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8 de fev. de 2012

Enxaqueca e excesso de serotonina.

Enxaqueca e serotonina

Ao contrário do que acredita a maioria dos médicos brasileiros, a enxaqueca não é consequência da falta da serotonina, mas sim, exatamente o contrário: EXCESSO de serotonina.

A pesquisa científica é muito dinâmica, e a cada dia trás novas informações que esclarecem melhor o mecanismo da enxaqueca e outras doenças. Conceitos definitivos de ontem, podem ser conceitos ultrapassados de hoje.

Chamar a serotonina de um analgésico interno é simplista demais. A serotonina é o neurotransmissor a cargo do controle dos impulsos. Ela diminui a capacidade dos neurônios de estabelecer conexões entre si. Isso resulta num verdadeiro bloqueio dos estímulos sensoriais como um todo, gerando, por exemplo, sintomas de falta de memória. A dor é apenas mais um estímulo sensorial.

Ao contrário do que se falava há algum tempo atrás, a serotonina está longe de ser uma "substância do prazer". Uma pessoa com a serotonina alta fica confusa, indiferente, tensa, apreensiva, desconfiada, tímida e cronicamente cansada. Ela também fica sem dor, a serotonina, como disse há pouco é um inibidor dos estímulos sensoriais, por isso até pode, quando elevada, inibir a dor, daí a confusão com "substância do prazer" e daí também a eficácia, ainda que parcial e com efeitos colaterais, de medicamentos que imitam a serotonina no tratamento da enxaqueca.

Existem diversos fatores no nosso dia-a-dia contemporâneo que elevam os níveis de serotonina. Um exemplo é a ingesã£o excessiva de carboidratos refinados. Esclarecendo: carboidratos refinados são o resultado do refino do trigo e do açúcar. Neste processo extrai-se, do trigo integral e da cana, apenas a farinha branca e a sacarose. Esses ingredientes não existem livremente na natureza, são frutos de um processo industrial. Esse processo data de poucos séculos e sua grande disponibilidade no mercado de consumo é ainda mais recente.

Anterior a isso, durante todo o processo evolutivo, de milhares de milênios, os carboidratos - nossa fonte de energia - não eram nada fáceis de se obter. A humanidade evoluiu esse gosto pelo carboidrato pela pura e simples necessidade que o organismo tem deste nutriente. O advento do seu refino e da disponibilidade universal representam um fenômeno jamais visto anteriormente. Nosso organismo simplesmente não está "calibrado" para esta ingestão exagerada e concentrada de carboidratos.

Aí começam os problemas!

Os alimentos à base de carboidratos refinados, como pães, massas, doces, bolachas, biscoitos, bolos, e farináceos em geral, quando ingeridos transformam-se muito rapidamente em açúcar (glicose) no sangue. Isso gera picos de insulina jamais vistos na evolução. A insulina, hoje se sabe, não é apenas um simples hormônio com a única função de armazenar o açúcar do sangue dentro das células. A ciência já desvendou que a insulina também atua no cérebro, como um neuropeptídeo, gerando entre outras coisas, um aumento no hormônio estrógeno e... adivinhe... na serotonina!!

Outros fatores do dia-a-dia, além da alimentação, estão comentados no livro e também causam o aumento da serotonina.

Conclusão: Nós vivemos num verdadeiro "mar de serotonina"! Como pode então, a enxaqueca ser falta de serotonina?

Por outro lado, se a serotonina inibe os estímulos sensoriais, entre os quais a dor, como pode alguém com excesso de serotonina sofrer com dores de cabeça? Como podem remédios que imitam a serotonina aliviar essas dores?

O problema é que, se a serotonina permanecer excessiva além de certo tempo, a própria mãe natureza se encarrega do assunto por meio de um processo denominado homeostase.

Todos os sistemas da natureza, incluindo o evolutivo, fazem parte de um algorítmo interativo de alças de feedback (ou seja, para qualquer ação, existe uma reação que, por sua vez, modifica a ação). Essas alças pressupõem a existência do feedback negativo, que nada mais é que um mecanismo de freio, que serve para manter o equilíbrio nas reações.

No caso da serotonina, se ela permanecer alta por muito tempo, o seu receptor torna-se resistente à sua ação. Em tempo: receptores são "portas de entrada" das substâncias nas células. Receptores resistentes são como portas fechadas, que não se abrem para a substância, apesar da sua presença. Esse fenômeno de resistência é um mecanismo de defesa, porém com muitos receptores resistentes não importa quanta serotonina você tem, o organismo simplesmente não reage a ela.

É como se a serotonina estivesse muito baixa!!

Os tratamentos preventivos baseados unicamente em remédios imitadores da serotonina são tratamentos simplistas, que agem sobre um organismo cheio de serotonina com a única função de "gritar mais alto" para os receptores já meio surdos. Pela mesma razão os seus efeitos benéfico são apenas temporários. A melhora se dá até os receptores se tornarem ainda mais resistentes.

É extremamente comum em pacientes em tratamento com esses remédios precisarem de aumento progressivos nas doses com o passar do tempo. Esses remédios podem e até devem ser usados em alguns casos, mas nunca isoladamente e muito menos por um longo período.

O tratamento da enxaqueca deve envolver uma ação conjunta de mudanças de hábito alimentar, de sono, equilíbrio hormonal, atividade física adequada e, por último, remédios preventivos e para crise. São estas ações, em conjunto que abaixam a serotonina das pessoas e, com o tempo, resultam na reativação natural dos receptores. Os remédios meramente aliviam os sintomas durante este período.

 http://www.enxaqueca.com.br/enxaqueca/enx_perg_serotonina.htm

A Dor Atual | A dor relatada de maneira simples e didática

http://adoratual.wordpress.com/page/2/

13 de fev. de 2011

Enxaqueca, dicas sobre a dor.

Rating:★★★
Category:Other
1- Analgésicos resolvem o problema?

