: http://www.dharmanet.com.br/dala

O caminho de meio


S.S. o Dalai Lama

      Nagarjuna presta homenagem ao Buddha Shakyamuni, enaltecendo-o como o mestre que formulou a filosofia do vazio, segundo a qual todas as coisas e eventos carecem de existência intrínseca ou identidade intrínseca; e que, apesar de carecerem de identidade e existência, ainda funcionam com sua capacidade de produzir efeitos e assim por diante. Pode-se entender isso pela compreensão da natureza dependente ou interdependente da realidade. Nagarjuna homenageia o Buddha Shakyamuni, que propôs a doutrina do vazio da realidade intrínseca ao ensinar a natureza dependente dos fenômenos.
      De um modo geral, encontramos na literatura Madhyamaka várias formas de raciocínio que visam a estabelecer a ausência de existência intrínseca e identidade intrínseca dos fenômenos. Incluem a tentativa de analisar como as coisas surgem em termos nominais e conceituais; ao examinarmos essa natureza, chegamos à conclusão de que as coisas carecem de realidade intrínseca. Além disso, encontramos as formas de argumentação conhecidas como "exame de identidade e diferença dos fenômenos". Também encontramos outros tipos de argumentação ou raciocínios que examinam os fenômenos pela perspectiva causal, isto é, pela perspectiva de sua capacidade de produzir efeitos e assim por diante.
      Entre todas essas formas de raciocínio, no entanto, a mais poderosa é a do raciocínio da origem dependente, empregado por Nagarjuna. Quando uma coisa ou evento determinado é considerado, através de sua natureza de origem dependente, como desprovido de realidade, existência e identidade intrínseca, descobrimos que não estamos negando a existência dos fenômenos; estamos tentando compreender sua existência e identidade em termos de seus relacionamentos com outros fenômenos. Num certo sentido, pode-se dizer que a existência e a identidade afloram em relação a outros fenômenos.
      O que há de tão singular nessa forma de raciocínio baseado na natureza interdependente da realidade, é o fato de que possui a capacidade de chegar ao "caminho do meio". É uma posição livre do extremo do absolutismo, porque não está ligada a algum tipo de realidade intrínseca; contudo, ao mesmo tempo, também está livre do extremo do niilismo, porque não nega a existência e identidade dos fenômenos. Aceita-se uma existência formal, que é dependente, que é emergente e que é compreendida em termos de sua interação e inter-relacionamento.
      Assim, no Ingresso no Caminho do Meio (sânsc. Madhyamakavatara), encontramos Chandrakirti declarando que, depois que a compreensão da existência e da identidade dos fenômenos é desenvolvida, com base na noção da natureza interdependente da realidade, e como identidade e existência são derivadas desse inter-relacionamento, isso permite à pessoa entender o conceito buddhista fundamental da causalidade, em que nossa compreensão da natureza da realidade deriva do reconhecimento da mera condicionalidade. Dessa maneira, é possível refutar a idéia de fenômenos sem produção e sem causa, porque as coisas passam a existir através da interação com outros fatores, em decorrência de causas e condições. E através dessa percepção sobre a natureza interdependente da realidade, também é possível refutar a idéia da criação por alguma espécie de ser absoluto e independente, porque se compreende a causalidade em termos de mera condicionalidade. Da mesma forma, é possível refutar a idéia de que uma coisa pode passar a existir como dependente de causas idênticas a ela. É possível se livrar de todos esses extremos e aceitar a idéia da causalidade em seu verdadeiro sentido.
      Mas quando tentamos compreender o que significa mera condicionalidade, ou como coisas e eventos surgem em total dependência de outras causas e condições, há muitas áreas problemáticas que temos de lembrar.
      Vamos tomar como exemplo nossos próprios agregados, os skandhas. Se examinarmos o contínuo do agregado mais sutil, a consciência, e também o senso do "eu", ou do "ego", vamos verificar que a identidade pessoal baseia-se no contínuo do agregado sutil, o senso geral do "eu" que é desprovido de qualificações, seja como um ser humano, como uma pessoa de origem étnica específica etc. Em suma, não há qualificação. O mero senso do "eu" ou mera identidade, aquele "eu" ou senso do ego que deriva do contínuo do agregado sutil, não tem princípio em relação a esse contínuo. Portanto, não se pode dizer que o "ego" ou "eu" associado à nossa identidade como um ser humano é específico de uma única vida. Não podemos dizer que é um ser humano; não podemos dizer que é um animal. Mas podemos dizer que é um ser.
      Em termos do contínuo, podemos dizer que o eu junto com a base do senso do eu, que é o agregado sutil, deriva de seu momento anterior, que por sua vez deriva de um momento anterior e assim por diante, porque há um processo contínuo. Contudo, não podemos dizer que é um produto do karma, porque o karma, em termos de seu processo contínuo, não tem participação na continuação do processo. É simplesmente um fato natural que esse contínuo leva adiante.
      Mas se examinarmos num nível um pouco mais rude, por exemplo, no nível da existência humana, então temos o corpo humano e a identidade humana, que levam a pessoa a dizer: "Sou um ser humano". Esse senso do eu, assim como os agregados em que a identidade se baseia, pode ser considerado um produto do karma. Isso acontece porque ao falarmos de "corpo humano" e "existência humana" estamos nos referindo à conseqüência ou fruto do karma positivo, as ações virtuosas acumuladas no passado. Portanto, o karma desempenha um papel.
