A dor é um grande mistério, tal como o amor. Sem amor não se vive. Sem dor não se ama. Todos procuramos o coração que nos compreenda e a alma que nos console. Todos ansiamos por fazer a viagem acompanhados. Mas há destinos sem amor. Ninguém, todavia, quer sofrer. Ninguém anda à procura do tormento e da angústia. E, no entanto, não há destino sem dor. E este duplo mistério tem um só ritmo, porque é amando mais que se aprende a sofrer melhor, e é sofrendo mais que se aprende a amar melhor.
Assim, amor e dor são um fluxo e refluxo do mundo. O amor convida-nos com um sorriso, e, através dos prados floridos do prazer e da esperança, leva-nos a compreender a dor. A dor chama-nos com vozes diferentes, e, pelos caminhos da paciência e da renúncia, conduz-nos a um amor mais vasto.
O amor é a saudade do céu. A dor, a libertação da terra. Por isso, há em toda dor um pouco de céu, e, em todo amor, algo de terra. E são iniciações do destino, superações do próprio eu, expansões da consciência, incursões no infinito.
E, eternos, como eterno é o mundo, gerados no mesmo instante com igual palpitação de luz, acompanham-nos pela existência além e fundem-se ainda diante da morte. O amor reencontra-se na dor. A dor transforma-se em amor. Ambas se iluminam de esperança. Ambas se transfiguram na fé.
Nino Salvaneschi