Esse é um dos erros mais comuns –e perigosos– em relação à enxaqueca. Freqüentemente, os pacientes se automedicam com esses remédios, tomando doses progressivamente mais altas.
O problema é que o abuso de analgésicos contribui para cronificar as dores. Além disso, nem sempre eles dão conta de acabar com uma crise de enxaqueca. Existem medicamentos específicos para o problema que, apesar de também agravarem as crises quando em excesso, são mais eficazes.

A Sociedade Brasileira de Cefaléia recomenda o uso de, no máximo, dois comprimidos por semana (dez por mês) de qualquer remédio para cortar a dor de cabeça. Menos de três meses seguidos de abuso já são suficientes para cronificar as dores.

2- Enxaqueca é sinônimo de dor de cabeça?

A Sociedade Internacional de Cefaléia reconhece mais de 200 modalidades de dor de cabeça (também conhecida como cefaléia). A enxaqueca, ou migrânea, é uma delas. Nesse caso, a dor costuma ser latejante e, em 60% das pessoas, localizar-se em só um dos lados do crânio. Muitas vezes, vem acompanhada por náuseas, vômitos e sensibilidade a luz, ruídos e cheiros fortes.

Em geral, a crise dura de quatro a 72 horas, quando não tratada. Há ainda crises de enxaqueca sem dor de cabeça, quando o paciente tem apenas a aura (veja no próximo item).

3- Quem tem enxaqueca enxerga pontos brilhantes e luzes?

Apenas um em cada cinco pacientes com enxaqueca apresenta a aura, fenômeno neurológico que faz com que a pessoa enxergue manchas e luzes, fique com os dedos ou os lábios dormentes ou com alterações na fala e nos movimentos, entre outros sintomas. Ela aparece minutos ou poucas horas antes das crises e costuma durar menos de uma hora.

Mesmo sem apresentar aura, algumas pessoas conseguem perceber que terão crise com uma antecedência de até 24 horas. Bocejos constantes, dificuldade de raciocínio e grande necessidade de comer doces são alguns sinais.

4- É preciso fazer exames para diagnosticar?

Solicitados freqüentemente a pacientes com suspeita de enxaqueca, exames como tomografia, raio-X e ressonância magnética não detectam o problema.

Eles apenas servem para afastar a possibilidade de outras doenças, como tumores. Na maior parte das vezes, não são necessários. O diagnóstico da enxaqueca é clínico, feito no consultório a partir do histórico do paciente e de testes neurológicos.

Apenas exames mais sofisticados, como o pet scan, permitem observar os lugares no cérebro que são ativados na hora da crise de dor, mas são usados somente em pesquisas científicas.

5- É uma doença inofensiva?

Apesar de ser considerada uma doença benigna, que raramente gera complicações sérias, a enxaqueca compromete muito a vida do paciente.

Além de ficarem menos produtivos e de faltarem ao trabalho e a eventos sociais na hora das crises, muitos sofredores de enxaqueca acabam perdendo oportunidades sociais e profissionais por receio de que a dor apareça.

As complicações graves da enxaqueca são raras, mas podem ocorrer. Mulheres que têm aura muito prolongada correm mais risco de ter o chamado infarto migranoso, principalmente se forem fumantes e usarem pílula anticoncepcional.

6- Quem tem enxaqueca não pode comer chocolate, queijo e vinho?

Só um quarto dos portadores de enxaqueca tem crises relacionadas a alimentos. Estresse e ansiedade são gatilhos bem mais comuns. No caso de haver relação com a dieta, os culpados variam entre os pacientes e podem causar crises apenas em alguns momentos. Frituras, chocolate, queijos amarelos, embutidos, vinho tinto e cerveja são algumas das comidas e bebidas que mais influenciam.

Assim como o abuso de analgésicos, a cafeína presente em alimentos como café e refrigerantes de cola pode cronificar a enxaqueca. Estudos recomendam o limite de 250 mg de cafeína por dia (o equivalente a três xícaras de café).

Jejum prolongado, sol forte, odores pronunciados e mudanças de temperatura e de umidade do ar também são gatilhos comuns. Vilão para muitas outras doenças, o cigarro, nesse caso, não influi. Nas mulheres, é muito freqüente que as dores venham associadas ao período menstrual (antes, durante ou logo depois). Também há crises que não são desencadeadas por nenhum gatilho.

7- Comer muita fruta faz bem?

Nem sempre. Certas frutas, como as cítricas (laranja, limão, abacaxi) e a banana (principalmente a banana d’água), têm substâncias que desencadeiam crises de enxaqueca em algumas pessoas.

8- Problemas de vista causam enxaqueca?

Quase todo mundo que começa a ter dores de cabeça desconfia de que precisa usar óculos ou trocar a lente porque o grau aumentou. Segundo os especialistas. miopia, hipermetropia e presbiopia não são causas de dor de cabeça. Só astigmatismos muito graves em crianças causam cefaléia, e mesmo assim não é enxaqueca.

9- Sinusite causa enxaqueca?

Essa confusão é muito freqüente. Na verdade, as sinusites crônicas não causam dor de cabeça. As agudas sim, mas não têm característica de enxaqueca. Como a própria enxaqueca pode causar congestão nasal, a confusão aumenta. Um estudo americano mostrou que 90% das pessoas que se autodiagnosticavam como tendo dores de cabeça decorrentes de sinusite na verdade tinham enxaqueca.

10- Problemas na ATM causa enxaqueca?

As disfunções na ATM (articulação temporomandibular) podem ser causa de dor, geralmente localizada na região da própria articulação e relacionada ao uso (comer algo duro, falar muito, bocejar). Eventualmente, causa dor de cabeça, mas sem característica de enxaqueca.

11- É uma doença de adulto?

Entre 4% e 8% das crianças têm enxaqueca. A doença é uma grande causa de faltas à escola, e as queixas são confundidas por muitos pais com golpes para não ir à aula. As dores podem começar por volta dos cinco anos de idade e, em aproximadamente 40% dos casos, acabam espontaneamente na puberdade.

As crises de dor nessa etapa da vida duram menos (de 30 minutos a duas horas) e podem ser aliviadas com tratamento específico. Apesar de, na fase adulta, a enxaqueca afetar três vezes mais as mulheres, na infância ela é ligeiramente mais freqüente nos meninos.