      Vamos verificar o caso de um corpo humano. Embora possamos dizer, de modo geral, que é um produto do bom karma, se quisermos traçar a origem material, a causa substancial que é a origem material, a causa substancial que é a origem material de nosso corpo, podemos fazê-lo através do princípio causal que é a instância anterior ou os fluidos regenerativos parentais, depois seguir mais e mais longe. Portanto, podemos traçar a origem material até um ponto — vamos tomar como exemplo este sistema universal específico — em que encontramos o espaço totalmente vazio. Segundo a cosmologia buddhista, antes da evolução de um sistema universal específico, todas as substâncias materiais eram inerentes ao que é conhecido como "partículas espaciais". Ou seja, em termos do processo do contínuo material, é um fato natural, uma lei natural, que o princípio causal impulsiona substâncias materiais para prosseguirem seu contínuo. Mais uma vez, não há papel para o karma aqui.
      A questão agora é a seguinte: em que ponto, em que estágio, o karma entra em cena? No estágio do espaço vazio, as partículas espaciais prosseguirão no contínuo material, que darão origem a várias estruturas compostas de partículas, levando a uma estrutura molecular, segundo a teoria científica. Com uma complexidade cada vez maior, chegará um ponto em que a composição das partículas materiais fará uma diferença para os indivíduos que habitam o mundo. Em outras palavras, o material se tornará diretamente relevante para a experiência de dor e de prazer das pessoas. É nesse estágio, em minha opinião, que o karma começa a desempenhar um papel. Quero que vocês pensem a respeito dessas áreas problemáticas.
      Por causa dessa complexidade, encontramos na literatura buddhista vários cursos de raciocínio e quatro princípios fundamentais, que acredita-se estarem arraigados no mundo natural. Os três primeiros são o princípio da lei natural, o princípio da dependência e o princípio das funções. Depois, com base nesses três princípios, pode-se aplicar a lógica. A menos que haja certas bases que possam ser usadas, não é possível adquirir o raciocínio ou a lógica.
      Pode-se dizer que a razão pelas quais podemos avaliar as leis da química é porque há determinados princípios, conhecidos como "o princípio da dependência" e o "princípio das funções". Quando determinadas substâncias materiais interagem, dão origem a propriedades emergentes. Isso nos permite avaliar as funções que podem ser realizadas coletivamente, através da interação. Assim podemos avaliar as leis da química.
      Cabe aqui a pergunta: "Por que há no mundo natural, como se fossem fatos determinados, o reino material e o reino mental — o reino espiritual ou o reino da consciência?". Não há uma resposta racional. É apenas um fato.
      À luz dessas considerações filosóficas, chegamos à conclusão de que as coisas e eventos, em última análise, carecem de existência intrínseca ou identidade intrínseca. Só possuem existência e identidade em relação a outros fatores, causas e condições. Portanto, a percepção que apreende coisas e eventos como tendo uma existência intrínseca, possuindo uma identidade e posição intrínseca, é o estado de ignorância. Na verdade, é um estado de conceito equivocado. Assim, ao gerarmos percepção sobre a natureza vazia dos fenômenos, poderemos ver diretamente através da ilusão desse conceito equivocado. Afinal, essa concepção se opõe diretamente ao estilo de absorção do conhecimento errado. Em conseqüência, esse estado mental distorcido pode ser removido ou eliminado. Por esse motivo, acredita-se que não apenas a ignorância, como também os estados ilusórios derivados, enraizados nesse estado fundamental de ignorância, podem ser removidos.
      Levando essa discussão adiante, Maitreya, em seu Sublime Contínuo (sânsc. Uttaratantra) dá três razões sobre a base em que se pode concluir que o estado búddhico impregna as mentes de todos os seres sencientes. Primeiro, ele diz que as atividades do Buddha irradiam-se no coração de todos os seres sencientes. Isso pode ser compreendido de maneiras diferentes. Primeiro, é a de que em cada ser senciente há uma semente de virtude e que se pode considerar a semente de virtude como um ato do Buddha completamente iluminado. E compadecido. Mas pode-se perceber também, em termos mais profundos, que todos os seres sencientes possuem o potencial para a perfeição. Portanto, há uma espécie de ser aperfeiçoado inerente em todos os seres sencientes, irradiando-se. Segundo, no que se relaciona com a suprema natureza da realidade, há uma total igualdade entre o estado samsárico e o nirvana. Terceiro, todos possuímos uma mente que carece de realidade intrínseca e existência independente, o que nos permite remover os aspectos negativos e os estados ilusórios que a obscurecem. Por esses motivos, Maitreya conclui que todos os seres sencientes possuem a essência do estado búddhico.
      Contudo, para ativar essa semente inerente em nosso coração ou mente devemos desenvolver a compaixão. Através do cultivo da compaixão universal a pessoa será capaz de ativar essa semente, o que a torna mais inclinada para o caminho Mahayana. Para isso, a prática da paciência e da tolerância é crucial.

