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3 de out. de 2011

Repressão e expressão


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Você já viu alguma vez uma criança pequena cair e depois olhar a seu ao redor para ver se há razão para sentir-se culpada? Quando as crianças acham que ninguém lhes olha, em um instante se soltam, sacodem o pó e agem como se nada tivesse ocorrido. O mesmo menino, em uma situação similar, ao ver a oportunidade de atrair a atenção, pode romper a chorar e correr aos braços de seu pai. Já viu alguma vez a um menino enfurecer com um colega ou com seus pais, e inclusive dizer algo como «te odeio e não falarei contigo nunca mais», e depois, ao cabo de poucos minutos, o menino senta e se comporta como se não tivesse passado nada?

A maioria de nós perdeu esta capacidade natural de libertar nossas emoções porque, ainda que de meninos o fazíamos de forma automática e sem controle consciente e nossos pais, mestres, amigos e a sociedade em seu conjunto nos ensinaram a nos reprimir à medida que íamos crescendo. A cada vez que se nos dizia «não», que nos comportássemos que nos sentássemos em silêncio, que deixássemos de nos envergonhar, que «os garotos não choram» ou que «as garotas não se entediam», e que crescêssemos e fôssemos responsáveis, aprendíamos a reprimir nossas emoções. Ademais, consideravam que éramos adultos quando chegávamos no ponto de saber reprimir nossa euforia natural para a vida e todos os sentimentos que os demais nos fizeram achar que eram inaceitáveis. Fizemo-nos mais responsáveis ante as expectativas dos demais, e não ante as necessidades de nosso próprio bem-estar emocional.

Há uma piada que ilustra este ponto: nos dois primeiros anos de vida do menino, todos os que lhe rodeiam tentam que ande e fale, e nos dezoito anos seguintes, todos querem que se sente e se cale.

Por verdadeiro, nada há de mau em disciplinar uma criança. Este deve saber onde estão os limites para poder funcionar na vida, e às vezes há que proteger dos perigos manifestos. Ocorre simplesmente que os adultos, sem o querer, podem passar dos limites. O que aqui entendemos por «repressão» é manter tampadas nossas emoções, as empurrando para baixo, as negando, as reprimindo, e simulando que não existem.

Qualquer emoção que chegue à consciência e não se solta, imediatamente se armazena em uma parte da mente chamada o subconsciente.

Em grande parte reprimimos nossas emoções escapando delas. Apartamos delas a atenção o suficiente para poder conseguir que

retrocedam. Seguramente terás ouvido que «o tempo tudo cura». É algo discutível. Para a maioria de nós, o que realmente significa é: «Dá-me tempo suficiente e poderei reprimir qualquer coisa».

Asseguro-te que há vezes em que a repressão pode ser uma opção melhor que a expressão – por exemplo, quando estás a trabalhar e teu chefe ou colega de trabalho dizem algo com o que não estás de acordo, mas não é o momento adequado para falar do assunto. O prejudicial e improdutivo é a repressão habitual.

Escapamos de nossas emoções ao ver a televisão, quando vamos ao cinema, conduzimos, quando consumimos remédios receitados ou não, quando fazemos esporte e quando nos entregamos a toda uma série de atividades pensadas para que nos ajudem a afastar a atenção de nossa dor emocional durante o tempo suficiente para poder se situar de novo em segundo plano. Estou certo de que estarás de acordo que a maior parte das atividades desta lista não são inadequadas em si mesmas. Ocorre simplesmente que tendemos a procurar essas atividades ou a tomar essas substâncias em excesso, até perder o controle. Utilizamo-las para compensar nossa incapacidade de abordar nossos conflitos emocionais internos. A fuga excessiva está tão imposta em nossa cultura que tem dado origem a muitas indústrias florescentes.
No momento em que somos rotulados como adultos, sabemos nos reprimir tão bem que o fato de nos reprimir se converte em uma segunda natureza a maior parte do tempo. Chegamos a saber fazê-lo tão bem ou melhor que antes, quando em um princípio sabíamos nos soltar. De fato, temos reprimido tanta de nossa energia emocional que todos somos como pequenas bombas relógio. Muitas vezes, nem sequer sabemos que reprimimos nossas autênticas reações emocionais até que já é demasiado tarde: nosso corpo dá sinais de doenças relacionadas com o estress,encolhemo-nos, faz-se-nos um nó no estômago, ou explodimos e dizemos ou fazemos algo que depois lamentamos.

A repressão é um dos lados da oscilação desse pêndulo que é o que normalmente fazemos com nossas emoções. O outro lado é a expressão. Se estamos enfadados, gritamos; se estamos tristes, choramos. Pomos nossa emoção em ação. Soltamos um pouco do vapor dessa panela de pressão emocional interior, mas não apagamos o fogo. Muitas vezes, alguém se sente melhor com a repressão, sobretudo se temos bloqueado nossa capacidade de expressão. Costumamos sentirmo-nos melhor depois. No entanto, também a expressão tem seus inconvenientes.
A boa terapia normalmente baseia-se em nos ajudar a estabelecer contato com nossas emoções e expressá-las. E não há dúvida de que relações sãs e duradouras não poderiam sobreviver se não expressássemos com clareza o que sentimos. Mas o que ocorre quando nos expressamos de forma inadequada em situações alheias à terapia?

Que passa com os sentimentos da pessoa a quem acabamos de nos expressar? A expressão inapropriada com freqüência pode levar a um maior desacordo e conflito e a uma mútua intensificação das emoçõescujo controle podemos perder.

Nem a repressão nem a expressão representam problema em si mesmas.

Simplesmente são dois extremos diferentes do mesmo aspecto que delimita nossa forma habitual de abordar as emoções. O problema surge quando vemos que não controlamos se reprimimos ou expressamos, e muitas vezes nos encontramos fazendo o contrário do que pretendíamos. É muito freqüente ficarmos emperrados em um extremo do espectro ou no outro. É nesses momentos que precisamos encontrar a liberdade para soltar.

Trecho de O Método Sedona. Prólogo de Jack Canfield.