12- Tem a ver com o fígado e com o estômago?

Como muita gente tem náusea e vômitos nas crises de enxaqueca, é comum que associem o problema ao estômago e ao fígado. Na verdade, esses incômodos ocorrem como parte do próprio processo químico da dor, que faz com que o estômago se dilate e fique paralisado, causando sensação de indigestão e enjôo.

Mesmo o fato de certos alimentos desencadearem episódios de enxaqueca em
algumas pessoas não tem a ver com a digestão. Na verdade, eles possuem certas substâncias (como tiramina e nitritos) que agem diretamente no cérebro de quem sofre de enxaqueca.

13- Atividades físicas ajudam?

Nem sempre. A prática de atividades físicas, principalmente aeróbicas, costuma diminuir a freqüência das crises. Mas há pacientes que apresentam um tipo de enxaqueca cujas dores são desencadeadas com a prática de atividades físicas. Alem disso, na hora da crise, os exercícios físicos costumam piorar brutalmente a dor.

14- Passa com a menopausa?

Para muitas pacientes, a chegada da menopausa traz alívio. Mas, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaléia, apenas 30% das mulheres apresentam melhora significativa nessa fase. Isso ocorre principalmente com aquelas que têm enxaqueca perto do período menstrual.

15- Há alimentos que ajudam a melhorar a enxaqueca?

Muito se fala em dietas que ajudam a melhorar a enxaqueca, mas, segundo os especialistas consultados, elas não têm fundamento científico. O magnésio (encontrado em alimentos verdes frescos e frutos do mar) e um aminoácido chamado triptofano (presente em verduras frescas e no feijão) até podem ajudar, mas, nas quantidades presentes na comida, têm importância limitada. Quando as dores são desencadeadas por certos alimentos, evitá-los ajuda a diminuir as crises.

16- Não tem tratamento?

Ainda não há cura, mas hoje existem tratamentos que diminuem muito ou até acabam com as crises. Além dos medicamentos que são tomados na hora da dor, quem tem mais de três crises por mês ou sente dor muito forte, ainda que de vez em quando, pode ter de passar por tratamento preventivo com remédios.

Na crise de enxaqueca, por exemplo, a irrigação sangüínea periférica diminui, deixando os dedos das mãos e dos pés mais frios. Os pacientes aprendem a identificar esse sinal e a controlá-lo, fazendo com que o sangue, indiretamente, flua melhor no cérebro, o que traz alívio.

Uma pesquisa feita recentemente na USP (Universidade de São Paulo) comparou a eficácia do método em dois grupos de 30 pacientes de enxaqueca cada um. Enquanto um tomou remédios preventivos, o outro fez dez sessões de biofeedback. A melhora relatada pelos dois grupos foi semelhante. Em relação à intensidade da dor, quem usou o método disse que diminuiu, em média, 30%, enquanto no primeiro grupo a redução foi de 11%.

A toxina botulínica também está sendo testada como uma opção para quem não reage a outros tratamentos, mas o custo-benefício ainda é discutido.

17- Tem que tomar remédio por toda a vida?

Apesar de a enxaqueca ser uma doença crônica, como a hipertensão arterial e o diabetes, a medicação preventiva costuma ser retirada após oito a 12 meses de uso se o paciente estiver bem. Se as crises voltarem, pode ser necessário tomar os remédios por mais um período.

18- Acupuntura resolve o problema?

Os estudos são controversos. Enquanto alguns mostram bons resultados, outros não provam a eficácia para essa doença. Oficialmente, o poder terapêutico da acupuntura para enxaqueca não está confirmado no meio científico, mas o que médicos e pacientes relatam é que, na prática, muitas pessoas se beneficiam do método.

Além de acabar com a dor –muitas vezes de forma imediata– na hora das crises, a técnica é muito usada para preveni-las, seja isoladamente ou em conjunto com medicamentos. Antes de se submeter às agulhas, é importante ter um diagnóstico preciso do problema, afastando outras causas mais graves.

19- Dormir muito ajuda a melhorar?

Em muitas pessoas, a privação de sono desencadeia dores de cabeça. Mas dormir mais do que se está acostumado também é um gatilho para as crises. Um caso relativamente comum é a chamada “enxaqueca de fim de semana”, na qual o paciente só sente dores no sábado e no domingo –quase sempre porque dorme muito mais tempo do que o habitual. O segredo, portanto, é ter um ritmo de sono regulado.

20- Tomar remédio logo antes de comer um alimento que provoca crise resolve?

Pode até aliviar a dor no momento. Mas é um procedimento de risco que não deve ser feito rotineiramente, já que induz ao abuso de medicamentos, contribuindo para a cronificação da dor



http://foz9.wordpress.com/2009/10/19/20-dicas-sobre-enxaqueca/

26 de fev. de 2010

Dor e suas Conseqüências Práticas

http://www.praticahospitalar.com.br/pratica%2035/paginas/materia%2003-35.html
INTRODUÇÃO: MAGNITUDE DO PROBLEMA

Desde os primórdios da medicina tenta-se tratar o mais freqüente dos sintomas: a dor. Esta é uma condição cotidiana, que expressa o sofrimento humano nas suas mais variadas formas. Durante as últimas duas décadas tem-se evidenciado, de modo sistemático, que o seu entendimento e controle pode ajudar a humanizar o atendimento, bem como a melhorar os resultados em grande parte das abordagens terapêuticas – em especial, na cirurgia, no câncer e nas patologias mioarticulares.(1) Na maioria das vezes, a dor está associada a grande número de doenças conhecidas e, com freqüência, é causa de seqüelas psíquicas e somáticas.(2)

Em estudo epidemiológico extenso sobre prevalência de sintomas na comunidade, a dor foi a segunda queixa mais freqüente entre as 38 pesquisadas, ficando atrás somente das queixas menstruais e, na maioria das vezes, mostrou ser o fator desencadeante de procura do serviço médico.(3)