(S.S. o Dalai Lama. A arte de lidar com a raiva: o poder da paciência.
Tradução de A. B. Pinheiro de Lemos da tradução de Geshe Thubten Jinpa.
Rio de Janeiro: Campus, 2001. Pág. 171-176)

Fonte: site www.dharmanet.com.br


Sonia Rinaldi Transcomunicação TCI

http://www.youtube.com/watch?v=LROIrZMUJW4
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http://www.youtube.com/watch?v=V2jaCsvo8Zw

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http://www.youtube.com/watch?v=z7ady1DrEyc
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Kundalini - Dimensão ontológica da sexualidade

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Kundalini, a cobra cósmica, é o símbolo da energia cósmica que se revela também no sexo. É o primeiro chakra, o da sexualidade genital. Freud deteve-se principalmente nessa dimensão. Por isso, toda a sua psicologia, por mais genial que seja, já que ele é um pai fundador desse campo de conhecimento, é bastante limitada, demasiado falocêntrica e muito patricêntrica.

Jung se contrapunha a Freud, argumentando que a primeira experiência da criança não é com o pai, mas com a mãe. Somos mais matricentrados do que patricentrados, porque ligados umbilicalmente à mãe desde o momento da concepção; o pai entra numa fase posterior. Freud abominava a mãe, transava pessimamente a sexualidade e deixou de ter relação sexual com quarenta e poucos anos. Jung não tinha esse problema, por isso elaborou outro tipo de psicologia. No meu modo de ver, ele apresenta um espectro mais amplo. No entanto, como a nossa cultura é genitalmente centrada e há mesmo um desvio quase coletivo nesse aspecto, Freud é objetivo e bom para corrigir e curar. Mas se vou para um oriental, um africano ou um indígena que não tem esses problemas e levo Freud, estrago-lhes a mente.

Não há contradição entre a kundalini como energia cósmica e a teoria de Freud sobre sexo. Só que ele se restringiu a uma fase da kundalini, a fase genital. Os místicos do ioga, que trabalham muito os chakras, dizem: uma verdadeira experiência de amor tem a sua dimensão genital, mas, se ela se restringir a essa dimensão, é extremamente encurtada. Ela deve passar por todos os sete chakras, até chegar ao sentimento interior, a experiência da infinitude, da iluminação, que capta a dimensão cósmica do amor. Quem faz a ativação desses sete chakras tem uma experiência da totalidade da libido humana.