No entanto, o que se tem observado é que a dor não é tida como um problema a ser combatido com medidas específicas e efetivas, a despeito dos avanços científicos, o tratamento da maioria dos pacientes continua inadequado,(4) apesar de semelhante postura já ter sido reiteradas vezes considerada inaceitável – tanto do ponto de vista científico quanto ético – pelos mais diversos comitês e conselhos de saúde.(5) A incidência de dor em pacientes internados ainda é alta, de 30% a 50% de dor moderada até intensa nas publicações recentes.(6,7) Note-se que os principais problemas apontados relacionam-se à falha na formação do médico e na abordagem do problema por esse profissional.(1,8,9)

Mesmo com os progressos obtidos no controle da dor, a defasagem, no Brasil, ainda é significativa, em particular por tratar-se de problema complexo, que envolve soluções multidisciplinares. A falta de tradição na área de saúde para o trabalho em equipe e a resistência em mudar têm gerado dificuldades em se propor e organizar serviços intra-institucionais, que envolvam várias especialidades com estruturas e objetivos únicos.(10)

Mesmo em países desenvolvidos, a mudança constitui um desafio, havendo relatos de que só 42% dos hospitais contam com clínica de dor e programas multidisciplinares, apesar de os resultados demonstrarem inequivocamente o significativo benefício aos pacientes e a redução de custos para as instituições que implementaram esses serviços.(1,11,12)

Em nosso país, muito pouco tem sido feito por parte das instituições de ensino, do governo e da saúde suplementar no sentido de minimizar esse problema. Observe-se que poucas escolas médicas têm disciplinas no currículo que abordem o assunto com a relevância merecida. Acresce-se a isso que se tem ainda um dos mais baixos índices de utilização per capita de opióide,(13) ao passo que o número de profissionais médicos habilitados junto à Vigilância Sanitária para prescrevê-los é baixo (< 2% do número total de médicos).(14)

Os serviços de dor restringem-se a poucos hospitais universitários, onde, em geral, são organizados por iniciativas pessoais ou de alguns profissionais interessados no assunto, em sua maioria com o objetivo de tratar a dor crônica. Esses dados podem indicar um baixo nível de preocupação dos agentes de saúde em tornar efetivo o controle do sofrimento dos pacientes, o que expressa, por conseguinte, o caminho oposto a todos os esforços que se têm feito no sentido de humanizar o atendimento.(15)

IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DA DOR

O controle da dor, que se restringiu, no passado, a um dos cuidados oferecidos ao paciente com câncer terminal, para a boa prática médica, hoje deve fazer parte obrigatória dos cuidados prestados a todos os pacientes.

Recentemente – julho de 2002 – a Joint Commission on Accreditation of Health Care Organization (JCAHCO) incluiu o controle da dor como um dos oito parâmetros a serem avaliados para se julgar a qualidade no atendimento hospitalar, o que reforça a importância do tema e a necessidade de melhoria da abordagem por parte dos profissionais de saúde.(16)

Em levantamento da OMS realizado nos dez países desenvolvidos que mais consomem opióides – principalmente a morfina – verificou-se, a partir de registros consistentes, que estes foram utilizados em até 90% das vezes para alívio da dor causada por doença não-neoplásica e que houve aumento significativo do consumo no período de 1976 a 1992, mostrando variação desse incremento de 198% a 3.318% por país. Esse fenômeno aconteceu porque os estudos desenvolvidos na área de dor têm demonstrado que todo quadro de dor, se não for prevenido quando possível, ou tratado precocemente, pode levar ao aumento significativo da morbidade e mortalidade dos pacientes em todas as especialidades pesquisadas.(17)

As principais conseqüências da dor são: modificações do comportamento, o que gera ansiedade, angústia e depressão; hipertensão e taquicardia, com a elevação do risco de eventos nos pacientes cardiopatas; complicações respiratórias, em especial, nas patologias toracoabdominais; e incapacitação osteomioarticular progressiva.(18)

O desafio é fazer com que o controle da dor faça parte prioritária dos cuidados oferecidos à totalidade dos pacientes em todos os níveis de atenção, não só por especialistas, mas, principalmente, por clínicos, cirurgiões e médicos de família. O treinamento específico para atuar de forma segura e efetiva, tanto na prevenção como no tratamento da dor, poderá evitar o sofrimento de muitos pacientes, os quais, às vezes, por falta de medidas profiláticas de baixo custo, desenvolvem dor crônica com intensa morbidade, o que piora a qualidade de vida e acarreta elevado custo para o sistema de saúde.(19)

Melhorar a qualidade dos serviços na área de saúde envolve entender o caráter subjetivo da dor, como uma experiência ampla que abrange mecanismos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, dependente das características de cada indivíduo.(20)

Dessa forma urge a mudança da filosofia de atendimento – hoje focado exclusivamente nas medidas de controle da doença (etiológicas: modelo biomédico) – para uma visão baseada no cuidado integral ao paciente, com a instituição de uma abordagem em que haja preocupação com a integridade física e mental durante o processo no qual a ação médica se desenvolverá (modelo biopsicossocial). O estudo e o controle da dor podem ajudar nessa mudança de atitude, indispensável para se atingir os padrões de qualidade exigidos para a boa prática médica.(21)

PROGRESSOS NA TEORIA DA DOR

Melzack, em Gate-Control Theory of Pain, defende que os processos psicológicos influenciam na percepção da dor, ao agirem no mecanismo de comporta espinhal, pelo que “algumas dessas atividades psicológicas devem abrir a comporta e outras fecham”.(22) Essa teoria refere-se ao sistema nervoso central (SNC) apenas como modulador, não abrangendo as mudanças, a longo prazo, que podem ocorrer no SNC em resposta ao estímulo nociceptivo.

Estudos fisiológicos e comportamentais mostraram que a neuroplasticidade (capacidade neuronal de gerar mudanças na condução de estímulos) desempenha papel fundamental no processo doloroso, na transmissão, na modulação, na memória e na correlação com outras funções, além de que isso ocorre nas vias centrais e periféricas nos estados de dor persistente.(23)

Algumas situações clínicas de pacientes com dor deixam claro que o encéfalo tem a faculdade de gerar dor na ausência de impulsos periféricos dos nociceptores ou da medula espinhal, como por exemplo a dor do membro fantasma e a fibromialgia.(24)

A existência de vários tipos de dor é possível de ser compreendida como variabilidade individual na identificação da nocicepção, da percepção dolorosa, do sofrimento e do comportamento doloroso.(25) Portanto, respostas afetivas e emocionais podem estar junto às características sensoriais do estímulo, ao passo que aspectos psicológicos e sensoriais da dor estão interligados através de vias nervosas.(26)

A via espinotalâmica, já bem estabelecida, cumpre importante papel no aspecto sensorial e discriminativo da dor, pois as informações ascendem via tálamo para o córtex sensorial primário, porém só uma proporção de fibras dos neurônios do corno posterior da medula (lâmina I) ascende por ela;(27) a outra segue a via trato espinoparabraquial para o tronco cerebral; esses neurônios têm papel na integração do processo nociceptivo sensorial e visceral, na regulação autonômica e homeostática, o que pode gerar reações afetivo-emocionais (medo e agressividade), motivacional-comportamental (fuga e imobilidade) e neuroendócrinas autonômicas (hipertensão e taquicardia). As principais conexões desses neurônios são com o núcleo central da amígdala e do hipotálamo ventromedial, enquanto outras áreas de projeções desses neurônios regulam sistemas implicados no sono, humor, ansiedade e controle sensorial.(28)

As projeções desse trato na amígdala contribuem para um componente antagônico das emoções (medo e ansiedade) e no hipotálamo com alça da área periaquedutal cinzenta, podem estar envolvidas na produção de comportamento adverso (fúria e agressividade). Dessa forma, parece que essas áreas têm papel crítico nos aspectos emocionais e comportamentais da resposta à dor, bem como no controle dos aspectos sensoriais. Alterações nos neurônios desse trato têm sido descritas após inflamação, sugerindo que há adaptabilidade desses núcleos em resposta a alterações periféricas.(26)

No corno posterior da medula (lâmina I), onde são recebidos os estímulos periféricos de dor, dois mecanismos são de suma importância para promover o prolongamento da sensação dolorosa:

1. Wind up - produz potencialização e facilitação da capacidade neuronal de condução do estímulo nociceptivo periférico de fibras – C,

2. Sensibilização central - que ocorre pela intensificação e prolongamento do estímulo doloroso, produz mudanças na excitabilidade neuronal, como a redução do limiar de dor, e decorre de alterações estruturais na membrana neuronal e sinalização intracelular, resultando em hiperatividade neuronal; pode se associar à perda da capacidade inibitória de interneurônios medulares e, a depender da extensão do dano nas fibras nervosas periféricas, à excitotocixidade (disfunção e morte celular dos interneurônios inibitórios).

Tais processos são dependentes da ativação de receptores de N-metil-d-aspartato (NMDA), que são acionados pela liberação de glutamato nas terminações nervosas em resposta ao estímulo nociceptivo; a utilização de antagonistas pode prevenir esse quadro.(8) Esses mecanismos são responsáveis pela hiperalgia e alodinia, que se observa nos casos de dor prolongada, sintoma pouco entendido pelos médicos, principalmente nos pacientes em que a queixa de dor é muito superior ao substrato anatômico encontrado, chamada de “dor fora de proporção”.(11)

Tem-se o costume de considerar a dor como puro fenômeno perceptivo, ignorando-se o fato de que a injúria nociceptiva rompe o sistema homeostático corporal e produz estresse; quando o papel do processo de dor no estresse sistêmico é levado em conta, pela existência de vias comuns autonômicas, inicia-se um complexo programa de restauração da homeostase e essa relação pode produzir a explicação para quadros de dor ligados ao estresse crônico.(29)

Vários autores criticam a inutilidade da divisão da dor em aguda e crônica, por inferirem que esse processo é dinâmico e contínuo; em algum momento, na pessoa suscetível, é capaz de induzir rápidas mudanças neuronais (plasticidade), resultando em processamento alterado da nocicepção, (“sensação desagradável”), que pode ser o responsável pela persistência da dor em alguns casos.(30)

Melzack, no esboço de uma nova teoria, define “neuromatrix” e “neurosignature” para explicar o mecanismo da dor, coloca o funcionamento do SNC como consistindo em ampla rede de neurônios com alças que interligam córtex-tálamo e córtex-sistema límbico, definindo os centros superiores encefálicos como os principais envolvidos no comportamento dos quadros de dor,(29) o que muda completamente o referencial em relação à teoria anterior.

No contexto atual do desenvolvimento da ciência, o funcionamento psicofísico não pode ser considerado de maneira dicotomizada. O fenômeno humano que é a dor reside na existência de uma composição em que a transmissão neuronal implica representação mental imediata, demonstrada por ativação de áreas específicas do SNC, incluindo do córtex; desta forma, o acúmulo de experiências (memória) faz com que o indivíduo tenha à disposição uma gama de recursos que permitem a solução de problemas de forma muito peculiar, em cada momento de desenvolvimento da vida.(31)

Os avanços na fisiopatologia demonstram que a integração do estímulo nociceptivo com processos psicológicos e autonômicos é profunda e complexa.(20) O prolongamento do estímulo doloroso suscita também respostas de amplo espectro e em vários níveis, a persistência da dor pode gerar alterações psicoafetivas, e por compartilhar as mesmas vias, essas alterações podem ser o gatilho, que tornam o processo doloroso, algumas vezes, de difícil controle.(26) Portanto, a teoria moderna da dor reforça, mais do que nunca, que o modelo epidemiológico de atenção à saúde deve ser empregado para seu controle: prevenção, detecção precoce, tratamento efetivo e recuperação, que precisam ser colocados nessa ordem de prioridades.(32)