Nossa cultura não faz uma experiência da sexualidade como dimensão ontológica que atravessa todo nosso ser. Faz uma experiência genital, de alívio de uma tensão, nada mais. Não faz da sexualidade uma experiência mística da totalidade do ser humano enquanto homem, enquanto mulher, que têm a dimensão da subjetividade, do pensamento, da intimidade, da transcendência e da experiência mística. Todos os místicos celebram o encontro com Deus como imenso banquete ou como acasalamento de amor. Desde o Cântico dos cânticos a são João da Cruz e santa Teresa. São Boaventura fala até de orgasmo. Porque eles de fato experimentaram isso ao tocarem Deus. A experiência de amor, que se realiza nas pessoas, dá a chance a todo mundo. A natureza não nega a ninguém fazer uma experiência de transcendência, de encontro com Deus, a experiência da intimidade, do amor como experiência cósmica e mística. Todo mundo faz esse percurso e também os celibatários. Jung dizia que se eles não geram pessoas, têm um parto cósmico, se autogeram. Por isso o voto de castidade, se bem entendido, não é um voto de desamor. É de superabundância de amor. Portanto, é um desafio viver de uma outra maneira a sexualidade, nessa dimensão que vai para além da genitalidade.


Leonardo Boff

http://www.humaniversidade.com.br/leonardo_boff.htm

http://www.humaniversidade.com.br/boletins/limites_da_tolerancia.htm

http://www.humaniversidade.com.br/boletins/etica_leonardo_boff.htm

http://www.humaniversidade.com.br/boletins/aprender_do_sofrimento.htm

http://www.humaniversidade.com.br/leonardo_boff.htm

As Carícias e o Iluminado

http://www.humaniversidade.com.br/boletins/caricias_iluminado_gaiarsa.htm
Chega de viver entre o medo e a Raiva! Se não aprendermos a viver de outro modo, poderemos acabar com a nossa espécie.

É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque "não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar amor é... um mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar... Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócio é de coisas e de dinheiro- e pronto! O pesquisador B. Skinner mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos recompensados; aqueles baseado na dor precisam ser reforçados sempre senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de começarmos um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.

Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar - com o outro. Tudo tem que ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...

Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que as estrelas num céu invernal.

"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando ESTRELA, como se vê em sideral, relativo às estrelas.

Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a direção...

"Gente é para brilhar", diz mestre Caetano.

Gente é, demonstravelmente, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido. Diz o Psicanalista que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência.

A mim parece que sofremos de mania de pequenez.

Qual o homem que se assume em toda a sua grandeza natural? "Quem sou eu primo..."Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que a nossa estrela determina.

O Medo - eis o inimigo.

O medo, principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemos - sempre pronto a criticar, a condenar, a pôr restrições - porque fazemos diferente dele.

Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar se livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem correntes de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!

Por que vivemos fazendo isso uns com os outros - vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado - pequenos, pequenos. Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões. Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?

Nós nos obrigamos a ser - todos - pequenos, insignificantes, inaparentes, "normais"- normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda. Oligotímicos - sentimentos pequenos - é o ideal...

Quem é o iluminado?
No seu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportável para todos os próximos, que são indignos.

Ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade"(convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.

Assim ele vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe.

Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor, porque sorri e é feliz.

Como pode, esse louco?
Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria, ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...

Ah! Os outros...
(Fossem todos como eu, tão bem-comportados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende é como há tanta maldade num mundo feito somente de gente que se considera tão boa. Deveras, não se compreende.

Menos ainda se compreende que de tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabe acontecendo um mundo tão infernalmente péssimo.

Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus - como seria bom...

Proponho um tema para meditação profunda; é a lição mais fundamental de toda a Psicologia Dinâmica:

Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem se fomos bem tratados.
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se só fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos ou ele acaba.
Amar o próximo não é mais idealismo "místico"de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar ou liquidaremos com a nossa espécie.
Ou aprendemos a nos tratar bem - a nos acariciar - ou nos destruiremos.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias ... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!

Carícias... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações, admiração, felicidade, alegria em nós - eu e os outros.

Energia poderosa na ação comum, na co-operação. Na co-munhão.

Só a União faz a força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse FAZER o que essas verdades nos sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.

Nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - o nos danamos - todos juntos.



Autor: José Ângelo Gaiarsa

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e-book esotérico - diversos

http://livro-esoterico.amplarede.com.br
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Do Sexo à Divindade

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TRECHO: As Religiões e seus Mistérios, de Dr. Jorge Adoum

INTRODUÇÃO
1 – A palavra “homem” não significa o ser organizado que se encontra na terra.
Homem é todo ser formado de uma parte do Espírito e de uma parte da Matéria de que
está composta a esfera que ele habita e que é capaz de manifestar por atos morais a
parte do Espírito que está nele.
2 – A finalidade do Universo é o progresso. Logo, a finalidade de cada homem,
que é parte do Universo, não pode ser outra senão uma parte do progresso.
3 – Os planetas e as esferas não são, em si mesmos, suscetíveis ao progresso.
Somente é suscetível ao progresso o ser moral formado de uma parte do Espírito e de
outra parte da Matéria de que está formada aquela esfera.
4 – O ser moral metade Espírito e metade Matéria é o Homem.
5 – O Espírito e a Matéria contêm em si mesmos, desde o começo, o germe dos
feitos materiais e morais que foram, são e serão no futuro.
6 – A manifestação ou transformação tira a conseqüência necessária de um
princípio existente em estado latente no fato anterior. Desde a ação do Espírito sobre a
Matéria, nada foi produzido que não fosse em estado latente no princípio.
7 – O homem é a miniatura do Universo, por isso lhe chamam Microcosmos,
porque contêm todas as qualidades que foram dadas a todos os seres nascidos antes
dele.
8 – Tudo quanto foi feito antes do aparecimento do homem foi feito para o homem.
Logo, possuindo a quinta-essência de todas as qualidades dadas a todos os seres
anteriores a ele, o homem será o rei da criação – ou um Universo em miniatura. No
entanto, se o homem não é a última palavra da perfeição no caminho do progresso, é sem
dúvida o mais perfeito no estado atual.
9 – Todos os seres anteriores ao homem lhe serviram de duas maneiras: uns
foram organizados cada vez melhor para lhe darem caída e outros para lhe serem úteis e
servi-lo em suas necessidades.
10 – O homem recorreu aos animais, aos vegetais, aos minerais, aos gases etc.
para ter vida por meio dos alimentos, da roupa, da respiração, do abrigo etc. A terra o
carrega, a água lhe mata a sede, o ar move a sua respiração, o calor o abriga e o Sol lhe
conserva a vida, porque o Sol é a alma da Terra e de todos os planetas. Portanto, o
homem não poderia viver se não tivesse em si tudo isso. Logo, o homem é um resumo de
tudo quanto está no Universo até a sua aparição nele.
11 – Por conseguinte, o homem é o mais poderoso agente do progresso e o único
ser capaz da perfeição moral; porque o progresso moral coroa o progresso material, como
o homem coroa a escala genealógica dos seres organizados.
12 – O Espírito, ao agir sobre a Matéria, é incorporado nela. Antes da organização
do homem, o Espírito existia na Matéria em estado latente. Isso quer dizer que não tinha
poder para a manifestação moral ou livre.
13 – Durante a época cosmogênica, a Matéria impedia a manifestação livre do
Espírito. Isso está representado pela estrela microcósmica invertida, com a ponta para
baixo. Quando chegou a estabelecer-se o equilíbrio entre o Espírito e a Matéria – devido à
transformação contínua – então se manifestou a conseqüência de um progresso material
e vice-versa, isto é, todo progresso material exige progresso moral.
14 – A organização universal é completa: onde existe necessidade encontra-se o
que a ela possa satisfazer. Perto da dor está o remédio; próximo da fome, o alimento;
perto da ferida, o bálsamo. Esta ordem que combina e supre se chama com razão
Providência.
15 – A Providência é a harmonia entre o Espírito e a Matéria.
16 – A Providência interna não nos deixa caminhar às cegas na senda do
progresso, nem tem o poder de nos deter a marcha rumo à perfeição.
17 – A perfeição é indefinida porque o resultado do progresso é infinito e, como tal,
nunca pode ser alcançada. Certamente existe uma perfeição parcial, à qual se pode
aspirar: é a perfeição relativa que consiste em satisfazer a todas as necessidades de uma
época com todos os elementos postos à sua disposição e alcançar o ideal de bem-estar
mais possivelmente desejado.
18 – Para a alma humana, tudo quanto seja razoável é realizável; porque a razão
não pode desejar mais do que seja possível. Nada é impossível se os meios de execução
se encontram preparados para a obra.
19 – A alma concebe o progresso, e o corpo, que é o auxiliar da alma, tem de
caminhar rumo a ele. Logo, para manifestar o progresso desejado pelo espírito, o corpo
tem de empregar todos os meios de que dispõe e fazer trabalhar cada órgão ou a matéria
no sentido do seu destino e da sua orientação. É por esse motivo que chamam