PROGRESSOS NA ABORDAGEM GERAL DA DOR

Nova abordagem

Os avanços no estudo da dor permitiram entender o quadro de muitos pacientes antes considerados de difícil tratamento ou mesmo intratáveis, pela intensidade e persistência das queixas. Dessa forma, há concordância entre os autores de que o principal progresso a ser obtido deve ser a mudança no comportamento dos profissionais de saúde, para introduzir, na prática, esses novos conceitos.(2)

O controle da dor precisa ser uma meta geral da abordagem médica; por conseguinte, urge que sejam feitas intervenções seguindo um algoritmo racional, em que o modelo epidemiológico seja utilizado para indicar prioridades e que a filosofia do trabalho seja fundamentada na teoria da qualidade.(33)

O primeiro passo, por exemplo, é acreditar na queixa do paciente (cliente), de que a dor é real (problema). O médico foi procurado para resolvê-la com a melhor solução (efetividade e eficácia), com o menor custo e com a maior satisfação. Assim, para se obter êxito (resultado), é necessário o “planejamento do tratamento” com base nas melhores evidências (visão epidemiológica de prioridades nas ações), no reconhecimento do plano e na aprovação do paciente (aceitabilidade), com reavaliações freqüentes do tratamento (reavaliar e, se necessário, refazer planos e metas de acordo com o caso, porém com prazos determinados para os desfechos – “tempo real”).

Para se chegar ao efeito esperado (resultado = cura ou controle da dor) é preciso estar atento e cuidar do paciente mesmo nos intervalos entre as consultas (controle do processo), pois é indispensável que se tenha certeza da qualidade dos exames, de que o tratamento está sendo empregado, da qualidade dos medicamentos e da acreditação dos outros profissionais envolvidos.

Peculiaridades no planejamento

Problemas freqüentes já detectados, que devem ser solucionados de forma compreensiva:

1. Considerar a dor “psicogênica” – é importante lembrar que este é um termo inadequado para definir dor ilusória ou factícia, o que é quadro incomum,(19) uma vez que, como foi visto, a dor sempre envolve centros encefálicos. É imprescindível que se adote, como conduta padrão, o acreditar na queixa e a utilização dos meios para o rápido controle da dor;

2. Utilizar placebo para analgesia, em especial nos pacientes ansiosos e com alta demanda de cuidados. Marques alerta que o médico não está autorizado, ética e cientificamente, a não ser em estudos controlados e aprovados por comitês de ética, a utilizar placebo quando existir tratamento comprovadamente efetivo – parágrafo 29 da declaração de Helsinque, ratificado, em outubro de 2000, na 52ª reunião da Associação Médica Mundial;(34)

3. Uso de meperidina – as características farmacocinéticas (meia-vida curta e acúmulo de metabólitos tóxicos para SNC-normeperidina), farmacodinâmicas (excitação e estimulação autonômica – taquicardia), taquifilaxia e rápida indução de dependência, podem reduzir drasticamente as chances de êxito no tratamento da dor, como por exemplo impossibilitar cirurgias nos dependentes; esse foi o motivo pelo qual se desencorajou o uso em alguns países desenvolvidos e retirada do arsenal terapêutico;(35)

4. Uso de solução analgésica endovenosa (EV) – a mistura de várias drogas pode levar à subdosagem, à inativação e à redução da biodisponibilidade; características farmacocinéticas distintas em uma mesma solução impossibilitam a titulação da dose, reduzindo a eficiência;

5. Analgesia com dose fixa e S.O.S - como o objetivo é o controle da dor, torna-se importante que o processo e o método de analgesia utilizados sejam flexíveis o bastante para proporcionar o efeito desejado em tempo real. Isto significa que o paciente deve receber analgésicos de acordo com a necessidade estabelecida pela sua demanda (queixa de dor) e não pelos horários padronizados previamente;(1)

6. Suspensão da analgesia por ausência de dor – a analgesia deve ser suspensa quando houver sinais claros de restabelecimento orgânico. Muitos pacientes utilizam esquemas analgésicos eficientes e, quando são suspensos, apresentam piora significativa da dor. Deve-se tentar sempre a retirada gradual da medicação;

7. Usar medicação adjuvante como analgésico – é comum o emprego de antidepressivos, de anticonvulsivantes, de neurolépticos e, até, de benzodiazepínicos para controle da dor. Essas drogas, quando usadas, devem ser associadas a analgésicos tradicionais, pois o seu efeito se dá pela modificação da neurotransmissão (processo demorado) ou por lentificação do potencial de ação, que raramente detém o estímulo nociceptivo.(36)

Os profissionais de saúde insistem em subestimar a dor quando comparada ao nível das queixas do paciente,(37) daí subtratá-la.(38) Subentendem que é uma experiência individual e, como tal, influenciada por experiências prévias, pela cultura, pelo prognóstico, pelas estratégias de vida, bem como por medo e ansiedade. Constatou-se que a incidência de dor ocorre por medo de efeitos colaterais, dependência, erro de dose e intervalo, falta de avaliação da variabilidade biológica e dificuldades do paciente em comunicar as suas necessidades analgésicas; dificuldades atribuídas ao ensino insuficiente do tratamento da dor para estudantes e médicos.(39)

Mensuração da dor e emprego da escada analgésica

Na avaliação deve constar o impacto da dor sobre a qualidade de vida do paciente e o que este espera com as intervenções médicas. O uso de escores para avaliação global durante o tratamento pode ajudar na avaliação da resposta; os mais usados são a escala de Karnofsky e perfomance status da OMS.(9) A mensuração da dor (5º sinal vital) é importante para que o ajuste das medicações seja feito com objetividade. Existem várias escalas, porém a mais usada é a escala visual-analógica (EVA = 0 cm, paciente sem dor; EVA = 10 cm, dor insuportável; de 1 a 9 cm, as intensidades intermediárias: leve, moderada e intensa).(1)

O controle da dor deve ser iniciado de imediato, em conjunto com as medidas propedêuticas, visando identificar a causa da dor; aplicando-se a escada analgésica da OMS(18) com três degraus (passos): no 1º, usa-se analgésico simples (dipirona 1 g, VO ou EV, de 4/4 h ou paracetamol 500 mg VO 4/4 h) + (antiinflamatório não-hormonal-AINH); no 2º, o analgésico simples + AINH + opióides fracos até a dose máxima (codeína 30 a 60 mg ou tramadol 50 a 100 mg, a cada 4 h); se ainda não houver controle da dor, segue-se para o 3º, com analgésicos simples + AINH + opióides fortes (substituem os fracos). A primeira escolha deve ser a morfina, cuja dose deve ser titulada 2 mg EV a cada dez minutos até o controle da dor.