corporações às sociedades, porque cada elemento tem de trabalhar numa coisa segundo
a sua aplicação e o seu lugar.
20 – O homem é o único ser, metade Espírito, metade Matéria, que pode e deve
descobrir e fazer conquistas no terreno da ciência, da arte; porém, descobrir não é criar.
21 – A diferença entre o homem e o animal é como a diferença entre o progresso e
a conservação, ou entre a consciência e o instinto.
22 – O meio de conservação que foi dado ao animal e ao vegetal é o instinto, sem
o qual seria inútil o dom da existência, porque nem o animal nem o vegetal teriam tido
qualquer meio de conservação.
23 – O instinto é o meio de conservação de todo ser animado – forçosamente tem
de ser fatal, irreflexivo e instintivo. Assim, a abelha constrói o seu reino sem consciência:
ela age sob a pressão da necessidade da sua natureza, à qual deve obedecer; seus
hábitos são, desde os tempos mais remotos, uniformes, segundo a necessidade que lhe
foi imposta.
24 – Do instinto irreflexivo não poderá haver progresso. Se o instinto pudesse
refletir, então poderia comparar; se pudesse comparar, poderia melhorar, se pudesse
melhorar, poderia progredir; e, se pudesse progredir, deixaria de conservar, porque não
seria instinto e se converteria em Espírito.
25 – Se o instinto (hoje chamado subconsciente) chegar a desaparecer da
Natureza, esta deixará de existir, porque, logo depois de cumprido um progresso, não
haveria outra força de resistência capaz de conservar o primeiro progresso para fazer
dele a base de um segundo. Tudo cairá novamente no Caos. O instinto é uma força de
inércia que modera o salto muito impetuoso do progresso. Por isso se diz: ‘A Natureza
não dá saltos’.
26 – Se o instinto não existisse como condição de conservação, não existiria a
consciência como condição de progresso; da mesma forma, não teria razão de existir o
corpo humano que vive materialmente pelo instinto e não poderia conservar a sua vida
animal, que é indispensável à vida moral da alma. E assim a matéria se desagrega; todas
as esferas voltam a ser átomos; as almas voltam ao estado de puro Espírito e a lei do
progresso se detém. O Espírito teria de recomeçar o trabalho da organização universal,
agindo novamente sobre a Matéria.
27 – Esta é a lei da transformação, a lei da Evolução ou desintegração: Quando
um corpo ou uma esfera deixa de ser útil à lei do progresso, desintegra-se, porque se
deteve no caminho do progresso. Pois bem, se a natureza não dá saltos, tampouco volta
atrás, nem se detém no seu adiantamento.
28 – O instinto é o correlativo da consciência. O instinto é o passivo da consciência
como a Matéria é o passivo do Espírito. Sem instinto não há consciência, como não
haverá Espírito, nem Vida, sem Matéria.
29 – O instinto, então, é para a vida material aquilo que a consciência é para a
vida moral. O instinto é feito para a consciência como a vida material é feita para a vida
moral.
30 – O Espírito é o princípio do progresso, a Matéria é o princípio da conservação.
31 – A consciência é a condição do progresso, supõe liberdade. O instinto é a
condição da conservação, supõe conservação; e supõe a fatalidade ou naturalidade.
32 – A liberdade atrai responsabilidade, enquanto a fatalidade não tem nenhuma
responsabilidade. Logo, todo ser que segue fatalmente o seu instinto cumpre a lei natural
e não pode ser responsável, ao passo que aquele que abusa da sua liberdade é
responsável por seus atos.
33 – O instinto do animal e o corpo do animal perecem com o animal; ambos se
transformam e entram em outros corpos.
34 – Somente o homem é perfectível, porque é livre e não necessita de nenhum
agente exterior para a sua perfeição.
35 – A matéria inerte sem iniciativa é imperfectível. O animal é imperfectível,
porque carece de liberdade e de vontade. Somente o homem pode aperfeiçoar-se.
36 – Se o homem é perfectível, é também suscetível ao progresso, porque o
progresso é o caminho que conduz à perfectibilidade indefinida.
37 – A inteligência, que alguns homens atribuem a certos animais superiores, nada
mais é do que o instinto que cada um deles possui em grau diferente. É o instinto
desenvolvido segundo a ordem de superioridade do ser organizado no qual reside. Não é
surpreendente que os animais que mais se acercam do homem para servi-lo tenham certo
entendimento que os capacite a ser mais inteligentes para executarem a sua missão
providencial.
38 – O homem, com seus corpos ou veículos, tem por objeto ajudar no progresso
indefinido do Universo. A ‘alma’ deve levar e guiar o homem no caminho da perfeição,
sem deixá-lo desviar-se.
39 – Todo desvio no caminho do progresso é abuso de liberdade. Logo, cada
alma, a parte do Espírito, tem por objeto aperfeiçoar cada corpo, a parte da Matéria.
Então a alma, no Universo, tem determinada porção de Matéria para aperfeiçoar,
transformando-a do estado grosseiro e denso ao estado mais sutil, isto é, até o estado
mais perfeito, que é o da Matéria calórica que se encontra imediatamente debaixo e perto
do Espírito infinito.
40 – Os corpos se modificam conforme a manifestação da alma. A manifestação
da alma é o resultado da sua ação sobre o corpo, que afinal de contas é o fato do
progresso para o melhoramento material.
41 – Se os órgãos do corpo destinado a manifestar as faculdades da alma não
funcionam, terão de desintegrar-se por serem inúteis à alma.
42 – O bem é o resultado da harmonia que existe entre os elementos humanos ou
entre a alma e o corpo. O mal se evidencia quando os atos conduzem à desarmonia.
43 – O corpo não torna má a alma; somente ele pode impedir a sua manifestação
num ou noutro ponto. Onde a alma não se manifesta, o corpo adquire a ação egoísta e
todos os desejos desenfreados da sua natureza.
44 – Quando o corpo impede a manifestação da alma em todos os seus pontos, o
homem se torna semelhante ao bruto, à besta, e não terá senão instintos animais, aos
quais obedece.
45 – As religiões e a educação têm por objeto remediar, tanto quanto possível, as
inclinações perversas. A instrução pode diminuir os desejos desenfreados, substituindo-os
por anelos elevados, segundo se verificou, historicamente, com cérebros de grandes
homens, que foram mudando de conformação à medida que idéias novas lhes ocupavam
a mente.
46 – A vida material é anterior à vida moral, e até se pode dizer que a vida moral
nada mais é do que o resultado do desenvolvimento da vida material do homem.
47 – Quando o homem era semelhante ao animal, não era moral, porque não
podia comparar os fatos entre si nem distinguir o bem do mal.
48 – As faculdades de apropriar-se, de comparar, julgar e escolher, isto é, a
inteligência, a memória, o juízo e a consciência não se foram despertando senão
lentamente. Uma faculdade foi a base de outra; mas uma faculdade não nasce de outra
senão depois de haver mediado longo intervalo. Este é o fruto proibido que o homem
consumiu voluntariamente quando desenvolveu em si as quatro faculdades e comeu
abusando de seus frutos.
49 – Defender-se para sobreviver não é um ato de razão; é um ato fatal, isto é,
natural e instintivo, como o de comer e o de dormir.
50 – A vida em sociedade, o amor conjugal, a educação dos filhos, o trabalho para
preencher as necessidades, aproveitar os frutos do trabalho, tudo isso é instinto. Pertence
à vida material. Tudo isso é fatal, instintivo e se efetua debaixo da pressão das
necessidades, porque é comum entre todos os homens e animais. Tudo isso é feito tendo
em vista a conservação da vida. Logo, tudo quanto é do instinto é da vida material, é fatal,
é instintivo, natural, que concerne ao corpo físico. E tudo quanto concerne ao corpo físico
tem por objetivo a conservação.
51 – Logo, o homem, no princípio, desenvolveu o instinto; depois começou a
desenvolver a consciência, porque, sendo o instinto o agente da conservação e a
consciência do progresso, a conservação deve preceder ao progresso.
52 – A conservação é a condição do progresso, o instinto é a condição da
consciência, como o corpo é a condição da alma; logo, a condição material deve ser
cumprida primeiramente para que se manifeste o resultado moral.
53 – Logo, as faculdades da alma se desenvolvem em razão proporcional aos
desenvolvimentos do instinto, isto é, dos órgãos e dos sentidos que nos servem para nos
apoderarmos dos objetos materiais que nos rodeiam.
54 – O homem primitivo era solitário e débil ante os perigos e por esse motivo teve
de associar-se aos seus semelhantes e viver em sociedade.
55 – Em sociedade, precisou então de meios para se comunicar, e foram
necessários a voz e os sinais que engendraram o linguajar. Logo, a linguagem é a
primeira manifestação da vida moral, isto é, da vida social.
56 – A vida moral ou social se compõe de deveres. Antes de viver em sociedade o
homem não tinha deveres, isto é, a necessidade foi o seu único móvel e o instinto o seu
único guia para satisfazê-lo.
57 – O fato de viver em sociedade, no princípio, era um ato de conservação