Após esse teste, em geral usa-se a dose, para adultos, de 4 a 10 mg EV, que é fixada a cada 4/4 h; se houver necessidade, converter a dose efetiva para VO (dose VO = dose EV x 3) a cada 4 h. Pode-se iniciar com morfina VO, porém a titulação da dose é mais demorada, caso em que se começa com 10 mg VO 4/4 h e 10 mg SOS até de 1/1 h; ao final das 24 h soma-se a dose total e divide-se em seis doses diárias (4/4 h). Para exemplificar, tem-se um consumo que, em 24 h, foi de 120 mg; logo, a dose no dia subseqüente vai ser de 20 mg de 4/4 h. A efetividade deste esquema no controle da dor relacionada ao câncer é de 85% a 90% na maioria das publicações.(35)

A piora da doença ou a tolerância podem fazer com que seja necessário o aumento das doses com o passar do tempo, para se manter o controle efetivo. Os antiinflamatórios não-hormonais preferenciais são aqueles com menor potencial de produzir efeitos colaterais, como inibidores seletivos da cicloxigenase-2.(40) Pacientes de risco devem receber medicação para proteção da mucosa gástrica. É possível associar drogas adjuvantes nos degraus 2 e 3, cujas principais opções são os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina 25 mg/dia) ou anticonvulsivantes (carbamazepina 200 mg três vezes ao dia), que agem principalmente na modulação da dor. Registre-se que outros agentes adjuvantes não foram superiores a esses.(41)

A limitação da escada tem lugar pelo aparecimento de efeitos colaterais à morfina, em particular nos idosos e naqueles com estado geral muito comprometido. Os principais efeitos colaterais são: 1 - náuseas e vômitos, que podem ser controlados com uso da terapia antivômito total: antagonista do receptor 5-HT3 (ondansetrona 4 a 8 mg ou tropisetrona 2 mg) + droperidol 1,25 mg ou haloperidol 1 mg + decadron 4 a 8 mg + metoclopramida 10 mg, que deve ser utilizada nos pacientes de risco, como medida profilática, antes do opióide;(42) 2 - a constipação intestinal necessita ser prevenida com uso de dieta e laxativos, ou seja, deve-se tentar contornar os efeitos indesejáveis para manter o esquema. Várias estratégias foram descritas para facilitar o manejo dos opióides.(18,35) Outros opióides estão disponíveis no Brasil sob várias formulações, como metadona, oxicodona e fentanil, porém apenas devem ser usados na absoluta impossibilidade da morfina.(43) Os pacientes com quadros de dor persistente ou difícil controle devem ser avaliados e se necessário acompanhados por especialistas.

CONCLUSÃO

Todo o empenho é necessário para que as condutas sejam otimizadas em relação à fase do tratamento e à evolução de cada caso. Um dos pilares desse processo é a abordagem multidisciplinar, em que todos os envolvidos precisam saber os passos a serem dados, para que se possa impor efetividade à resolução dos problemas.

A analgesia compõe um grupo decisivo de cuidados com o paciente que deve unir os esforços da equipe no sentido de se obter o melhor resultado e satisfação com o tratamento empregado. Pode servir também como modelo de integração e de sofisticação dos cuidados.

Temos que cruzar uma nova fronteira na medicina, em que a equipe se responsabilize pela elaboração e aplicação do melhor cuidado oferecido durante o tratamento. Assim, as novas metas de qualidade devem ser debatidas e incluídas rapidamente às rotinas.

O principal debate que se faz hoje é sobre o papel da medicina na sociedade, em que há tantos avanços e tão pouca qualidade. O paradigma atual é o da qualidade e a questão que se coloca é como aplicar mais qualidade à medicina que praticamos.

Em nosso modo de ver, é possível melhorar a qualidade em qualquer cenário, desde que se empreguem os conhecimentos de Epidemiologia para definir os focos de atuação – os problemas mais freqüentes – e a filosofia da qualidade total para melhorar os resultados. As condições para que essa mudança se realize resumem-se na dedicação da equipe de saúde ao cuidado integral ao paciente, na responsabilidade de produzir o melhor resultado com a intervenção e no zelo com sua integridade física e mental durante o tratamento.


Dr. José Ribamar Moreno

Responsável pela Clínica de Dor do Hospital Mário Lioni de Duque de Caxias - RJ.
Mestre em Clínica Médica-Reumatologia pela UFRJ.
Anestesiologista com Título de Atuação em Dor - SBA/AMB e Membro da SBED.

3 de fev. de 2010

Cente - Síndromes Raras - enxaquecas

http://www.cente.med.br/fisiopatologia.htm

A síndrome MELAS (mitochondrial encephalomyopathy, lactie acidosis and stroke-like episodes) é causada por um ponto de mutação no gene mitocondrial que está relacionado ao RNA t no nucleotídeo 3243. Nessa condição, todas as crianças de mãe afetada têm a doença e os episódios de cefaléia do tipo enxaqueca são freqüentes, principalmente no início de seu curso mórbido;


Uma doença cerebrovascular familiar rara denominada CADASIL (cerebral autosomal dominant arteriophaty with subcortical infarcts and leucoencephalopaty )foi descrita e teve o gene localizado no cromossomo 19p12. Pacientes com essa doença têm maior chance de ter enxaqueca com aura que a população em geral.

Breve resumo da fisiopatologia da enxaqueca


Fenômenos corticais determinam a ativação trigeminal, com liberação de substâncias vasoativas das terminações perivasculares e extensão da resposta inflamatória pelas fibras do próprio trigêmeo. Condução trigeminal dos estímulos nociceptivos para centro cerebrais superiores, onde ocorre o reconhecimento da dor.