revelado pelo instinto, como fazem certos animais que se reúnem em manadas no
interesse da sua comum conservação. Desse modo, o homem foi lançado à vida moral,
contra a sua vontade, em vista do simples efeito da satisfação da necessidade material
mais imperiosa: a necessidade de viver.
58 – Se o homem tem faculdades morais paralelas às suas funções materiais,
deve-se concluir que as faculdades morais foram dadas para serem exercidas. O homem
não pode possuir nada que não tenha o seu objetivo. Logo, faculdades morais e
faculdades materiais são para obter resultados determinados.
59 – Mas, para que as faculdades morais tenham livre funcionamento junto às
faculdades materiais, foi necessário ditar leis sociais e implantar religiões para defender
os direitos do homem e ajudá-lo a cumprir os seus deveres para consigo mesmo e para
com os seus semelhantes.
60 – Esse foi a princípio da religião e o começo da legislação.
61 – A religião trata de melhorar a moral ou o social: Espírito, alma. A legislação é
para melhorar o material: Matéria, corpo.
62 – No quadro seguinte podem resumir-se os principais caracteres enumerados
anteriormente.
Princípios
Vida moral Espírito – Alma
Vida material Matéria – Corpo
63 – Meios
Vida moral Consciência – Liberdade – Eleição
Vida material Instinto – Fatalidade – Obediência
64 – Objetivos.
Vida moral Progresso – Melhoramento
Vida material Conservação – Estabilidade
65 - Caracteres
Vida moral Praticada pelo homem sozinho.
Vida material Praticada por todos os que têm vida.
Vida moral Não pode existir sem a vida material.
Vida material Pode existir sem a vida moral.
Vida moral Nascida no homem depois da vida material.
Vida material Nascida no homem antes da vida moral.
Vida moral Compõe-se de todas as faculdades que não funcionam
ao lado dos órgãos especiais, materiais e sensíveis que
trabalham na economia do corpo humano.
Vida material Compõe-se de todas as funções que exercem a ação de
algum
órgão, material e sensível na economia do corpo humano
Vida moral Tem o dever por agente.
Vida material Tem o direito por agente.
Vida moral Vida em sociedade que regula as relações.
Vida material Vida de indivíduos separados, sem relações sociais.
Vida moral Útil, confortável e abundante.
Vida material Indispensável, reduzida e necessitada.
Vida moral Com diversas sociedades, segundo os indivíduos.
Vida material Uniforme em todas as sociedades e todos os indivíduos.
Vida moral Responsável se abusa da sua liberdade contra o direito
alheio. Sanção.
Vida material Sem liberdade, sem responsabilidade. Se desobedece ao
direito tem sanção natural.
Vida moral Idéia moral; o verdadeiro Progresso, ideal, material, o belo,
perfeição.
Vida material Trabalho mecânico. Copiar, nada de aperfeiçoamento.
66 – Logo, a religião e as leis sociais são frutos da vida moral ou da vida social.
67 – Quando o homem cumpriu os atos de sobrevivência, quando assegurou sua
existência, começou a sonhar em desenvolver-se, em melhorar e progredir. Depois de ter
o indispensável, começou a procurar o útil.
68 – Logo, há duas classes de necessidade: a indispensável e a útil. Todos os
homens estão de acordo no que toca ao instinto, ao indispensável; mas estão demasiado
divididos no que toca à vida moral ou útil e por isso vemos que o Espírito de todas as
religiões é indispensável e uno, ao passo que as religiões, ao se converterem em úteis,
dividem-se.
69 – A necessidade é fatal ou instintiva; é por isso que todos os homens
obedecem fatalmente à necessidade que se faz sentir, e por isso também são idênticos
em fazerem direito para as suas prescrições.
70 – Na liberdade existe a diversidade. O indispensável é absoluto como a
necessidade material. O útil é relativo como a necessidade moral. A fatalidade impõe o
indispensável; a liberdade permite escolher o útil. O útil é como a religião ou a lei, não é
igual para todos; ao passo que a necessidade é comum. O útil é escolhido livremente e
por isso varia de indivíduo para indivíduo, segundo o caráter daqueles que o escolheram.
Logo, a religião deriva da vida moral do Espírito e por meio do Espírito exerce a
sua liberdade. O princípio da vida material é a necessidade ou fatalidade. Por
conseguinte, vida moral e vida material são correlativas e paralelas entre si, como são o
Espírito e o corpo, a liberdade e a fatalidade.

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“O homem se faz Deus por meio do sexo”. Como?
Reina o silêncio!
“O que sabe não fala e o que fala nada sabe”, diz Lao Tse.