Diagnóstico

A SIC ( Sociedade Internacional de Cefaléia), em seu item 1, estabelece a seguinte classificação para enxaqueca:

G43. Migrânea *

1.1 [G43.0] Migrânea sem aura
1.2 [G43.1] Migrânea com aura
1.2.1 [G43.10] Aura típica com cefaléia migranosa
1.2.2 [G43.10] Aura típica com cefaléia não migranosa
1.2.3 [G43.104] Aura típica sem cefaléia
1.2.4 [G43.105] Migrânea hemiplégica familiar (MHF)
1.2.5 [G43.105] Migrânea hemiplégica esporádica
1.2.6 [G43.103] Migrânea do tipo basilar

1.3 [G43.82] Síndromes periódicos da infância comumente precursores de migrânea
1.3.1 [G43.82] Vômitos cíclicos
1.3.2 [G43.820] Migrânea abdominal
1.3.3 [G43.821] Vertigem paroxística benigna da infância

1.4 [G43.81] Migrânea retiniana

1.5 [G43.3] Complicações da migrânea
1.5.1 [G43.3] Migrânea crônica
1.5.2 [G43.2] Estado de mal migranoso
1.5.3 [G43.3] Aura persistente sem infarto
1.5.4 [G43.3] Infarto migranoso
1.5.5 [G43.3] +[G40.x ou G41.x]

1.Convulsões deflagradas por migrânea
1.6 [G43.83] Provável migrânea
1.6.1 [G43.83] Provável migrânea sem aura
1.6.2 [G43.83] Provável migrânea com aura
1.6.3 [G43.83] Provável migrânea crônica

1.7. Dísturbio migranoso que não preenche os critérios acima
Os critérios para migrânea sem aura são os seguintes:
a) pelo menos cinco crises preenchendo critérios de B-D;
b) crises de cefaléia durando de 4 a 72 horas;
c) a cefaléia tem no mínimo, duas das seguintes características:

1. localização unilateral;
2. qualidade pulsátil;
3. intensidade moderada ou forte;
4. agravamento por subir dregaus ou atividade física de rotina.
d) durante a cefaléia, há, no mínimo, um dos seguintes sintomas:

1. náuseas e/ou vômitos;
2. fotofobia e fonofobia.

e) a história e o exame físico não sugerem causas secundárias ou estas são afastadas pela investigação apropriada.

Defini-se aura com um ou mais sintomas neurológicos inequivocamente localizáveis no córtex ou tronco cerebral que usualmente de desenvolvem de modo gradual, em 5 a 20 minutos, e habitualmente duram menos de uma hora. A aura pode preceder, acompanhar ou suceder a migrânea. Quando durar mais de 60 minutos, é denominada aura prolongada, quando dura menos de 5 minutos, aura de instalação aguda. Os sintomas da aura mais comum são corticais, pela ordem: visuais (escotomas, moscas volantes), sentidos (parestesias), motores(paresias) e disfasia. Se os sintomas forem sugestivos de acometimento do tronco cerebral, a migrânea com aura é dita migrânea basilar( vertigens, disartria, doplopia).
As complicações da migrânea são duas: a) estado migranoso: crise em que a fase de dor de cabeça dura mais que 72 horas a despeito do tratamento, podendo ocorrer intervalos sem cefaléia de menos que 4 horas (sono não incluído); b) infarto migranoso: aplica-se esse termo quando um ou mais sintomas da aura migranosa não regridem dentro de sete dias ou haja uma confirmação de infarto isquêmico por neuroimagem.
Henry e cols., em estudo nacional na França, encontraram a seguinte distribuição de freqüência de crises: menos de 1/mês: 17%; 1/ mês: 32%; 2 a 4/mês: 40%; mais de 1/semana: 10%.Encontraram também a seguinte distribuição de duração de crises: 2 a 4 horas:25%; 6 a 12 horas: 12%; 4 a 6 horas: 19%; cerca de 1 dia: 24%; de 2 a 3 dias: 15%. Quanto à intensidade da dor, intensa ou muito intensa: 58% a 85% dos pacientes. As mulheres de maneira consistente relataram seus ataques como mais intensos que os homens; também elas costumam ter maior freqüência de crises.

Peculiaridades do diagnóstico na infância

A partir de 1994 alguns pesquisadores apontaram limitações na aplicação dos critérios em crianças e propuseram modificações. A maioria das críticas refere-se à baixa sensibilidade dos critérios da SIC para a migrânea na infância, apesar da unanimidade quanto à alta especificidade destes.
Outra crítica refere-se à duração dos ataques migrânea. Os critérios da SIC propõem uma duração de 4 a 72 horas, mas, para muitos autores, os ataques de migrânea na infância apresentam freqüentemente uma menor duração.

Peculiaridades no quadro clínico nos idosos

Na faixa dos 70 anos, a enxaqueca ocorre em 5% das mulheres e 2% dos homens. No entanto, apenas 2% desses casos se iniciam após os 65 anos de idade, o que deve ser sempre lembrado ao se fazer um diagnóstico inicial de enxaqueca em idosos. Fisher, em 1986, relatou que a migrânea com aura pode se transformar em ataques periódicos de déficit neurológico no idoso, sem dor associada( aura de migrânea sem cefaléia) e investigação radiológica normal, permanecendo esse, porém, como diagnóstico de exclusão.
É importante ressaltar que, apesar da melhor metodologia estatística e da uniformização do critérios diagnósticos, a migrânea continua uma condição subdiagnosticada.
Lipton e cols. relataram que cerca de 34% dos migranosos nunca consultaram um médico pela dor de cabeça. Isso se mostra, obviamente, mais dramático em um país como o nosso, no qual considerável parcela da população não tem acesso a qualquer assistência em saúde.


Fonte:

Livro: “Cefaléias Primárias: Aspectos Clínicos e Terapêuticos”.Fernando Ortiz;Edgard Raffaelli Jr e col. (2ª Edição). São Paulo: Editora Zeppelini, 2002.